Stromae cancela digressão de Multitude para curar corpo e cabeça
Entre as datas abortadas estavam três concertos com Ana Moura. O cantor de Alors on danse é o mais recente entre os músicos que têm acusado exaustão e questões de saúde mental.
Primeiro, ainda em Abril, foram cancelados os concertos marcados até ao final de Maio, e, perante a justificação, relacionada com questões de saúde, tanto física como mental, logo se levantaram dúvidas quanto às datas seguintes. Agora, surgiu a confirmação: Stromae cancelou todas as datas da sua Multitude Tour, riscando da agenda tanto os concertos em nome próprio como as actuações em festivais de Verão. Entre elas encontravam-se os concertos em Londres, Lyon e Bruxelas de que Ana Moura asseguraria a primeira parte.
“Há alguns meses, senti que a minha saúde tinha guinado na direcção errada, o que me levou a cancelar alguns concertos em França e, depois, na Europa”, contextualiza numa publicação no Twitter o músico nascido Paul van Haver em Etterbeek, Bélgica, no ano de 1985, e hoje uma das figuras de destaque na pop mundial.
“Infelizmente, tenho de aceitar agora que o tempo de que preciso para sarar e curar-me será mais prolongado do que julgava”, escreve, antes de anunciar o cancelamento de todas as datas da digressão de promoção do seu álbum mais recente, Multitude, editado em Março do ano passado, e que tinha final marcado para 9 de Dezembro no Palais 12, em Bruxelas. “Quis partilhar estas palavras para explicar esta decisão e pedir desculpa por todos estes encontros falhados. Estava tão ansioso por eles quanto vocês, e é com o coração pesado que a eles renuncio.”
Stromae tornou-se um fenómeno internacional com o lançamento do seu primeiro single, Alors on danse, em 2010, e cimentou a partir daí um percurso assente numa música em que o hip-hop e a electrónica se fundem com tonalidades pop, guardando sempre espaço, diz o próprio, para outras influências, como a música congolesa ou um dos seus heróis musicais, o conterrâneo Jacques Brel.
Em 2015, Stromae cancelou uma digressão africana devido a ataques de ansiedade que relacionou com a medicação de protecção contra a malária tomada antes de viajar para o continente. Manter-se-ia longe dos palcos durante um longo período.
No ano passado, estreou-se em Portugal como cabeça-de-cartaz do Nos Alive, no Passeio Marítimo de Algés. Era já a digressão de Multitude, o seu terceiro álbum, cujo segundo single, L’enfer, aborda directamente a luta com a depressão e os pensamentos suicidas.
Nos últimos tempos, têm sido vários os artistas a abordar publicamente o impacto dos exigentes roteiros de digressões e restantes solicitações sobre a saúde mental. Arlo Parks, Yard Act, Disclosure, Shawn Mendes ou Justin Bieber são alguns dos músicos e bandas que cancelaram concertos ou digressões, justificando-o com exaustão e necessidade de proteger a sua saúde mental.
“Tenho estado na estrada, de forma intermitente, nos últimos 18 meses, preenchendo todos os segundos livres a matar-me a trabalhar”, escreveu nas suas redes sociais Arlo Parks, a cantora britânica distinguida com o Mercury Prize em 2021, quando anunciou em Setembro do ano passado o cancelamento de uma série de concertos. “Encontro-me agora num espaço muito sombrio, exausta e perigosamente em baixo – é doloroso admitir que a minha saúde mental se deteriorou até atingir um estado debilitante, que não estou bem, que um ser humano tem limites.”
Num artigo publicado na altura no diário britânico The Guardian, Joe Hastings, da Help Musicians, associava a multiplicação de cancelamentos e queixas de exaustão e saúde mental debilitada à intensa agenda de concertos que, na tentativa de recuperar o tempo e os rendimentos perdidos, se seguiu à ausência de concertos da pandemia, bem como à realidade estrutural da indústria musical após a emergência do streaming.
Dados os parcos rendimentos que os músicos auferem com a venda de discos e os royalties devidos pelas audições nas plataformas digitais, os concertos, em sequência constante, tornaram-se a sua principal, e indispensável, fonte de rendimentos.