Milícias da oposição russa reivindicam ataques na zona fronteiriça

Moscovo garante ter “esmagado” a incursão em território russo, mas combatentes dizem que ela ainda decorre e destina-se a “libertar” localidades do Governo de Vladimir Putin.

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Membros do Corpo de Voluntários Russos e a Legião Rússia Livre, em Graivoron Reuters/RUSSIAN VOLUNTEER CORPS
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Duas milícias que se dizem opositoras à actual situação política da Rússia reivindicaram uma incursão armada na região fronteiriça russa de Belgorod que começou na segunda-feira e continuou nesta terça. Houve vários ataques com drones e tiros de artilharia, pelo menos nove localidades foram evacuadas, o governo regional lançou uma operação “antiterrorismo” e o Kremlin admitiu “uma profunda preocupação” com os acontecimentos.

O Corpo de Voluntários Russos e a Legião Rússia Livre anunciaram na segunda-feira nos seus canais de Telegram que tinham “libertado completamente” a aldeia de Kozinka, que fica do outro lado da fronteira com o Nordeste da Ucrânia. Os combatentes, em número desconhecido, prosseguiram então para outra localidade, Graivoron, onde se terá dado um recontro com as forças de segurança russas.

“Somos russos tal como vocês. Somos pessoas como vocês. Queremos que os nossos filhos cresçam em paz e sejam livres, para que possam viajar, estudar e simplesmente ser felizes num país livre”, declarou um membro da Legião Rússia Livre num vídeo divulgado pela milícia.

Ilia Ponomarev, um antigo deputado russo que votou contra a anexação da Crimeia e é o líder político da Legião, disse ao The New York Times que a milícia deteve uma dúzia de agentes fronteiriços russos. Segundo ele, os objectivos desta operação eram “libertar uma parte do território russo”, demonstrar a incapacidade do Governo de Putin em defender a fronteira e obrigar a liderança militar russa a desviar homens da Ucrânia.

“Acho que agora têm de reconsiderar e colocar mais forças ao longo da fronteira ucraniana”, disse Ponomarev.

Outro representante da Legião, Alexei Baranovski, explicou ao Le Monde que a operação conjunta com o Corpo de Voluntários Russos nasceu de “um acordo de fraternidade” entre ambas as organizações, unidas “pelo seu objectivo comum de derrubar o regime de Putin”. Baranovski sublinhou, no entanto, que cada uma “tem a sua visão ideológica própria sobre o futuro da Rússia”.

O Corpo de Voluntários Russos é liderado por Denis Nikitin, um antigo praticante de artes marciais e militante de extrema-direita, que desde Março tem feito vários ataques em território russo junto à fronteira com a Ucrânia. Christopher Miller, o correspondente do Financial Times em Kiev, diz ter falado com Nikitin ao telefone e que este lhe garantiu que a operação em Belgorod “ainda continuava”.

O Ministério russo da Defesa, pelo contrário, garantiu ao início da tarde que tinha “esmagado” a incursão. “No âmbito da operação antiterrorismo, com o apoio de ataques da aviação e da artilharia e da acção das unidades de defesa das fronteiras da zona militar ocidental, as formações nacionalistas foram neutralizadas e esmagadas”, afirmou o porta-voz ministerial, Igor Konashenkov, acrescentando que 70 combatentes foram mortos em território russo e que os restantes foram empurrados de regresso à Ucrânia, onde se deu “a sua eliminação completa”.

O regime jurídico que legitimou a operação antiterrorismo foi levantado a meio da tarde e o governador de Belgorod, Viacheslav Gladkov, afirmou que “um civil da aldeia de Kozinka morreu às mãos das Forças Armadas da Ucrânia”.

As lideranças política e militar ucranianas negaram estar directamente envolvidas nestas movimentações, mas uma fonte dos serviços secretos militares disse ao Financial Times que o Governo teve conhecimento prévio de que elas estavam em preparação. Aliás, ambas as milícias operam na Ucrânia no quadro da Legião Internacional, que é comandada por militares ucranianos.

Ainda assim, a vice-ministra da Defesa ucraniana pôs esta incursão exclusivamente no plano interno da Rússia. “Estas são tendências russas ditadas pelo desejo dos cidadãos em mudar o sistema político do país e pôr fim à guerra sangrenta que o Kremlin lançou”, disse Hanna Maliar.

No Kremlin, o porta-voz presidencial declarou que os acontecimentos em Belgorod causaram “profunda preocupação” e exigiram “um grande esforço” das autoridades. Dmitri Peskov disse que a incursão em território russo “confirma mais uma vez que os combatentes ucranianos continuam as suas actividades contra o país”.

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