Lançado centro no Porto dedicado a substituir e reduzir experimentação animal
O novo centro será o primeiro em Portugal a dedicar-se à substituição, redução e refinamento de experiências científicas em animais.
O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) lançou o primeiro centro dedicado a substituir, reduzir e refinar a experimentação animal em ciência, foi agora anunciado.
O centro, intitulado 3R Knowledge Center de Portugal, é o primeiro no país a dedicar-se à “substituição, redução e refinamento da experimentação animal (3R)”, esclarece em comunicado o instituto. “Portugal era, até agora, um dos poucos países europeus que não tinha um 3R Knowledge Center”, salienta-se.
O princípio dos 3R na investigação em ciências de vida e saúde indica que os investigadores devem procurar substituir (replace em inglês, um dos três R da sigla), reduzir e refinar a experimentação animal. Este princípio, apresentado pela primeira vez em 1959, está consagrado na legislação que regula o uso de animais para fins científicos a nível europeu e nacional (decreto-lei 113/2013).
A investigadora que lidera esta iniciativa, Anna Olsson, esclarece, no comunicado, que o centro “vai potenciar actividades de investigação e de formação em 3R com impacto na comunidade científica nacional”. “Usamos muito mais modelos alternativos do que os críticos acham, mas a experimentação animal não vai poder ser substituída tão cedo”, afirma Anna Olsson, acrescentando, por isso, ser importante investir na substituição, mas também no refinamento da investigação com animais.
Ainda que o princípio dos 3R seja utilizado na prática científica portuguesa, “não existia nenhuma estrutura organizada e dedicada ao tema no panorama nacional”, o que se concretiza agora com o lançamento do centro.
Toda a comunidade científica convidada
“Apesar de nascer no i3S, [a iniciativa] convida toda a comunidade científica em Portugal a juntar-se”, destaca a investigadora, que acredita que o centro permitirá “disseminar conhecimento e providenciar apoio prático aos investigadores que procuram implementar os 3R na sua investigação”.
Em Portugal, foram já dados “muitos passos no processo de investigação” sem experimentação animal (recorrendo a métodos in vitro menos complexos). No entanto, a “simplicidades destes sistemas limita o tipo de perguntas que podem ser abordadas”, salienta-se no comunicado.
Anna Olsson recorre à investigação biomédica – área que procura descodificar mecanismos de doenças e desenvolver terapias – para explicar que este tipo de investigação “precisa de ter modelos que simulam a complexidade do organismo, incluindo diferentes tipos de órgãos, circulação sanguínea e sistema imunitário”.
“É essencial demonstrar e partilhar conhecimento sobre alternativas, nomeadamente a utilização de organóides e órgão em chip, que oferecem modelos mais complexos que simulam melhor os sistemas complexos de um organismo”, afirma. O novo centro, destaca ainda, pretende ser “agregador de conhecimento” para “partilhar na comunidade científica” e torná-lo numa “prática global”.