Livre quis debater as ameaças à democracia e o Chega sentiu-se atacado

O Livre quis debater a necessidade de proteger a democracia e lutar contra a extrema-direita e insultos misóginos. O Chega sentiu-se atacado e disse ser o partido mais “ameaçado” do Parlamento.

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Rui Tavares, deputado único do Livre Daniel Rocha
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Depois de António Costa acusar o deputado único do Livre de estar a deixar-se infectar pelo "vírus" do populismo, Rui Tavares quis debater esta quinta-feira, na Assembleia da República, a importância de proteger a democracia, combater a extrema-direita e parar com insultos racistas e misóginos. Mas as declarações levaram a que os ânimos se exaltassem, com a bancada parlamentar do Chega a sentir-se sob ataque.

Rui Tavares começou por recordar o dia, em 2016, em que a sede do seu partido foi cercada por "um grupo de militantes de extrema-direita ligados ao PNR [Partido Nacional Renovador]", com o objectivo de impedir a realização de um debate sobre Donald Trump (após vencer as eleições norte-americanas). Rui Tavares — cujo tema de intervenção era "O cerco à política" —​ destacou depois o papel crucial da Polícia de Segurança Pública (PSP) na manutenção da segurança e também as demonstrações de solidariedade dos outros partidos (nomeadamente do Bloco de Esquerda e do CDS).

"Soube-nos bem a solidariedade de outros partidos", admitiu, acrescentando que hoje, quando acontecem outros ataques, há o "dever" de prestar solidariedade. Rui Tavares referia-se em concreto ao cerco do Chega à sede do Partido Socialista. Foi "uma táctica corriqueira da extrema-direita" que actualmente tem representação parlamentar, classificou o deputado.

"Saber lidar com as ameaças à democracia não é uma ciência exacta... Todos ouviram o diálogo que tive com o primeiro-ministro sobre a degradação política... Ontem era dia de escrutinar o Governo. Hoje é o dia em que pedimos esclarecimentos uns aos outros", disse. E, continuando o raciocínio, apontou que os partidos têm um papel fulcral na defesa de deputados e deputadas "alvo de insultos" racistas e misóginos no Parlamento.

O Bloco de Esquerda, pela voz de Joana Mortágua, questionou o deputado único do Livre sobre se não é com base nas injustiças potenciadas pelas actuais condições de vida (como os baixos salários e a inflação) que "se abrem as portas para os populismos", referindo-se directamente às medidas aplicadas pelo Governo socialista. Já Inês Sousa Real, deputada única do PAN, focou-se na ameaça que as “forças populistas" representam, dizendo que trazem para a sociedade "uma agenda fascista que cultiva o ódio”. Mas alertou ser necessário separar a crítica ao Governo e à sua inacção das críticas feitas aos responsáveis pela destruição da democracia, aludindo ao Chega.

O deputado socialista Pedro Delgado Alves optou por reconhecer que os “riscos [à democracia] aumentam perante situações de crise”, mas apontou que o foco deve estar nos verdadeiros alvos da discriminação, como os casais homossexuais.

Foi depois destas intervenções que os ânimos se exaltaram no Parlamento, com André Ventura a pedir uma interpelação à mesa. “O que tivemos aqui hoje foi um Parlamento a atacar um partido”, começou por dizer o líder do Chega. Depois relembrou que, até hoje, “houve apenas um líder a ser apedrejado directamente à saída de um comício”, disse, referindo-se aos eventos de Janeiro de 2021.

“Não há nenhum partido nesta casa que seja tão sequestrado e tão ameaçado como o Chega é”, acrescentou Ventura. Logo depois, a bloquista Joana Mortágua mencionou o artigo da Visão, que adiantava que o "apedrejamento" tinha sido feito com recurso a uma caixa de pastilhas.

Antes da intervenção do deputado do Livre (e do momento que levou à intervenção do presidente da Assembleia da República em exercício, o social-democrata Adão Silva), a também deputada única Inês Sousa Real optou por falar sobre o ambiente e a economia circular, frisando que Portugal está muito aquém das metas estabelecidas.

"O Eurostat publicou hoje os objectivos do desenvolvimento sustentável e, uma vez mais, falhámos [em cumpri-los]. Proteger e prevenir não devem ser meras bandeiras eleitorais", apontou a deputada. Inês Sousa Real acrescentou ainda que o partido "vai dar entrada a propostas sobre o problema de resíduos urbanos", uma vez que a média de resíduos gerados por Portugal superou a média da União Europeia. O PAN espera "vontade política dos partidos" para acompanhar as iniciativas.

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