Lula discursou na AR sob protestos. Santos Silva repreendeu deputados do Chega
O Presidente do Brasil e o presidente do Parlamento sublinharam a importância do reforço das relações entre os dois países e condenaram a invasão da Ucrânia.
Não foi sem controvérsia, mas Lula da Silva acabou mesmo por discursar na Assembleia da República (AR) no dia em que se assinalou o 49.º aniversário do 25 de Abril de 1974. Enquanto à porta do Parlamento se congregaram manifestações, ora contra, ora em apoio ao Presidente do Brasil, também no plenário o chefe de Estado foi recebido tanto com ovações, como com protestos por parte do Chega, tendo a IL sido representada apenas pelo líder parlamentar. O presidente do Parlamento repreendeu, visivelmente irritado, o comportamento do Chega e pediu desculpa formalmente. Por seu turno, Lula da Silva desvalorizou o episódio, que classificou de "ridículo".
Numa sessão solene de boas-vindas prévia à sessão comemorativa da Revolução dos Cravos, o presidente da AR, Augusto Santos Silva, elogiou o sinal dado por Lula da Silva de aprofundamento das relações entre Portugal e Brasil, que, durante os anos da presidência de Jair Bolsonaro, estiveram adormecidas, e reafirmou a "íntima fraternidade" entre os dois países.
Face à contestação em torno da presença do Presidente brasileiro na AR, Santos Silva justificou que "a personalidade que os brasileiros escolhem como Presidente é sempre bem-vinda no Parlamento". Mas particularmente a de Lula da Silva, disse, por ter aberto novamente "Brasília ao mundo", contribuído "para a redução da pobreza e das desigualdades no Brasil" ou ter sido capaz de defender as instituições democráticas, após o ataque ao Palácio do Planalto, "sem hesitação".
Depois da polémica que se levantou em torno das posições de Lula sobre a guerra na Ucrânia, Santos Silva garantiu ainda que Portugal condena a invasão por parte da Rússia e que apoia a "luta pela independência" dos ucranianos, pedindo que as políticas externas brasileira e portuguesa possam "convergir a favor da paz".
Mas também na cena internacional, onde espera que os dois países trabalhem "mais e melhor", seja através da conclusão do acordo UE-Mercosul, do reforço da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ou para colocar o Brasil entre os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Lula condena extremismos e invasão da Ucrânia
O Presidente do Brasil, ignorando os protestos do Chega, procurou garantir que depois dos "momentos de grave ameaça" à democracia no Brasil, em que as "forças democráticas demonstraram solidez", a sua presidência irá trazer o país de volta "à cena internacional" e à "tradição diplomática", nomeadamente junto de Portugal.
Prosseguiu também, como já havia feito antes na visita de Estado de cinco dias a Portugal, a campanha para tornar o Brasil membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, finalizar o acordo Mercosul ou integrar a CPLP como membro observador da Conferência Ibero-Americana.
Mas foi na censura às "ideologias extremistas", no Brasil e na Europa, e às "soluções militares", como a ofensiva russa, que Lula centrou o seu discurso, esclarecendo, uma vez mais, a sua posição sobre a guerra na Ucrânia.
"O 25 de Abril nos mostra que uma potência militar que enfrenta um povo em luta pela liberdade jamais poderá vencê-lo", afirmou, sinalizando que "quem acredita em soluções militares para os problemas actuais luta contra os ventos da história". "Condenamos a violação territorial da Ucrânia e acreditamos numa ordem internacional fundada no direito, no respeito e soberania nacionais", garantiu, para, depois, defender a "paz" através do "diálogo e da diplomacia".
Chega protesta, IL ausente, restantes bancadas aplaudem
A Iniciativa Liberal não esteve presente na sessão, à excepção do líder da bancada, mas os deputados do Chega, assim que Lula começou a discursar, ergueram bandeiras da Ucrânia e cartazes onde se lia "Chega de corrupção" e "Lugar de ladrão é na prisão", além de baterem com as mãos na mesa sempre que o chefe de Estado era aplaudido pelas outras bancadas, num protesto que durou todo o discurso do Presidente do Brasil. Já os restantes deputados aplaudiram Lula com diversas ovações em pé.
Augusto Santos Silva repreendeu irritado os deputados do Chega, pedindo-lhes que "se comportem com urbanidade, cortesia e educação". "Chega de insultos, chega de envergonhar as instituições, chega de envergonhar o nome de Portugal", afirmou. Pediu ainda "formalmente desculpa em nome do Parlamento português" e elogiou a "coragem e educação" de Lula.
Já cá fora, o chefe de Estado brasileiro desvalorizou o episódio, considerando tratar-se de uma "cena de ridículo". Em declarações aos jornalistas, disse que isto é “o que acontece quando as pessoas não têm coisas boas para dizer”. Garantiu que o sucedido não devia acontecer num “evento de homenagem à Revolução”, mas frisou que tal atitude impactou especialmente os próprios que “quando voltarem a casa vão pensar: que papelão que nós fizemos”. com Marta Sofia Ribeiro
A notícia foi sendo actualizada com as diferentes declarações