Tailandeses castigam militares e dão vitória categórica à oposição

Partido progressista surpreende e até suplantou o partido histórico da oposição. Forças militaristas podem, ainda assim, travar um governo de coligação através do Senado.

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Limjaroenrat, de 42 anos, está "pronto" para ser o próximo primeiro-ministro da Tailândia Reuters/ATHIT PERAWONGMETHA
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Ao fim de quase uma década de governação da Tailândia pelos militares envolvidos no golpe de 2014, os tailandeses deram um murro na mesa. As eleições deste domingo tiveram uma participação recorde, superior a 75% dos eleitores inscritos, e ofereceram a maioria dos 500 lugares da Câmara dos Representantes da Assembleia Nacional aos partidos da oposição.

E se as sondagens apontavam para uma vitória do Pheu Thai, o histórico partido reformista e liberal, controlado pela poderosa família Shinawatra, as urnas deram um resultado ainda mais revelador desse anseio por mudanças: foram os progressistas e sociais-democratas do Partido Avançar que elegeram mais deputados.

“Sou Pita Limjaroenrat, o próximo primeiro-ministro da Tailândia”, celebrou o líder do partido que sucedeu ao Partido do Futuro, de apenas 42 anos, citado pela AFP. Em declarações aos jornalistas, disse estar “pronto” para liderar uma coligação composta por partidos opositores ao regime.

Com 99% dos boletins de voto contabilizados, o Partido Avançar apontava aos 147 deputados, ao passo que o Pheu Thai, liderado por Paetongtarn Shinawatra, filha do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, estava a caminho dos 138.

O partido vencedor ganhou enorme ímpeto nos últimos tempos, particularmente à boleia das manifestações de 2020 e de 2021, em Banguecoque, em que se protestou contra a centralidade do Exército no sistema político tailandês e se exigiu uma reforma do papel da monarquia na governação do país.

Esta segunda-feira, já depois de Limjaroenrat ter anunciado que fez uma proposta de aliança entre seis partidos que, juntos, têm 309 deputados, o Avançar e o Pheu Tai anunciaram que se vão coligar para formar governo.

Na terceira posição ficou o Bhumjaithai, com previsão de eleição de 70 deputados, um partido pró-descentralização e favorável à legalização da canábis, que faz parte da actual coligação de Governo, liderada pelos partidos militaristas, mas que não exclui mudar de aliados.

Os partidos ligados ao primeiro-ministro, Prayuth Chan-ocha – o general que liderou o golpe de 2014 e a junta militar que governou a Tailândia com mão de ferro nos últimos anos – foram claramente derrotados nestas eleições.

O Partido da Nação Tailandesa Unida, de Prayuth, ficou na quinta posição, com apenas 36 deputados, enquanto o Palang Pracharath, o seu partido anterior – que era o mais representado na Assembleia – ficou-se pelo quarto posto (40 deputados).

“A maioria dos votos reflecte a necessidade de escapar ao ‘regime Prayuth’ e o anseio de mudança”, analisa Prajak Kongkirati, cientista político da Universidade de Thammasat (Banguecoque).

“Mostra que as pessoas – muito mais do que aquelas que se previa – acreditam nas exigências pedidos de mudança do Avançar”, acrescenta, citado pela BBC.

Nas mãos do Senado

Estes resultados, que ainda terão de ser confirmados ao longo das próximas semanas, não garantem, ainda assim, que a oposição tenha via livre para formar governo e afastar os militares do poder.

As regras para a eleição de um primeiro-ministro na Tailândia exigem uma votação, prevista para Agosto, na qual participam os 500 deputados e os 250 senadores da Assembleia Nacional.

Todos os senadores em funções foram, no entanto, nomeados pela junta militar que tomou o poder ao governo civil, em 2014, o que significa que a oposição precisa de pelo menos 375 membros do Parlamento para conseguir nomear o seu candidato.

Esta segunda-feira, Limjaroenrat exigiu ao Senado que “respeite” a vontade dos eleitores e que não bloqueie a candidatura de um primeiro-ministro apoiado pela maioria dos deputados da Câmara dos Representantes.

“Se alguém estiver a pensar em ignorar o resultado da eleição ou em formar um governo minoritário, terá um preço demasiado alto a pagar”, alertou.

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