Ministra e juiz apanhados na burla “Olá mãe/Olá pai”

A ministra da Agricultura e o ex-presidente do Tribunal Constitucional confirmaram à revista Visão terem sido vítimas da burla “Olá mãe/Olá pai”, que tem circulado por WhatsApp.

Foto
Tudo começa com uma mensagem através do WhatsApp em que um filho/filha se dirige ao progenitor por "Olá mãe" ou "Olá pai" — nome que acabou por ser usado para designar a burla. EPA/RITCHIE B. TONGO
Ouça este artigo
--:--
--:--

A burla já vinha a fazer o seu caminho muito antes da data do primeiro alerta da PSP, em Outubro de 2022, mas sete meses depois, o esquema "Olá mãe/Olá pai" continua a fazer vítimas. Maria do Céu Antunes e João Caupers, ministra da Agricultura e da Alimentação e ex-presidente do Tribunal Constitucional, respectivamente, receberam o pedido de dinheiro que normalmente chega através de mensagem por WhatsApp. Um chegou a efectivar a transferência bancária, outro não. A história foi avançada pela revista Visão nesta quinta-feira, à qual ambos confirmaram o caso.

Tudo começa com uma mensagem através do WhatsApp em que um filho/filha se dirige ao progenitor por "Olá mãe" ou "Olá pai" — nome que acabou por ser usado para designar a burla. De seguida, o burlão explica que houve um problema com o seu telemóvel (perdeu-se ou estragou-se) e está a ligar de um número desconhecido porque precisa urgentemente de dinheiro para comprar um novo. A quantia indicada deve ser enviada por MB Way para o número daquela mensagem. Foi este último detalhe que "salvou" João Caupers.

O ex-presidente do Tribunal Constitucional explicou à Visão que não tinha a aplicação MBWay instalada no telemóvel, razão pela qual não enviar o dinheiro. “Quando realizei a transferência para esse IBAN, o banco bloqueou-a”, contou Caupers. No caso da ministra Maria do Céu Antunes, que tem duas filhas, chegou mesmo a ser transferida uma verba de valor desconhecido. “Confirmamos a situação de fraude e confirmamos que foi apresentada queixa-crime junto das autoridades competentes. Mais questões sobre este assunto pertencem à esfera privada da senhora ministra da Agricultura e da Alimentação”, respondeu à revista o gabinete da governante.

Foto

Embora já tenha havido detenções em Portugal, em Março, o inspector-chefe da Polícia Judiciária, Paulo Gonçalves, revelou à CNN que a burla “Olá mãe/Olá pai” tem tido um "crescimento exponencial". Entre Setembro em Dezembro de 2022 foram registadas 393 queixas, mas só no primeiro mês e meio deste ano o número subiu para 435.

"A partir de Janeiro de 2023 e até meados de Fevereiro, temos 435 queixas. Isto significa que comparativamente a quatro meses do ano passado temos um crescimento exponencial”, disse Paulo Gonçalves, que coordena a Secção Central de Investigação da Criminalidade Informática e Tecnológica da UNC3T.

Dados mais gerais sobre burlas informáticas e nas comunicações, revelados pela PSP a 7 de Fevereiro — Dia Europeu da Internet Mais Segura —​, indicam que em 2022 foram registados 11.200 crimes, mais 20% do que em 2021 (9349). Nesse mesmo dia, Nuno Carocha, porta-voz da PSP, assumiu a preocupação daquela força policial com a burla "Olá mãe/Olá pai" e revelou dados sobre denúncias contabilizadas só por aquela instituição. "Escolhemos o tema da burla "olá pai, olá mãe" como tema central deste dia, porque tem crescido bastante. Entre Janeiro de 2022 e Janeiro de 2023 recebemos 1244 denúncias deste tipo de burla, num valor que já se aproxima de um milhão de euros. Achamos que é extremamente importante alertarmos as pessoas para a ocorrência desta burla."

Foto

Segundo a PJ, o dinheiro transferido pelas vítimas é posto rapidamente a circular e vai passando de conta para conta (carrossel de contas bancárias) com o objectivo de cobrir o seu rasto. Por essa razão, a judiciária entende que tratar-se de criminalidade organizada. “Este fenómeno criminoso tem origem em grupos profissionais e organizados, que procura enganar vítimas mais crédulas e menos atentas, utilizando métodos insistentes de convencimento e de persuasão, convencendo as vítimas a efectuar pagamentos indevidos”, admitiu o gabinete de Cibercrime da Procuradoria-Geral da República à revista.

Sugerir correcção
Ler 7 comentários