O meu companheiro já se sentiu tentado a trair-me várias vezes. Devo deixá-lo?

A escolha de abrir a sua relação foi-lhe retirada da primeira vez que o seu parceiro foi satisfazer a sua tentação fora da vossa relação, nas suas costas.

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"Se a ideia de partilhar o seu parceiro com outra pessoa não funciona para si, é melhor afastar-se" Adam Kontor/pexels

Estou numa relação monogâmica há cerca de seis anos. Antes disso, o meu parceiro era poliamoroso e optou pela monogamia antes de nos comprometermos um com o outro, mas também disse que um dia poderia querer abrir a relação de alguma forma.

Recentemente, o meu parceiro ultrapassou um limite com outra pessoa — deixando-se tentar pela traição. Não é a primeira vez que isso acontece. Isso faz-me sentir desrespeitada e insegura. Perdi muita confiança. Estamos a planear uma grande mudança e ter filhos em breve.

Será que devo ficar com esta pessoa depois de ter perdido tanta confiança? Tenho 34 anos e estou ansiosa por começar de novo, mas também quero valorizar-me. Não sei se conseguiria manter uma relação aberta depois disto.


Não sei nada sobre como navegar em relações abertas. Comecemos por aí. No entanto, sei muito sobre honestidade, compromisso e, infelizmente, traição. Lamento imenso que o seu parceiro tenha traído a sua confiança. Com uma grande mudança no horizonte, o momento desta revelação trouxe-vos a uma encruzilhada necessária.

Antes de a poder aconselhar sobre os próximos passos, tenho algumas perguntas: Quando diz que o seu companheiro "ultrapassou um limite com outra pessoa", de que limite estamos a falar exactamente? E como é que sabe? O seu parceiro confessou ou foi apanhado? Além disso, diz que não é a primeira vez que isto acontece — estão a discutir abertamente estes encontros?

Shan Boodram, especialista em relações e autora de The Game of Desire (O Jogo do Desejo), diz: "Parece que o que tem é uma estrutura de relação construída com base na monogamia contingente, em que todas as partes têm consciência e concordam com as ligações íntimas externas. A monogamia contingente é quando alguém faz um acordo mas também emite um aviso de que é provável que cometa um deslize. As pessoas fazem acordos contingentes porque têm consciência do seu comportamento, mas não tomam qualquer medida para serem competentes num resultado diferente. As pessoas deste tipo podem pedir crédito por serem honestas, mas, para seu bem, force-as a serem responsáveis. Pergunte-lhes quais os acordos, os limites e os factores de ruptura com que se podem comprometer de todo o coração."

Em última análise, independentemente do que digam, as suas ofensas repetidas colocam uma questão maior: Acredita que vale a pena dar-lhes outra oportunidade?

Como diz Maya Angelou (e a minha mãe), "quando alguém lhe mostra quem é, acredite nele — da primeira vez". O seu parceiro ultrapassou mais do que uma vez o compromisso de monogamia até nova ordem que assumiram um com o outro? É mais seguro assumir que este padrão se vai repetir do que apostar numa mudança de comportamento para sempre — especialmente porque ele já manifestou o desejo de abrir a relação "um dia". A realidade é que esse dia chegou, mas sem o seu consentimento.

Agora, tem de tomar algumas decisões difíceis.

Compreendo perfeitamente a ansiedade que paira sobre a ideia de começar de novo e o desejo natural de preservar uma relação depois de investir seis anos. Mas será que quer mesmo começar um novo capítulo com alguém que a faz sentir-se "desrespeitada e insegura"? Uma vez que os filhos estão em cima da mesa para um futuro próximo, é fundamental que pense muito bem se é ou não esta a base sobre a qual quer construir a sua família. A confiança é fundamental para todo e qualquer tipo de relacionamento. Com a vossa confiança quebrada, já existem fissuras profundas nesta base e os filhos só vão complicar esses problemas.

A escolha de abrir a sua relação foi-lhe retirada da primeira vez que o seu parceiro foi satisfazer a sua tentação fora da vossa relação, nas suas costas. E não há garantia de que isso vá parar só porque foi exposto. Em última análise, as suas acções comunicarão ao seu parceiro o que aceita e o que não aceita dele. Se ficar, deve preparar-se para outro encontro com a infidelidade.

Se sair, a sua vida abrir-se-á a infinitas possibilidades e, mais importante ainda, ganhará de volta a dignidade de determinar por si própria o que quer e o que não quer aceitar neste próximo capítulo da sua vida. Eu digo: dê a si própria um novo começo. Se a ideia de partilhar o seu parceiro com outra pessoa não funciona para si, é melhor afastar-se agora, porque é evidente que essa pessoa não se pode comprometer a não voltar a ser tentada e não se pode construir uma relação saudável em termos unilaterais.

Eu sei que esta não é uma decisão fácil, mas tente tomá-la tendo em mente o seu futuro e a sua família. Porque todos merecem melhor do que isto.


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Bárbara Wong

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