Processo de Harry contra Murdoch revela pagamento secreto ao príncipe William
Documentos apresentados pela equipa jurídica do duque de Sussex revelam que William terá recebido “uma soma muito grande de dinheiro em 2020”.
O príncipe William recebeu uma "soma muito elevada" do grupo de jornais de Rupert Murdoch para resolver as queixas de pirataria telefónica, revelam documentos judiciais apresentados na terça-feira pela equipa jurídica do seu irmão mais novo, o príncipe Harry.
O duque de Sussex está a processar o News Group Newspapers (NGN) de Murdoch no Tribunal Superior de Londres por actos ilícitos — incluindo a pirataria dos seus voice mails — que, alega, terem sido cometidos em nome dos tablóides The Sun e News of the World, entretanto extinto, de 1994 a 2016. A audiência desta semana destina-se a determinar se o caso deve ir a julgamento.
Nos documentos apresentados ao tribunal, a equipa jurídica de Harry alega que houve um pagamento secreto da empresa de Murdoch a William. O documento não revela o montante, nem os pormenores do que William alegou ter acontecido, mas diz que a NGN tinha chegado a acordo com o príncipe "por uma soma muito grande de dinheiro em 2020".
A notícia do pagamento a William veio à tona depois de a Fox News, de Murdoch, concordar em pagar 787,5 milhões de dólares (716 milhões de euros) à Dominion Voting Systems, depois de ter chegado a acordo com a empresa.
Harry alegou que o pagamento ao seu irmão mais velho fazia parte de um acordo secreto entre a NGN e o Palácio de Buckingham para não apresentar mais nenhuma acção legal contra os jornais de Murdoch até que outros litígios pendentes relativos a escutas telefónicas fossem resolvidos. A NGN nega que tenha havido um acordo secreto.
O Palácio de Kensington, em nome do príncipe William, e o Palácio de Buckingham, em nome do rei Carlos III, não quiseram comentar. Não é claro se Harry está a falar com o irmão ou com o pai. No seu livro de memórias Na Sombra, o duque revela que uma das principais áreas de discórdia foi a sua percepção da falta de acção do palácio face às histórias negativas que vinham nos tablóides.
Harry diz que o acordo foi feito porque o palácio queria evitar que os membros da família real tivessem de testemunhar em tribunal. No seu depoimento, Harry justificou que a realeza queria evitar contar "detalhes específicos de mensagens de voz privadas e altamente sensíveis" em tribunal, e referiu-se à "conversa telefónica íntima que teve lugar entre o pai e a madrasta em 1989, quando ele ainda era casado com a mãe".
Pensa-se que o duque se referia à história que ficou conhecida por "Tampongate" do Sun, publicada em 1993, depois de o jornal ter obtido uma gravação telefónica de 1989 de uma conversa íntima entre o então príncipe Carlos e Camila. Então, Carlos e Diana já estavam separados e o príncipe conversa ao telefone com Camila. "Devia viver dentro das tuas calças. Tudo seria mais fácil”, diz ele. Camila ri-se. “Vais-te transformar num par de cuecas?” Riem-se e Carlos declara: “Ou, Deus me livre, num Tampax. Que sorte seria a minha!”
Harry também disse que, em 2017, decidiu pedir desculpas a Murdoch e que, então, a avó, Isabel II, e o irmão apoiaram a iniciativa. William foi "muito compreensivo e apoiante e concordou que precisávamos de o fazer" e "sugeriu que eu pedisse autorização à 'avózinha'", contou Harry, acrescentando que falou com a monarcapouco tempo depois e disse-lhe algo do género: 'Estás contente por eu avançar com isto, tenho a tua autorização?" E ela disse: 'Sim'".
No entanto, afirma que os seus esforços foram contrariados pelo pessoal do seu pai, como parte de uma "estratégia a longo prazo para manter os meios de comunicação social, incluindo a NGN, do lado de fora, a fim de facilitar o caminho para a minha madrasta e o meu pai serem aceites pelo público britânico como rainha consorte e rei, respectivamente".
A NGN já pagou somas avultadas depois de jornalistas da sua publicação News of the World terem sido presos por pirataria telefónica. A empresa pretende que o processo de Harry seja arquivado porque o príncipe esperou demasiado tempo para apresentar a acção. A defesa de Harry argumenta que a razão do atraso foi o acordo secreto entre o palácio e a empresa de Murdoch.
"É importante ter em conta que, em resposta a esta tentativa da NGN de impedir que as suas reivindicações fossem a julgamento, o requerente teve de tornar públicos os pormenores deste acordo secreto, bem como o facto de o seu irmão, Sua Alteza Real, o príncipe William, ter recentemente resolvido a sua reivindicação contra a NGN nos bastidores", dizem os documentos do tribunal.
Harry está envolvido em várias batalhas legais com grupos de media britânicos. No mês passado, apanhou a imprensa desprevenida quando apareceu em pessoa para o seu processo contra o editor do Daily Mail. Está também previsto que preste depoimento num processo contra a editora do Daily Mirror e do Sunday Mirror por alegações de abuso telefónico. Este processo deverá ter início alguns dias após a coroação do pai, a 6 de Maio.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução: Bárbara Wong