Jornada da Juventude fará cumprir o projecto de Costa para Loures 30 anos depois
Primeiro-ministro assinalou os 25 anos da Expo-98 com visita ao espaço da JMJ. Criticou os que “vivem a ansiedade do dia-a-dia” e elogiou a visão de Pedro Nuno Santos por ajudar a escolher o local.
António Costa chegou ao espaço terraplenado do talhão B2 do recinto da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) sob um céu cinza a prometer chuva, avisando Ricardo Leão, o presidente da Câmara de Loures, que lhe trazia uma “prenda” para o compensar do atraso de meia hora em que estivera a encher-se de pó.
Depois de ouvir explicações sobre a ponte de madeira do arquitecto António Braga que vai ligar o espaço do aterro de Beirolas à zona nascente da JMJ, já no concelho de Loures, Costa caminhava pelo caminho de terra batida, quando tirou uma folha A3 do bolso e a desdobrou. Era um plano dos principais projectos com que prometia transformar o concelho de Loures, quando se candidatou à câmara municipal em 1993, e que incluía aquilo que então projectava como a plataforma ribeirinha da Bobadela. Mas perdeu para Demétrio Alves (CDU) e esses planos ficaram pelo caminho.
Agora, a Jornada Mundial da Juventude vai tornar possível esse projecto de António Costa com três décadas: depois do evento religioso, os 65 hectares entre o rio Trancão e a zona da triagem da incineradora de São João da Talha, que correspondem a essa mesma plataforma ribeirinha da Bobadela, vão ser transformados num novo parque verde urbano de Loures, com uso desportivo e de lazer.
De todo o investimento em infra-estruturas que está a ser feito (fornecimento de água e luz, recolha de águas pluviais) para o evento da primeira semana de Agosto, cerca de 70% vai ficar no pós-jornada, assinalou Sá Fernandes, o representante do Governo no projecto da JMJ.
“Ó António, tu não estás bem a ver o que isto era!...”, começou a dizer Sá Fernandes. “Ele sabe, então não sabe?”, replica logo Ricardo Leão. Foi quando Costa sacou do seu papel com 30 anos e foi contando que, dos seus principais projectos, até há pouco tempo “os que faltavam [concretizar no concelho de Loures] eram o metro e a zona ribeirinha da Bobadela”. As estradas principais estão feitas, o PRR está a financiar o metro e agora a JMJ possibilita o último.
Foi com essa sensação de quase dever cumprido que António Costa quis marcar os 25 anos sobre a abertura da Expo-98, que se assinalaram nesta segunda-feira, com “um projecto que dê continuidade ao que se celebra”. A recuperação da zona ribeirinha da Bobadela é uma “dívida que ficou por pagar com Loures” desde a Expo-98, contou António Costa, lembrando que a construção da incineradora de São João da Talha foi aprovada pela população na condição de ser encerrado o aterro de Beirolas (que deu origem ao parque do Tejo e do Trancão na Expo) e de ser entregue à Câmara de Loures a frente ribeirinha para se fazer um parque na freguesia da Bobadela.
“O tempo passou, mas efectivamente não aconteceu”, lamentou. O parque de contentores saiu, a Galp desactivou e desmontou os depósitos que aqui tinha. Do outro lado do rio Trancão nasceu uma nova freguesia, a do Parque das Nações, e praticamente uma nova cidade, que se foi também ligando ao resto com a melhoria da frente rio, mas para nascente nada se fez. “A margem esquerda do Trancão ficou por tratar (...) Mas há ideias que não desaparecem e há ocasiões que surgem”, apontou Costa, que citou Pessoa.
“Deus quer, o Homem faz, a obra nasce. Deus quis que a JMJ fosse em Portugal e era a oportunidade de o Homem fazer”, afirmou António Costa, que até chamou o ex-ministro das Infra-Estruturas para o discurso: agradeceu a Pedro Nuno Santos e ao gestor António Laranjo, que presidia à empresa Infra-Estruturas de Portugal, pela decisão de retirar o terminal de contentores da Bobadela para libertar o espaço e permitir que ali se realize a JMJ.
“Muitas vezes precisamos de eventos de grandes dimensões para concentrar inspiração e vontade para mudar aquilo que é preciso mudar, mas se vai adiando”, realçou Costa, referindo-se à Expo-98 e agora à JMJ, e defendendo que “é tão importante o evento em si como o legado que deixa”.
“Para aqueles que vivem a ansiedade do dia-a-dia, é sempre bom gastar algum tempo para explicar que nada como ter a tranquilidade que a longevidade nos permite alcançar. E, quando uma pessoa tem mesmo uma ideia na cabeça e tem mesmo a persistência, aguenta 30 anos até a ver concretizada”, afirmou António Costa, deixando no ar que estaria a falar também para os sociais-democratas, como fizera antes do almoço, com críticas a Aníbal Cavaco Silva.