Mísseis britânicos dão à Ucrânia capacidade para ataques até 250 quilómetros de distância

Londres é o primeiro aliado de Kiev a fornecer mísseis de longo alcance, que a Ucrânia pede há vários meses. Para que a contra-ofensiva comece, ainda faltam “algumas coisas”, diz Zelensky.

Foto
Um míssil Storm Shadow em exibição na empresa que os fabrica Richard Baker/In Pictures via Getty Images
Ouça este artigo
--:--
--:--

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já


O Reino Unido decidiu fornecer mísseis de longo alcance à Ucrânia, que lhe permitirão atacar alvos até 250 quilómetros de distância. Kiev vem pedindo este armamento há meses, mas os seus parceiros ocidentais têm sido esquivos na resposta. O Governo britânico é o primeiro a avançar com uma entrega.

O ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, diz que foi o facto de a Rússia “continuar num caminho negro”, ao atacar infra-estruturas civis, que motivou a decisão. “Nada disto seria necessário se a Rússia não tivesse invadido [a Ucrânia]”, disse o ministro na Câmara dos Comuns.

Wallace acrescentou que o Reino Unido forneceu mísseis ar-terra Storm Shadow e que alguns estão já em mãos ucranianas. Estes projécteis, segundo a BBC, são disparados a partir de aviões e voam a baixa altitude até atingirem o alvo, guiados por infravermelhos. O seu alcance permite, por um lado, que sejam lançados longe da linha da frente, garantindo mais segurança para as aeronaves. Por outro, facilita ataques a zonas até agora distantes para os ucranianos, como certas partes da Crimeia.

Embora tenha referido que “a Rússia é forçada a concluir que foram as suas próprias acções que levaram ao fornecimento destes sistemas à Ucrânia”, o governante também deixou claro que os Storm Shadow “não competem sequer no mesmo campeonato” de algum armamento empregue pelas forças russas nesta guerra – tais como mísseis hipersónicos e de cruzeiro de muito longo alcance ou os drones suicidas iranianos.

Ben Wallace afirmou que estes mísseis vão “permitir à Ucrânia fazer recuar as forças russas estacionadas no território soberano ucraniano”. Em Kiev, o anúncio foi recebido com satisfação. “Os nossos parceiros sabem muito bem por que precisamos deles: para sermos capazes de reduzir o potencial ofensivo do inimigo, ao destruirmos os seus depósitos de munições, centros de comando e cadeias logísticas”, disse Iuri Sak, um assessor do Ministério da Defesa, citado pelo Financial Times.

Pelo menos desde o fim do ano passado que responsáveis políticos e militares ucranianos têm feito apelos públicos para que os aliados enviem caças e mísseis de longo alcance. Até agora, a Ucrânia tinha mísseis com capacidade para atingir alvos a 80 quilómetros de distância, que eram (e são) disparados a partir do sistema de artilharia americano Himars. Em Fevereiro, as autoridades ucranianas alegaram que tinham conseguido atacar uma zona em Mariupol, supostamente fora do alcance desse armamento. Os Estados Unidos têm-se recusado a fornecer sistemas como o ATACMS, com um alcance a rondar os 300 quilómetros.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, prometeu em Fevereiro que o Reino Unido seria “o primeiro país a dar armas de maior alcance à Ucrânia”. Nos últimos dias, conta o The Guardian, o Governo actualizou um documento de consulta ao mercado em que pedia aos fabricantes de armas propostas para o fornecimento de “mísseis ou rockets com um alcance de 100 a 300 quilómetros”. O documento foi emitido em nome do International Fund for Ukraine, uma iniciativa britânica em que também participam a Dinamarca, os Países Baixos, a Noruega e a Suécia.

Numa entrevista a vários canais de televisão europeus, o Presidente da Ucrânia disse esta quinta-feira que as Forças Armadas ainda precisam de “algumas coisas” para começarem a anunciada contra-ofensiva – que, em vez da Primavera, parece cada vez mais provável para o início do Verão. “Podemos avançar [agora] e, penso, ser bem-sucedidos. Mas perderíamos muita gente e acho isso inaceitável. Por isso temos de esperar. Ainda precisamos de um bocado mais de tempo”, disse Volodymyr Zelensky.

O chefe de Estado referiu-se especificamente na entrevista à necessidade de receber mais veículos blindados, mas não desistiu de obter novos caças, como os F-16. Um porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos explicou, também esta quinta-feira, que o país não tenciona enviar esses aviões de combate para a Ucrânia a curto prazo, devido a limitações orçamentais. “Se começássemos a fornecer F-16 à Ucrânia, isso seria tão caro que não conseguiríamos enviar aquilo de que a Ucrânia precisa agora: defesa antiaérea, Patriots, munições de artilharia, os [tanques] Abrams”, declarou Dave Butler a uma rádio ucraniana.

Sugerir correcção
Ler 30 comentários