Sete diferenças entre a coroação de Carlos III e a de Isabel II, há 70 anos
O novo rei britânico é coroado neste sábado, 6 de Maio, na Abadia de Westminster. A coroação de Isabel II foi há 70 anos, a 2 de Junho de 1953.
Carlos III sempre se disse apologista de uma monarquia mais pequena, em todos os sentidos: ora reduzindo os membros seniores da família real; ora cortando nos custos da manutenção do regime. Como tal, o mesmo se aplica à sua coroação, uma festa com toda a pompa e circunstância, mas à imagem da actualidade, bem mais modesta do que a investidura de Isabel II, em Junho de 1953, há 70 anos.
Eis algumas diferenças entre as coroações de mãe e filho:
Idade
A 2 de Junho de 1953, Isabel foi coroada na Abadia de Westminster, numa cerimónia transmitida pela televisão. Decidiu manter o nome: Isabel, tal como a quinta e última monarca da Casa de Tudor (1533-1603). Tinha então 27 anos e o marido, o príncipe Filipe estava a poucos dias de celebrar 32 anos ─ festejava o aniversário a 10 de Junho.
A idade de Carlos é bem diferente. Foi o príncipe de Gales que mais tempo esperou para subir ao trono e tem 74 anos. Tal como a mãe, decidiu manter o nome, tornando-se o terceiro Carlos da história da milenar da monarquia britânica. Espera-se que o seu destino seja mais favorável do que o dos seus antecessores: Carlos I, que reinou entre 1625 e 1649, foi o único rei a ser executado na História inglesa; Carlos II casou-se com a portuguesa Catarina de Bragança, mas a ausência de filhos (tiveram dois, ambos morreram à nascença) criou um problema de sucessão.
Convidados
Na grandiosa cerimónia de Isabel II estiveram 8251 convidados, um contraste com os cerca de 2200 de Carlos III — um número que inclui a família real britânica, representantes das várias monarquias do mundo, chefes de Estado e mais de 850 representantes de comunidades e associações de solidariedade de todo o Reino Unido.
O convite para a coroação de Carlos também mostra a sua agenda enquanto rei. Trata-se de uma criação do heráldico Andrew Jamieson. Desenhado à mão e pintado em aguarela e guache, apresenta um motivo do Homem Verde, uma figura antiga do folclore britânico.
As flores do convite, feito em cartão reciclado, aparecem em grupos de três — uma referência ao facto de Carlos ser o terceiro monarca com esse nome — e também tem leões, unicórnios e javalis, retirados dos brasões de armas do casal real.
Duração da cerimónia
A cerimónia da coroação de Isabel II durou mais de três horas, entre orações, cânticos e rituais. Já a de Carlos III, o 40.º monarca a ser coroado, espera-se que tenha pouco mais de uma hora.
O rei deverá sentar-se na cadeira da coroação, com mais de 700 anos e restaurada por especialistas, onde será apresentado aos presentes pelo arcebispo da Cantuária, Justin Welby. Depois cantar-se-á o hino God save the king.
Carlos fará o juramento, onde prometerá seguir as leis da Igreja Anglicana. Depois, será ungido pelo arcebispo com óleo nas mãos, no peito e na cabeça. Sabe-se que o óleo criado para esta coroação não contém quaisquer ingredientes de origem animal, por vontade do soberano, um conhecido activista ambiental.
De seguida, será investido com vários símbolos reais, incluindo a orbe, a representar a autoridade religiosa e moral, o ceptro e o ceptro do soberano, que evocam o poder. Por fim, o arcebispo colocará a coroa de Santo Eduardo (toda em ouro e restaurada) na cabeça de Carlos III.
Coroado, o rei sentar-se-á no trono, onde os convidados lhe farão uma vénia, ao som do hino composto de propósito por Andrew Lloyd Webb, o compositor do musical Cats. Parte da cerimónia será cantada em galês e também haverá um momento de música grega em homenagem ao pai do rei, o príncipe Filipe, que nasceu na Grécia.
