A complementaridade das aprendizagens informais

O nosso ponto de partida é quase sempre o próprio eu ou alguém a quem admiramos e queremos imitar.

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Será que as crianças passam demasiado tempo na escola? Daniel Rocha/arquivo

Num destes dias li uma publicação nas redes sociais, alguém a dizer que um pai tinha dito ao filho que não queria que ele tivesse as melhores notas da turma, desde que tivesse tudo positiva já era bom; mas que não era mesmo para se esforçar ao ponto de ser um dos melhores da turma.

E continuava explicando a razão de tal ideia e afirmações: se se esforçasse muito e passasse o tempo a estudar não teria tempo para viver nem para aprender outras coisas importantes que a escola não ensina e que não se aprendem na escola mesmo que ninguém ensine.

Após a leitura, algumas perguntas vieram-me logo à cabeça: será este pai ocidental, com uma cultura semelhante à nossa? Como é possível alguém pensar que a escola não ensina tudo o que há para aprender? Como é que um pai quer apenas que o seu filho tenha um sucesso escolar mediano? Que ideia fará este pai, da escola, dos professores e do currículo? O que considera que a escola não ensina e que faz falta na educação e formação do seu filho? O que leva este pai a não reivindicar que a escola ensine aquilo que considera estar em falta? O que faz com que viva bem com um sucesso suficiente, se e que existe ‘sucesso suficiente’?

Será que considera que há muito para aprender fora da escola? Será que as crianças passam demasiado tempo na escola? Deviam ter mais tempo livre? Como deviam ocupar o tempo que tivessem mais livre? Devia ser mesmo livre ou orientado? Ou ambos? De que maneira é que este tempo fora da escola promoveria a autonomia das crianças, adolescentes e jovens? Para os alunos estarem mais tempo fora da escola, deveriam os pais poder estar mais tempo com os filhos? Ou necessitam as crianças de terem tempo para estarem consigo mesmas e desenvolverem a sua autonomia? Necessitam os mais novos de regressar à noção de ócio?

Este pai queria que o filho fosse ‘apenas' às aulas e não despendesse mais tempo a estudar, para poder estar com ele, ou para que o filho pudesse estar disponível para novas experiências e aprendizagens? Afinal, o que faltou na educação deste pai e que se fosse agora teria aprendido ou desenvolvido mais? Quais foram as suas dificuldades na educação superior e que o ensino básico e secundário podiam ter colmatado? Que bases lhe faltaram? Pela sua experiência de vida, o que é imprescindível que os seus filhos aprendam ou sejam sujeitos? Soft skills ou conteúdos concretos?

Que ideia de sucesso tem a escola, se não chega o tempo de permanência na mesma para que o máximo sucesso seja garantido? Que tempo de aprendizagens significativas e de qualidade oferece a escola?

E quando terminou a faculdade, o que lhe fez falta para enfrentar o mercado de trabalho? Quem já pegou em curriculum vitae de jovens adultos que não fizeram mais nada na vida a não ser estudar? Licenciatura, mestrado, pós-graduação, doutoramentos, e sem nenhuma experiência de trabalho, nem que seja daquelas para ganharem alguma coisa para os seus ‘alfinetes’? Que saberão estes jovens da realidade da vida? Que maturidade e em que mundo viverão? O que falta à escola ensinar? O que falta aos pais proporcionarem?

Esta pequena reflexão em jeito de perguntas serve para que cada um de nós possa dar as suas respostas e construir a sua resposta à história desta publicação nas redes sociais. Porque certamente não haverá uma única resposta ou opinião, mas várias e diferentes.

Não há dúvida de que quando se trata de educar cada um tem a sua própria ideia de aprendizagem necessária e de sucesso. O nosso ponto de partida é quase sempre o próprio eu ou alguém a quem admiramos e queremos imitar concretizando na educação dos nossos filhos.

Há conhecimentos e competências que a escola, dita tradicional, básica, secundária ou superior, não ensina mesmo. Será que deve ensinar?

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