Universidades resistem à mudança, mas a tecnologia vai torná-la inevitável

Nem as mais importantes do mundo parecem estar preparadas para o que aí vem. Tema marcou o V Encontro Internacional de Reitores, que decorreu na cidade de Valência, em Espanha, na semana passada.

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Ministra também participou no encontro de reitores Nuno Ferreira Santos
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“A sociedade sempre viu a Universidade como um farol que ilumina o caminho do progresso”, afirmaram conjuntamente mais de 300 responsáveis de instituições de ensino superior de todo o mundo, no final de um encontro internacional que decorreu em Espanha na semana passada. No entanto, as discussões ao longo desses dias e o texto final do evento espelham uma preocupação para lá dessa consideração benévola: para continuar a ser uma referência, num contexto de rápidas mudanças tecnológicas, as universidades vão ter que mudar. E nem as mais importantes do mundo parecem estar preparadas para isso.

Num planeta em que existem mais smartphones do que adultos, a acessibilidade à informação que a profusão da tecnologia permite implicará que o futuro do ensino superior passe por chegar a cada vez mais pessoas. A ideia foi defendida, durante o V Encontro de Reitores, promovido pela rede Universia, por Larry Summers, que foi secretário do Tesouro no Governo norte-americano, na presidência de Bill Clinton.

O papel das instituições de ensino superior, prosseguiu, terá que “tornar o conhecimento de ponta acessível em todas as aldeias” fruto das possibilidades abertas pela tecnologia. Só que isso implica mudar a própria essência das instituições, reconheceu Summers, que foi presidente da Universidade de Harvard, entre 2001 e 2006. “As universidades estão habituadas a definirem a sua grandeza não pelo número de pessoas que incluem, mas pelo número de pessoas que excluem”.

Não é só Harvard que é avessa à mudança. “Até uma universidade como Oxford não está preparada para dar as competências de que os alunos irão precisar”, reconheceu, numa outra sessão, a fundadora do Instituto para o Envelhecimento da População daquela universidade britânica, Sarah Harper.

A rapidez das mudanças tecnológicas implicará que a força de trabalho tenha que ser “adaptável”. Nesse sentido, as instituições terão que ser “flexíveis” e caminhar no sentido de um ensino “centrado nas pessoas”, propôs Harper. As universidades estão atentas a estas mudanças, admitiu a professora da Universidade de Oxford, “mas continuam como se estivéssemos no século XX”.

Se é assim nalgumas das mais prestigiadas universidades do mundo, como será em Portugal? A pergunta foi feita à ministra da Ciência e Ensino Superior, Elvira Fortunato, que também participou no encontro de reitores da semana passada.

Sem que fizesse uma análise específica do sistema de ensino superior nacional, a governante admitiu ser “evidente que as formas de ensino têm que ser alteradas”. “Nós não podemos continuar a ensinar, temos que alterar a forma como ensinamos. Temos que ter um ensino muito mais colaborativo e um ensino muito mais na pergunta e na resolução de problemas”, disse aos jornalistas, num encontro à margem do evento que aconteceu na Cidade das Artes e da Ciência de Valência. Essa mudança não pode partir só do Governo, defendeu Fortunato: “As coisas muito de cima para baixo não funcionam bem”.

A “Declaração de Valência”, assinada, no final do encontro, pelos mais de 300 dirigentes de instituições de ensino superior, de 14 países – entre os quais uma delegação nacional com cerca de 30 dirigentes – que estiveram presente na cidade espanhola, também enfatiza esta necessidade. Um dos sete compromissos assumidos passa precisamente por “integrar os desafios globais e locais nas agendas de investigação das nossas universidades; aumentar a interdisciplinaridade na investigação e promover a transferência e a ampla divulgação dos seus resultados em benefício da sociedade”.

Ao longo dos três dias do evento promovido pela rede Universia, boa parte das discussões giraram à volta da Tecnologia e dos seus impactos, não só nas universidades, mas no conjunto da sociedade. Na abertura, Tim Berners-Lee, que fundou a World Wide Web no final da década de 1980, defendeu que a ferramenta pode considerar a ser uma “coisa emocionante” e “poderosa” como era nos seus inícios, mas que para isso tem que mudar “a forma como a utilizamos”.

“O importante é que as pessoas voltem a ter controlo” sobre os conteúdos online. Para isso “em que desaparecer a ideia de que a única forma de fazer dinheiro na Web é a publicidade, considerou.

A ideia foi retomada, no painel seguinte, pela cientista Núria Oliver, ELLIS - European Laboratory for Learning and Intelligent Systems. "A sociedade não pode ser usada como cobaia", sublinhou, em referência aos vários serviços online, não apenas as redes sociais e seus impactos no tecido social, mas ferramentas mais recentes como a nova geração de inteligência artificial. Todas as indústrias, da alimentar à farmacêutica, passando pela automóvel, referiu, passam por um processo de regulação. “Por que é que isto não acontece com os serviços digitais?”.

O PÚBLICO viajou a convite do Santander

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