Secretas contam história diferente do órgão que as fiscaliza

A presidente do Conselho de Fiscalização do SIRP, Constança Urbano de Sousa, diz que não acredita que o SIS tenha contado uma versão diferente da que a própria havia contado na terça-feira.

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Neiva da Cruz, director do SIS LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO
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Tanto o director do Serviço de Informações de Segurança (SIS), Adélio Neiva da Cruz, como a secretária-geral do Serviço de Informações da República Portuguesa (SIRP), a embaixadora Graça Mira Gomes, deixaram nesta quinta-feira uma versão diferente do que aconteceu na noite em que o SIS recuperou o computador do ex-adjunto do ministro João Galamba daquela que foi transmitida pelo Conselho de Fiscalização do SIRP (CFSIRP) na audição de terça-feira.

Primeiro foi o director do SIS e, depois, a secretária-geral do SIRP, ouvida pelos deputados da Comissão de Assuntos Constitucionais logo a seguir (e igualmente à porta fechada), confirmou a mesma versão do responsável do SIS Adélio Neiva da Cruz, apurou o PÚBLICO.

Já a presidente do Conselho de Fiscalização do SIRP, a socialista Constança Urbano de Sousa, disse ao PÚBLICO não acreditar que o SIS tenha contado uma versão diferente da que a própria havia contado na terça-feira.

Até agora era dado como certo que Eugénia Cabaço, chefe de gabinete do ministro das Infra-estruturas, teria telefonado à secretária-geral do SIRP, embaixadora Graça Mira Gomes, a reportar que um computador com informação classificada tinha sido levado do ministério. A seguir, a secretária-geral do SIRP teria contactado Adélio Neiva da Cruz, director do Serviço de Informações de Segurança (SIS), e este teria dado ordens a um operacional para ir ao encontro do ex-adjunto das Infra-estruturas recuperar o computador.

Todavia, o director do SIS e a secretária-geral do SIRP contaram outra versão dos factos que envolve mais etapas e mais pessoas no processo que decorreu na noite de 26 de Abril, apurou o PÚBLICO. Assim, segundo os dois responsáveis pela operacionalidade das secretas, uma adjunta do ministro João Galamba telefonou para a Presidência do Conselho de Ministros (PCM) a reportar o roubo de um computador com matéria classificada; posto isto, o secretário-geral da PCM ligou para o gabinete da secretária-geral do SIRP, porém, Graça Mira Gomes estava incontactável.

Foi o seu gabinete que contactou então o director do SIS — mas também Neiva da Cruz estava incontactável. O gabinete deste último contacta, em alternativa, o seu subdirector, e foi este que contactou a chefe de gabinete de Galamba (e não o contrário).

Perante a informação de que havia informação confidencial em risco, o SIS decide actuar, procurando Frederico Pinheiro. O responsável do SIS vincou perante os deputados que o processo de entrega do equipamento informático foi voluntário, como, aliás,Frederico Pinheiro tem feito questão de afirmar publicamente.

Durante a audição parlamentar, Neiva da Cruz afirmou que o SIS sempre tomou por credível a informação que vinha do gabinete ministerial de João Galamba — ou seja, sempre acreditou estar em causa matéria classificada.

Nem Neiva da Cruz nem a embaixadora Mira Gomes assumiram a versão de que houve um “roubo”, expressão usada insistentemente por António Costa. Porque, se se tratasse de um roubo, seria uma questão da competência da PSP e da PJ, não dos serviços secretos.
Na audição seguinte, Graça Mira Gomes, secretária-geral do SIRP, atestou a versão relatada pelo director do SIS.

“Não acredito”

Contactada pelo PÚBLICO, a presidente do CFSIRP, Constança Urbano de Sousa, disse que não acredita que o director do SIS tenha contado uma versão diferente daquela que a própria contara na terça-feira. “Não acredito. O que está noticiado pode não corresponder à verdade”, afirmou. “Não tenho confiança na veracidade da informação. Se [a audição] é à porta fechada, é impossível saber o que se passou”, remata.

E recusou entrar em análises: “Não vou comentar uma coisa que não sei se é verdade. Não comento notícia com base numa reunião à porta fechada em que as pessoas estão obrigadas ao dever de sigilo”, afirmou ao PÚBLICO, por telefone.

Apesar desta dissonância sobre os componentes da fita do tempo, houve duas questões em que tanto os responsáveis operacionais das secretas como os seus fiscais estiveram em sintonia.

Todos concordaram que a decisão de actuar foi do SIS perante os dados que tinha (ainda que fosse do subdirector, o responsável do serviço assumiu como se fosse sua). Também usam a mesma argumentação para justificar a intervenção: o SIS actuou porque não havia indícios de crime e existia a necessidade de recuperar informação classificada (pelo menos era essa a explicação do que estaria no computador, de acordo com a informação dada por um gabinete ministerial).

Notícia actualizada às 12h46 com a informação de que foi o gabinete de Mira Gomes a telefonar para o director do SIS.

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