Coroação do consorte
O príncipe Filipe, que recebeu os títulos de duque de Edimburgo, conde de Merioneth e barão de Greenwich por altura do casamento, não foi coroado consorte na cerimónia de coroação de Isabel II, tendo-lhe a rainha concedido o título de príncipe consorte em 1957. O título de rei consorte não existe, já que, segundo a tradição da monarquia inglesa, o título de rei é mais importante do que o de rainha.
A partir da coroação deste sábado, Camila — que já foi considerada a mulher mais odiada do Reino Unido — passará a ser chamada apenas rainha, sem referência ao termo consorte. Depois de Carlos, será a mulher a receber a coroa das rainhas consortes, que sofreu alterações: o polémico diamante Koh-i-Noor foi retirado e foram incrustados três diamantes lapidados a partir do Cullinan, num tributo a Isabel II, avançou o palácio. Os diamantes faziam parte da colecção pessoal da monarca e eram frequentemente utilizados nos alfinetes de peito, a sua imagem de marca. Quatro dos oito arcos da coroa também serão removidos, para simplificar o design.
Foi a própria Isabel II a decidir que Camila seria rainha. No ano passado, apenas alguns meses antes da sua morte, a soberana manifestou “o desejo sincero” de que a nora viesse a ser assim conhecida quando o filho assumisse o trono. Então, Carlos mostrou-se agradecido pela “honra” do desejo da mãe. “À medida que temos procurado servir e apoiar juntos Sua Majestade e o povo das nossas comunidades, a minha querida mulher tem sido o meu apoio constante ao longo de todo o processo”, lembrou.
A última consorte a ser coroada foi a rainha-mãe Isabel, em 1937, na coroação de Jorge VI, avô de Carlos III.
Juramento de lealdade
Na coroação de Isabel II, durante a longa cerimónia na Abadia de Westminster, todos os membros da família real ou com títulos de nobreza juraram lealdade à nova monarca. A Carlos III, só o herdeiro William vai prestar juramento, ajoelhando-se perante o rei, prometendo servi-lo e suceder-lhe quando o dia chegar.
O filho mais novo do rei, Harry, também vai estar presente na cerimónia, mas não deverá replicar o gesto do irmão. Aliás, o duque de Sussex partirá para os Estados Unidos logo após a coroação para se juntar aos festejos de aniversário do filho, o príncipe Archie, que celebra quatro anos no mesmo dia. A mulher, Meghan, não o acompanha, apesar de ter sido Carlos a levá-la ao altar no dia do casamento de ambos, em Maio de 2018.
Cortejo
Isabel II e o príncipe Filipe percorreram 7,2 quilómetros no Coche Dourado pelas ruas de Londres, entre a Abadia de Westminster e o Palácio de Buckingham. Acorreram mais de três milhões de pessoas a saudar a rainha. O cortejo de Carlos e Camila só se vai estender por pouco mais de dois quilómetros.
Os novos reis vão usar precisamente o mesmo coche, que foi estreado em 1762 pelo rei Jorge III, para presidir à abertura do Parlamento, e que é usado desde 1830 em todas as coroações. A rota a seguir depois da cerimónia percorre mais de dois quilómetros entre Westminster e o Palácio de Buckingham, passando pela praça do Parlamento, Whitehall e The Mall.
Custo
De acordo com a imprensa britânica, a coroação de Carlos III custará cerca de 100 milhões de libras (cerca de 113 milhões de euros). Apesar de ter uma dimensão reduzida em comparação com a Isabel II, o evento deste fim-de-semana é bem mais caro do que o de há 70 anos.
A coroação de 1953 foi o evento mais caro de sempre da monarquia de então, perfazendo custou 912 mil libras, equivalentes a 20,5 milhões de euros nos dias de hoje. A discrepância justifica-se sobretudo com os custos de segurança que a actualidade exige.