FMI mais que duplica previsão de crescimento para Portugal

Crescimento forte registado no primeiro trimestre fez os técnicos do FMI que estiveram em Portugal na semana passada reverem previsão de crescimento de 1% para 2,6%.

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O FMI refez as contas para a economia portuguesa Reuters/Yuri Gripas
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O desempenho surpreendentemente forte da economia portuguesa durante os primeiros três meses do ano levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a rever em alta a sua previsão de crescimento do PIB em 2023 para um nível que fica bem acima das projecções do Governo.

Há menos de um mês, quando apresentou as suas previsões de Primavera para a economia mundial, os técnicos do FMI apontaram para um crescimento em Portugal no decorrer deste ano de apenas 1%, um valor que mantinha a instituição com uma visão mais pessimista do que a do Governo português em relação à evolução da economia. O executivo prevê no Programa de Estabilidade um crescimento de 1,8% este ano, em linha com aquilo que também é projectado pelo Banco de Portugal.

No entanto, os dados das contas nacionais relativos ao primeiro trimestre deste ano que foram divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no final de Abril levaram agora os técnicos do FMI a refazerem completamente as suas contas. No final da missão do fundo presente em Portugal entre 26 de Abril e 5 de Maio (no âmbito do artigo 4.º da instituição), os técnicos passaram a apontar para um crescimento médio de 2,6% em 2023, uma revisão muito acentuada face à previsão de 1% feita há um mês e também claramente acima dos 1,8% projectados actualmente pelo Governo.

Na declaração de conclusão da missão publicada nesta terça-feira, o fundo assinala precisamente o resultado do primeiro trimestre como um sinal de que a retoma da economia registada em 2022 se prolongou já por este ano.

Nos primeiros três meses de 2023, a economia cresceu 1,6% face ao trimestre imediatamente anterior e 2,5% face ao período homólogo, algo que permite que agora, mesmo num cenário de estagnação em que se registem variações nulas em cadeia do PIB durante o segundo, terceiro e quarto trimestres do ano, a economia cresça 2,1% no total de 2023.

O FMI está agora a apontar para um cenário até ao final do ano, não de estagnação, mas ligeiramente melhor, de abrandamento face ao ritmo forte do primeiro trimestre. “O crescimento real do PIB deverá abrandar durante o resto do ano, atingindo uma média de 2,6% em 2023”, afirma o fundo, que dá as razões para que se possa esperar agora este abrandamento.

“O custo de vida mais elevado deverá deprimir o crescimento da procura interna e o desempenho global e da zona euro deverá enfraquecer o crescimento das exportações”, afirma a nota publicada pelo FMI, que prevê ainda uma estabilização do crescimento da economia portuguesa no médio prazo em torno de 2% e uma descida da taxa de inflação este ano para os 5,6%, ligeiramente menos que os 5,7% que previu há um mês.

É, contudo, assinalada a existência de diversos riscos, tanto pela negativa como pela positiva, para estas previsões. Pela negativa, o FMI destaca a possibilidade de um aperto mais acentuado da política monetária, com subidas mais fortes das taxas de juro, algo que afectaria o ritmo de crescimento da economia no curto prazo. E salienta que uma execução abaixo do esperado do Plano de Recuperação e Resiliência teria efeitos negativos no crescimento potencial da economia no médio prazo.

Pela positiva, o FMI diz que “um desempenho mais forte do turismo e uma resiliência sustentada do mercado de trabalho constituiriam um apoio ao crescimento”.

Em conferência de imprensa, a chefe da missão do FMI presente em Portugal, Rupa Duttagupta, reconheceu a surpresa que constituiu o desempenho da economia portuguesa no arranque deste ano. “Ficámos surpreendidos com o resultado muito mais forte do que o esperado no primeiro trimestre”, disse, explicando que, embora ainda não tenham sido divulgados pelo INE os números detalhados de todas as componentes do PIB, o crescimento forte “terá tido muito que ver com o turismo, que teve uma retoma muito mais forte do que o antecipado”.

Com este novo ponto de partida, um crescimento de 2,6% já não se torna tão difícil de obter. “Mesmo que a economia não cresça nos próximos trimestres, o crescimento será sempre acima de 2%”, disse, assinalando que as expectativas do fundo continuam a ser, tal como há um mês, “de um abrandamento gradual”, que é explicado essencialmente pelo efeito negativo da inflação e da subida das taxas de juro no consumo e no investimento.

Para o médio prazo, disse, a chave estará naquilo que irá acontecer ao investimento privado. “Gostaríamos que o peso do investimento privado fosse maior. O cumprimento dos objectivos do PRR, como reforçar a digitalização das empresas e aumentar o investimento público, podem desempenhar um papel importante”, disse.

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