Platonic, a nova série com Seth Rogen, é “estranhamente original para televisão”

A amizade entre homens e mulheres na meia-idade é o tema desta comédia da Apple TV+, que flirta com a ideia de comédia romântica mas a deixa a marinar na química dos protagonistas.

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Seth Rogen e Rose Byrne em Platonic Sony/Apple Studios
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“Na televisão e no cinema é tudo sexo ou assassínios, e nós não temos nada disso”, diz Nicholas Stoller, um dos autores da comédia Platonic, que se estreia esta quarta-feira na Apple TV+. É uma série sobre a amizade na idade adulta, ou mesmo na temida “meia-idade”, e a forma como Stoller a descreve ao New York Times rima com o que Seth Rogen, o seu protagonista, diz ao PÚBLICO sobre a aparente simplicidade (mas urgente necessidade) de fazer uma temporada disto. E isto é Rogen como um hipster grisalho das cervejas artesanais (Will) e Rose Byrne como uma advogada adiada pela tripla maternidade (Sylvia) a brincarem a Um Amor Inevitável (1989) — sem se preocuparem com beijos nem sexo.

“Sou amigo das mesmas pessoas desde sempre. Conheci o meu parceiro de escrita, Evan [Goldberg], quando tínhamos 12 anos.” É este o tipo de temas que uma entrevista colectiva por vídeo com Rogen e Byrne sobre uma amizade platónica suscita. Falam dos seus casamentos, sobre serem millennialls por um triz — estão mesmo na margem final dessa geração (o actor nasceu em 1982) e sentem-se “ambos muito ligados à cultura contemporânea mas ao mesmo tempo muito desligados do que é a cultura contemporânea”. Partilham a experiência de — quem nunca? — “perceber que aquela música [que está a dar] tem 15 anos e não três”.

Quando uma série é tão despreocupada quanto Platonic, as pessoas parecem querer falar sobre as maravilhas do mundano. A comédia gira em torno de dois amigos que se afastaram e do efeito que a reaproximação provoca nas suas vidas. Tem alguns pontos de referência para situar o público, já que Rogen e Byrne fizeram dois filmes juntos em que compunham um casal, Má Vizinhança (2014) e Má Vizinhança 2 (2016), e usa Um Amor Inevitável como uma espécie de telegrama para dizer ao público que subtexto deve procurar na história de Will e Sylvia.

A série de dez episódios — de meia hora, como as sitcoms de sempre e como a mais refrescante televisão actual, tão fleumática — evoca pelo menos duas vezes o dueto memorável de Billy Cristal e Meg Ryan no filme de Rob Reiner (argumento de Nora Ephron), originalmente intitulado When Harry Met Sally. O espectador pode assim pressupor que Platonic vai mesmo ser uma comédia romântica, mas é bastante discutível se existe sequer tensão romântica, quanto mais sexual, entre Will e Sylvia. Platonic se calhar é só uma “buddy comedy” — uma comédia sobre um par de amigos que sucede serem de géneros (e vidas) diferentes.

Em resposta ao PÚBLICO, Seth Rogen tenta desatar o nó do que a série quer ser, e até por que razão é uma série e não um filme. “A ideia de trazer para a televisão uma ‘comédia de estilo cinematográfico’ adulta e para maiores de 18 foi muito entusiasmante”, diz o actor, produtor e argumentista. “E pareceu-nos que mais ninguém estava a tentar fazer algo do género”, diz, pontuando a frase com a sua gargalhada rouca inconfundível.

É que muita da comédia televisiva hoje é diferente de Platonic. Ou se continua num mundo Two Broke Girls ou se avança para Abbott Elementary, mas é no desvio de Barry, The White Lotus ou Succession que se encontram os verdadeiros cultos. “Eu adoro as comédias que estão agora no ar, muito pesadas, e que tentam transmitir um nível admirável de profundidade, mas que não é necessariamente intrínseco ao tipo de comédias que nós fizemos quando éramos mais novos e aos filmes que achávamos que diziam algo ao público”, adverte Rogen.

Dá exemplos da sua própria filmografia. “Filmes como Má Vizinhança ou Super Baldas (2007): queremos que tenham um lado emocional e ressonância, mas essencialmente tentam ser bastante acessíveis, para que o público se identifique com eles. É o que queremos fazer nesta série, e pareceu-nos estranhamente original para televisão — uma série meio leve, mas grande e divertida, meio barulhenta que tenta criar comédia de situação.”

Juntamente com o seu velho parceiro Nicholas Stoller, realizador dos filmes Má Vizinhança e co-showrunner da série, a mulher do actor, Francesca Delbanco (Friends from College, Um Belo Par de… Patins) completa o quarteto criativo. Foi aliás a ela que ocorreram as premissas da intriga, ao ver-se confrontada com a estranheza de terceiros perante as suas amizades masculinas fora do casamento.

As primeiras críticas à série, que o PÚBLICO viu na íntegra, são bem positivas. Além da dupla protagonista, Platonic conta com Luke MacFarlane, Carla Gallo ou Tre Hale, pontos de apoio importantes para a história mas que ficam um pouco pendurados na órbita da divertida relação entre Seth Rogen e Rose Byrne. Há drogas, cervejas, mães sentenciosas e festas nestes dez episódios, três dos quais se estreiam já na quarta-feira; os restantes sete serão debitados ao ritmo de um por semana.

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