Haiti: multidão lincha e deita fogo a alegados membros de gangues criminosos

Operação da polícia na capital, Port-au-Prince, interrompida por pessoas para fazerem justiça pelas próprias mãos. ONU apela ao envio de uma força internacional para o país.

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Residentes de Port-au-Prince fogem de casa durante confrontos entre gangues criminosos Reuters/RALPH TEDY EROL

Mais de uma dezena de alegados membros de gangues criminosos foram linchados e queimados vivos nas ruas de Port-au-Prince, capital do Haiti, depois de uma multidão ter interrompido uma operação da polícia que estava a deter os suspeitos.

Conforme relatado pela polícia, em depoimentos colhidos pela agência Alter Presse, os agentes pararam uma carrinha em que viajavam os homens, supostamente armados, e estavam a meio da detenção quando os civis que se aglomeravam ao seu redor intervieram e mataram os supostos membros do gangue.

A agência diz, citando testemunhas, que houve 14 mortos, embora as autoridades não tenham confirmado um número exacto. Uma testemunha que se identificou como Edner Samuel disse à Associated Press (AP) que algumas pessoas entre a multidão levaram os supostos criminosos para longe da polícia, onde os espancaram e apedrejaram antes de os regarem com gasolina e os queimarem.

Os linchamentos seguiram-se a dias de confrontos entre membros de gangues e agentes de segurança. Fotos da Reuters e vídeos que circulam nas redes sociais mostram vários corpos empilhados na rua, com pneus fumegantes e outros objectos em cima. Num dos vídeos, vê-se uma pessoa a bater nos corpos sem vida com um objecto pontiagudo.

Samuel disse que os suspeitos estariam a deslocar-se para outra área, para se juntarem a um grupo armado que estava a lutar contra a polícia. Outra testemunha, Jean Josue, disse que houve um tiroteio naquela área desde o início da manhã.

Testemunhas no local disseram ainda que os suspeitos eram membros do gangue Kraze Barye ("Quebrando Barreiras", no dialecto local).

As autoridades dizem que o grupo é liderado por Vitel'Homme Innocent, acusado de ajudar a sequestrar 17 missionários norte-americanos em Outubro de 2021 e que também está ligado ao assassínio do Presidente Jovenel Moïse, em Julho de 2021.

Nesta segunda-feira, as Nações Unidas alertaram que a insegurança em Port-au-Prince é “comparável à de países em situação de conflito armado”, com um aumento significativo de homicídios e sequestros, e apelaram ao envio de uma força internacional para o país.

“O povo haitiano continua a enfrentar uma das piores crises de direitos humanos em décadas e uma grande emergência humanitária”, descreve o relatório do secretário-geral da ONU, António Guterres.

“Devido ao elevado número de mortos e ao crescente número de áreas controladas por grupos armados, a insegurança na capital atingiu níveis comparáveis com os de países em situação de conflito armado”, acrescenta.

Entre 1 de Janeiro e 31 de Março, o número de homicídios registados aumentou 21% no país em relação ao trimestre anterior (815 contra 673), e o número de sequestros 63% (637 contra 391).

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