Cobertura da guerra na Ucrânia foi o grande tema dos Prémios Pulitzer
Os prémios mais importantes do jornalismo norte-americano distinguiram trabalhos sobre o conflito em curso no Leste da Europa. Associated Press bisou.
A agência Associated Press (AP) foi distinguida com dois prémios Pulitzer de jornalismo nas categorias de serviço público e foto-reportagem, ambos relativos à guerra na Ucrânia. Os trabalhos premiados incluem imagens surpreendentes do cerco russo a Mariupol, anunciou a Columbia University na segunda-feira.
Outros trabalhos da AP foram igualmente finalistas na categoria de foto-reportagem: a cobertura da crise política no Sri Lanka e o registo do impacto da invasão russa da Ucrânia nas pessoas idosas.
O prémio de serviço público distinguiu o videógrafo Mstyslav Chernov, o fotógrafo Evgeniy Maloletka, a produtora de vídeo Vasilisa Stepanenko e a repórter Lori Hinnant. Durante quase três semanas, os únicos jornalistas estrangeiros em Mariupol, ao serviço da AP, captaram imagens notáveis de uma mulher grávida ferida a ser transportada para receber cuidados médicos e de soldados russos a dispararem sobre alvos civis.
Segundo o vice-presidente da autarquia de Mariupol, o trabalho da AP suscitou a atenção internacional, conduzindo a pressões para os russos abrirem vias de evacuação dos habitantes da região, o que permitiu salvar milhares de vidas.
"[Eles] informaram o mundo sobre o custo humano desta guerra nos seus primeiros dias", comentou a editora executiva da AP, Julie Pace, via Zoom. "Serviram de contrapeso à desinformação russa e ajudaram a abrir um corredor humanitário de saída de Mariupol com o seu trabalho", realçou.
A equipa de fotógrafos da AP distinguida com o prémio inclui ainda, além de Maloletka, Bernat Armangue, Emilio Morenatti, Felipe Dana, Nariman El-Mofty, Rodrigo Abd e Vadim Ghirda.
"Estar lá foi provavelmente mais importante e mais crítico do que nunca", disse o director de fotografia da AP, David Ake.
Um conjunto de jornalistas do New York Times foi por seu turno distinguido com um prémio na categoria de reportagem internacional pela cobertura da guerra na Ucrânia, dedicada às mortes na cidade de Bucha atribuídas às tropas russas.
Os prémios Pulitzer — estabelecidos por vontade do editor Joseph Pulitzer, que também fundou a Columbia University — distinguem todos os anos o melhor do jornalismo nos EUA, em 15 categorias. A estas acrescem oito categorias artísticas, que se distribuem pelas áreas da literatura, da música e do teatro. São atribuídos desde 1917.
Ainda entre os jornalistas premiados nesta edição, Caroline Kitchener, do Washington Post, destacou-se, na categoria de reportagem nacional, com as suas "reportagens determinadas" sobre as consequências da decisão do Supremo Tribunal ao reverter a sentença do caso Roe vs. Wade, que estabeleceu, em 1973, o direito à interrupção voluntária da gravidez. A repórter focou, entre outros relatos, a história de uma adolescente do Texas que deu à luz filhos gémeos, depois de as novas restrições legais lhe terem negado o direito ao aborto.
O Los Angeles Times venceu na categoria de última hora pelas relevações em torno de uma conversa de autoridades da cidade que incluía comentários racistas.
O site AL.com, de Birmingham, no Alabama, foi distinguido com o Pulitzer nas categorias de noticiário e comentário local, em que também foi premiada Anna Wolfe, do Mississippi Today (noticiário), pela denúncia de um ex-governador que distribuiu dinheiros públicos a amigos e familiares. A revista The Atlantic ganhou um prémio na categoria de jornalismo explicativo, pela investigação, assinada por Caitlin Dickerson, da política de Donald Trump de separar pais e filhos na fronteira com o México.
Premiados foram também o Wall Street Journal, pelas notícias sobre as práticas de especulação bolsista de dirigentes públicos de 50 agências nacionais.
Andrew Long Chu, da revista New York, ganhou um Pulitzer pelo seu trabalho como crítico de livros; Nancy Ancrum, Amy Driscoll, Luisa Yanez, Isadora Rangell e Lauren Constantino, do Miami Herald, pelas peças editoriais; Mona Chalabi, colaboradora do New York Times, pelas suas ilustrações de notícias e comentários; e Connie Walker da Gimlet Media, pelo noticiário radiofónico (podcast).
Já na literatura, dois jornalistas do Washington Post, Robert Samuels e Toluse Olorunnipa, ganharam o Pulitzer de não-ficção por His Name Is George Floyd: One Man’s Life and the Struggle for Racial Justice (Viking), sobre o assassinato daquele homem negro, em 2020, pela polícia de Minneapolis, que desencadeou um movimento nacional e internacional de protesto.
O Pulitzer de ficção foi concedido a dois romances que abordam temas de classe: Demon Copperhead (Harper), de Barbara Kingsolver, uma reformulação moderna do clássico de Charles Dickens David Copperfield contada por um rapaz dos Apalaches; e Trust (Riverhead Books), de Hernán Diaz, uma narrativa que usa vários estilos literários para falar sobre riqueza, ambição e amor na Nova Iorque capitalista da década de 20. Este romance já está editado em Portugal, pela Livros do Brasil.
Na área do teatro, foi distinguida a peça English, de Sanaz Toossi, sobre quatro iranianos adultos que se preparam para um exame de Inglês numa escola perto de Teerão, onde separações familiares e restrições de viagem os levam a aprender um novo idioma que pode alterar as suas identidades e representar uma nova vida. English estreou-se com a Atlantic Theater Company (off-Broadway), em Nova Iorque.
Os outros prémios literários distribuem-se pelas categorias de história, em que se distinguiu Freedom’s Dominion: A Saga of White Resistance to Federal Power (Basic Books), de Jefferson Cowie; biografia, em que se destacou G-Man: J. Edgar Hoover and the Making of the American Century (Viking), de Beverly Gage; memória e autobiografia, com o Pulitzer a ser entregue a Stay True (Doubleday), de Hua Hsu; e poesia, área em que saiu vencedor o volume Then the War: And Selected Poems, 2007-2020 (Farrar, Straus and Giroux), de Carl Phillips.
Na música, o Pulitzer foi atribuído a Omar, de Rhiannon Giddens e Michael Abels, uma ópera estreada no Spoleto Festival USA, em Charleston. No centro da obra, que cruza as tradições africanas e afro-americanas, está o tema das pessoas escravizadas que foram trazidas de países muçulmanos para a América do Norte.
O Pulitzer de jornalismo na categoria de serviço público recebe uma medalha de ouro; todos os outros são agraciados com 15 mil dólares.