Um detective privado que trabalhava para a editora do Daily Mirror gabou-se de ter sido capaz de “obter os registos médicos da rainha”, disse na quarta-feira um agente da polícia reformado a um tribunal que julga o processo do príncipe Harry contra o jornal britânico.
Harry, o filho mais novo do rei Carlos, e mais de 100 outras pessoas estão a processar o Mirror Group Newspapers (MGN), a editora do Daily Mirror, Sunday Mirror e Sunday People, acusando os jornais de terem realizado escutas telefónicas e usado outros meios ilegais, entre 1991 e 2011, para conseguirem informações.
A MGN, que é actualmente propriedade da Reach, nega veementemente as alegações.
O antigo agente da polícia Derek Haslam disse ao Supremo Tribunal de Londres que os jornalistas do MGN pagavam regularmente a uma empresa de investigação privada, a Southern Investigations, para recolher informação de forma ilegal. A testemunha acrescentou que a Southern Investigations estava envolvida na “recolha e fornecimento de informações confidenciais que tinham sido obtidas ilegalmente, através de escutas telefónicas, pirataria informática e telefónica, suborno de agentes da polícia e (...) outras actividades ilegais”.
Haslam explicou que trabalhou para a Polícia Metropolitana de Londres antes de se infiltrar, no final dos anos 90, para recolher informações sobre o co-fundador da Southern, Jonathan Rees.
Registos médicos da rainha
Jonathan Rees, também antigo agente da polícia, “gabava-se abertamente” de ter efectuado pirataria informática e blagging — roubo de informações privadas — em nome dos jornalistas da MGN, disse Haslam ao tribunal.
No seu depoimento, Haslam disse: “Rees gostava de se gabar da informação que conseguia obter. ‘Consigo obter os registos médicos da rainha’, disse ele uma vez.”
Haslam contou ainda que Rees lhe disse que tinha “vendido algumas informações ao Mirror para uma história sobre o facto de o príncipe Michael de Kent estar em dívida com o banco”.
Os advogados que representam os queixosos afirmaram na semana passada que o Daily Mirror publicou um artigo em 1999 dizendo que o príncipe Michael, primo da falecida rainha Isabel, tinha um grande descoberto não autorizado e uma dívida de 2,5 milhões de libras ao seu banco, com base em informações obtidas ilegalmente.
O julgamento, que deverá durar cerca de sete semanas, centra-se inicialmente em alegações genéricas contra a MGN, antes de se debruçar sobre as alegações específicas de Harry e de três outros casos.
Harry deverá prestar depoimento pessoalmente no início de Junho, sendo o primeiro membro da realeza britânica a fazê-lo desde o século XIX.