Modelo usa corda à volta do pescoço em Cannes em protesto contra as execuções no Irão
O Festival de Cannes é avesso a ser usado como palco para protestos, mas a modelo iraniana-americana Mahlagha Jaberi encontrou uma forma de contornar as regras, usando a moda como arma.
Um longo vestido, com um proeminente decote e um nó de forca em torno do pescoço. A modelo iraniana-americana Mahlagha Jaberi usou a criação da designer Jila Saber como uma forma de demonstrar apoio ao movimento iraniano que começou após a morte de Mahsa Amini, a 16 de Setembro de 2022.
Mahsa Amini, de 22 anos, foi interpelada pela “polícia da moralidade” iraniana que considerou que a rapariga, que se fazia acompanhar pelo irmão e se encontrava em Teerão de visita a familiares, tinha o véu islâmico mal colocado.
Amini foi detida, levada para o hospital em coma horas depois, tendo sido declarada morta ao fim de três dias — as autoridades relataram antecedentes clínicos; a família garantiu que a jovem era saudável e testemunhos citados pelo Guardian contaram que Mahsa Amini foi espancada durante a detenção. O relatório médico acabou por esclarecer que a jovem sofreu lesões graves na cabeça e uma fractura no crânio.
Desde então, os protestos aumentaram de tom no país, ao mesmo tempo que as manobras repressivas também. De acordo com a Iran Human Rights (IRH), pelo menos 296 pessoas foram executadas desde o início do ano.
“Quisemos fazer uma declaração de moda para observar o glamour de Cannes, mas, mais importante, para chamar a atenção dos meios de comunicação social para as execuções injustas do povo iraniano. Infelizmente, as declarações políticas não são permitidas no festival de cinema e a segurança impediu-me de mostrar as costas do meu vestido [onde se lia “Stop executions”], mas o significado do 'laço' foi bem compreendido”, explicou Mahlagha Jaberi no Instagram.
Mahlagha Jaberi é uma das modelos mais conhecidas de ascendência iraniana, apesar de ter deixado o país há mais de uma década, residindo actualmente em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos. E não é a primeira celebridade iraniana a usar a sua posição para condenar o que se passa no país natal.
A jogadora de xadrez iraniana Sara Khadem, por exemplo, encontrou refúgio na Europa depois de ter competido no Cazaquistão sem usar hijab em sinal de protesto, o que lhe valeu várias ameaças. Já a alpinista Elnaz Rekabi, que competiu sem hijab na Coreia do Sul, desapareceu pouco tempo depois de ter regressado ao país e o regime demoliu a casa da sua família.