Azul
Um ano de vida
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O Azul completou um ano de existência. É altura de celebrar, mas a festa é um pouco agridoce. Só existimos porque o planeta vive um contexto de urgência: a crise climática, a degradação ambiental e a perda de biodiversidade. Num mundo ideal, a criação de uma secção unicamente dedicada ao clima não seria um imperativo. Mas não vivemos nesse território perfeito. Infelizmente.
A equipa do Azul esforça-se todos os dias para retratar, explicar e questionar a realidade preocupante que nos rodeia. Mapeamos ameaças ambientais e climáticas, mas também procuramos soluções, como frisa Andrea Cunha Freitas, editora do Azul, esta quinta-feira no podcast P24. Publicámos mais de 2100 trabalhos (textos, vídeos, infografias e podcasts) desde o dia 22 de Abril de 2022. Pode espreitar aqui uma selecção dos melhores artigos que fizemos ao longo dos últimos meses, alguns deles distinguidos com prémios.
Para assinalar o primeiro aniversário do Azul, o PÚBLICO organizou uma conferência internacional, no Porto, sobre as cidades debruçadas sobre o mar. O evento começa esta quinta-feira, com workshops, e prolonga-se até sexta-feira. Pode inscrever-se gratuitamente, sendo que a participação inclui o almoço.
Também celebramos o primeiro ano de Azul com uma série de trabalhos sobre a costa portuguesa. Mapeamos fracções dos 950 quilómetros do litoral que estão ameaçadas pela erosão e pelo avanço do mar, sem esquecer que Portugal não se resume ao território continental. Rui Pedro Paiva e Rui Soares visitaram as Calhetas, na ilha de São Miguel, nos Açores, onde a falésia instável tem vindo a ser destruída pelas ondas.
Também estivemos em Esposende, Ovar, na Figueira da Foz e na Costa da Caparica. Em Esposende, a Renata Mendes e o Tiago Bernardo Lopes falaram com pescadores e viram "os barcos que só podem navegar durante um número limitado de horas por causa do assoreamento da barra". Na Figueira da Foz, a Patrícia Carvalho testemunhou areias que se acumulam a norte, "criando a maior praia urbana da Europa, e desaparecem a sul, obrigando a reposição constante de sedimentos para manter as dunas". Da Costa da Caparica, Nicolau Ferreira trouxe relatos de uma cidade que hoje nunca poderia ser ali construída, e cujo areal tem sido sistematicamente realimentado.
A Aline Flor e o Tiago Bernardo Lopes foram os primeiros a se fazer à estrada. Foram a Ovar contar a história sedimentar de uma praia que "emagreceu" dez metros. Mais uma vez, o objectivo da equipa foi falar de ameaças – neste caso, a erosão costeira –, mas também de soluções. No final desta viagem, ainda podem esperar pelas histórias que a Cristiana Faria Moreira e a Clara Barata vão trazer do litoral alentejano e do Algarve.
"Nenhuma solução é perfeita, todas têm vantagens e desvantagens. Tentámos discutir isso, sentar à mesa todas as pessoas", sublinha o investigador Carlos Coelho. Adaptação é a palavra de ordem perante não só a erosão costeira, mas também a subida do nível médio de mar. Adaptar, adaptar e adaptar.
Estas medidas implicam acções de realimentação das praias ou mecanismos de protecção, mas passam também pela nossa própria relação com o litoral. A costa portuguesa, tal como a conhecíamos, vai mudar. Temos de aceitar isso. "Não podemos segurar a linha de mar para sempre", avisava a investigadora italiana Clara Armaroli. E aceitar essa inevitabilidade não é necessariamente algo negativo: a adaptação pode trazer para a costa soluções baseadas na natureza e, com elas, novas paisagens.
As soluções baseadas na natureza são aquelas em que a vegetação, ou mecanismos naturais, constituem, eles mesmos, estrutura de protecção. Em vez de um paredão, podemos ter uma lagoa a funcionar como um "escudo" entre a linha de mar e a área construída. Isto exige, contudo, uma forma diferente de ordenamento do território. É uma opção política. Implica gerir descontentamentos, deslocar estruturas e pagar indemnizações. Tudo isso é incómodo politicamente e não se coaduna com ciclos eleitorais de quatro anos. É por isso que, sendo necessário agir, a maioria dos políticos prefere atirar mais areia ou pedras para cima do problema.
A natureza exige tempo para se regenerar. Não se restaura com facilidade um ecossistema entre dois processos eleitorais. E, se quisermos planear o futuro, como a mudança do clima exige, temos de começar já a pensar nas soluções que queremos para as zonas ameaçadas pelo avanço do mar. Podemos e devemos ter isso em conta quando elegemos os nossos representantes.
Caso contrário, continuaremos a fingir que nada mudou realimentando praias, ou emparedando a costa. É como virar a ampulheta e torcer para a areia não cair. É inútil. O tempo passa, e passa muito rápido. Ainda ontem celebrávamos o nascimento do Azul e hoje já temos um ano.