Citroën Ami, um amigo para a cidade (desde que não chova)

Ponto assente: não é um automóvel. Mas este quadriciclo é um meio divertido de percorrer a cidade e, dadas as suas características, ficar a conhecer novos caminhos.

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Citroën Ami dr
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Na Segunda Circular em Lisboa é legal andar a menos de 50 km/h, logo nada nos impede de escolher esta via quando ao volante do Ami — a não ser o bom senso.

Com 2,41 metros de comprimento, 1,39m de largura e 1,52m de altura, o Ami é um veículo do tipo quadriciclo ligeiro (L6e) — em Portugal, pode ser conduzido por maiores de 16 anos, com carta da categoria B1 — que acelera até um máximo de 45 km/h, se as condições forem favoráveis. Ou seja, partilhar estradas com camiões apressados e automobilistas nervosos pode não ser a melhor ideia…

Com isso em mente, estudámos percursos alternativos às grandes artérias da capital, o que nos levou por ruas por onde talvez não passássemos há anos. Mas isso não impediu que puséssemos o pé em ramo verde: circular a Rotunda do Relógio, na Praça do Aeroporto, em hora de ponta pode bem ter sido a pior experiência de todas nos dias em que nos dedicámos a uma mobilidade urbana diferente do automóvel. E realizar as subidas de Monsanto deve ter deixado quem seguia atrás de nós com os nervos em franja — de recordar que os tais 45 km/h em condições ideais não incluem subidas íngremes… Valeram-nos as descidas para pôr o veículo a dar o seu máximo.

No entanto, por um lado, se acelerasse mais (é possível consegui-lo a descer em modo neutro, mas pouco aconselhável) desconfiamos que a travagem não estivesse à altura. Sem grandes admirações, o Ami não dispõe de sistema antibloqueio (ABS), o que faz com que o uso dos travões deva ser feito com cuidado — numa travagem brusca, as rodas podem bloquear, conduzindo à perda de tracção.

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Também a chuva, que nos brindou nalgumas das viagens, torna a experiência menos apetecível. Não que o quadriciclo se tenha comportado de forma insegura, mas tem-se a sensação de se estar menos protegido do que quando o sol brilha. Talvez porque a ausência de insonorização no habitáculo torne o barulho de uma chuva forte ensurdecedor. Além disso, o sistema de ventilação não é forte o suficiente para dissipar o embaciamento dos vidros, o que nos obriga a abrir as janelas, que se dobram ao estilo do velhinho 2CV — e a apanhar com a água.

Percursos mais longos também nos pareceram pouco convidativos, já que os assentos não têm nada de confortável — ao segundo dia, com a lição aprendida, já levámos uma almofadinha para tornar a odisseia menos dura para as costas. Até porque, devido a uma suspensão extremamente firme, não há buraquinho que não se sinta. E o melhor é ficar longe das ruas empedradas.

Há, porém, grandes vantagens quando se conduz um veículo do tipo do Ami por uma grande cidade: é raro não encontrar um buraquinho onde o enfiar, sendo muito fácil de manobrar, e a maioria dos condutores tende a tratar-nos com simpatia (será pena?), deixando-nos passar mesmo quando a prioridade não está do nosso lado.

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Depois, dadas as suas dimensões, consegue ser divertido, revelando-se ágil em inúmeras situações, sendo capaz de inverter a marcha em apenas 7,2 metros. E poderá estar entre os mais rápidos quando o sinal vermelho passa a verde.

Pequeno por fora, enorme por dentro

Na concepção do Ami, a Citroën concentrou-se em criar um quadriciclo de custos reduzidos e simples de construir. E nada mais fácil que criar uma traseira exactamente igual à frente (visto ao longe, é impossível atestar onde começa e acaba o veículo — porque poderá ser precisamente o oposto).

Entrar e sair do Ami é simples e fácil: as portas, que têm uma chave distinta da ignição, têm uma abertura ampla, sendo que abrem em sentidos diferentes: a do condutor, da frente para trás; do passageiro, de trás para a frente. Por dentro, o trinco é desbloqueado puxando uma fita colorida.

O banco do condutor pode ser ajustado para a frente e para trás, enquanto o do passageiro, ligeiramente mais atrás do que o do lado, é fixo, sendo também ligeiramente mais elevado. Isso faz com que o espaço em frente ao lugar do passageiro possa ser usado para arrumar bagagem (há até um “buraco” com o desenho de um trolley e com o tamanho certo para o acomodar). E é extremamente espaçoso. Tanto que muitas vezes nos esquecemos do real tamanho do veículo (e quando saímos dele sentimo-nos uma espécie de Gulliver ao lado do Ami).

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A informação para o condutor é básica: há um pequeno painel de instrumentação que nos informa da velocidade a que seguimos, da posição da caixa de velocidades, dos quilómetros percorridos e da autonomia restante da bateria. A carga da bateria de 5,4 kWh pode ser acompanhada numa espécie de gráfico com tracinhos. Já o carregamento, que se realiza ligando o cabo arrumado na porta do passageiro a uma tomada de 230V, demora em torno de quatro horas.

Mas é possível levar a tecnologia do século XXI para dentro do Ami: basta pegar no smartphone, que tem um lugar no tablier para ficar exposto, e usá-lo como uma janela para o mundo digital. Se o telemóvel estiver quase sem bateria, o Ami dispõe de uma entrada USB.

Em termos de arrumação de pequenos objectos, não existindo porta-luvas, não há falta de espaços. As portas chegam guarnecidas com uma rede que permite pôr livros, o jornal do dia, agendas (apenas não se deverá deixar nada que sofra com a água de um dia para o outro, já que se encontram vários relatos de utilizadores que descrevem entrada de água, algo que também observámos na unidade ensaiada). Sobre o tablier e junto ao vidro dianteiro, uma estrutura plástica permite guardar a carteira (há uma com tampa), além de existir um suporte para copos.

O que depressa se percebe é que o Ami tem praticamente tudo o que é preciso para pequenas deslocações diárias. E, não parecendo ter grandes ambições, faz tudo com muito estilo.

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