Marcelo diz que é preciso assumir o “bom” e o “mau” do passado colonizador

Presidente da República aproveitou a presença do seu homólogo brasileiro, momentos antes da sessão do 25 de Abril, para considerar que Portugal deve um pedido de desculpas enquanto país colonizador.

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Presidente da República abordou o passado colonial no seu discurso do 25 de Abril Daniel Rocha
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O Presidente da República assumiu as responsabilidades plenas de Portugal enquanto país colonizador, considerando que é devido um pedido de desculpas. O momento da reparação histórica aconteceu a propósito da recepção ao Presidente do Brasil, Lula da Silva, pouco tempo antes da sessão parlamentar comemorativa do 25 de Abril.

Depois de justificar a presença do seu homólogo numa sessão no mesmo dia daquela que celebra a Revolução dos cravos no Parlamento, Marcelo aproveitou o momento para olhar para o passado. "Também isso nos serve para nós olharmos para trás, a propósito do Brasil. Mas seria também possível a propósito de toda a colonização e toda a descolonização, assumirmos plenamente a responsabilidade por aquilo que fizemos", afirmou já na recta final do seu discurso na sessão plenária do 25 de Abril.

"Não é apenas pedir desculpa – devida, sem dúvida – por aquilo que fizemos, porque pedir desculpa é às vezes o que há de mais fácil, pede-se desculpa, vira-se as costas, e está cumprida a função. Não, é o assumir a responsabilidade para o futuro daquilo que de bom e de mau fizemos no passado", defendeu.

Como factores positivos da colonização do Brasil, Marcelo apontou "a língua, a cultura, a unidade do território brasileiro". Já “de mau”, o Presidente referiu “a exploração dos povos originários, denunciada por António Vieira, a escravatura, o sacrifício do interesse do Brasil e dos brasileiros".

"Um pior da nossa presença que temos de assumir tal como assumimos o melhor dessa presença. E o mesmo se diga do melhor e do pior, do pior e do melhor da nossa presença no império ao longo de toda a colonização", acrescentou.

Já em Dezembro do ano passado, a propósito do massacre de Wiriyamu, há 51 anos, o Presidente da República declarou ser tempo de assumir “em plenitude o que foi a inaceitável e terrível obra de alguns”, meses depois de o primeiro-ministro ter considerado tratar-se de um “acto indesculpável” que “desonra” a História de Portugal.

Num outro momento, em Fevereiro de 2018, durante uma visita a São Tomé, Marcelo não pediu desculpas pelo massacre de Batepá, ocorrido há 70 anos, preferindo assumir responsabilidades. “Portugal assume a sua história naquilo que tem de bom e de mau, e assume nomeadamente, neste instante e neste memorial, aquilo que foi o sacrifício da vida e o desrespeito da dignidade de pessoas e comunidades”, disse então Marcelo Rebelo de Sousa.

As declarações do Presidente da República nesta terça-feira foram bem recebidas pela coordenadora do BE. “Registamos que o senhor Presidente da República não só pediu desculpas pela violência da colonização portuguesa como diz que Portugal tem de assumir responsabilidades pela violência que foi essa colonização face aos povos que foram colonizados por Portugal”, salientou Catarina Martins, considerando que “faltava esta palavra há muito tempo”.

Para Catarina Martins, trata-se de um “momento importante” porque “reconhecer a história é reconhecer a violência colonialista e a responsabilidade que Portugal também tem”. com David Santiago

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