Clientes do Credit Suisse retiraram 62 mil milhões de euros do banco

Corrida aos depósitos antes do anúncio de fusão com a UBS fez sair do segundo maior banco suíço um montante total de 62 mil milhões de euros.

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O Credit Suisse espera "perdas substanciais" no próximo trimestre Reuters/HENRY NICHOLLS

A crise de confiança que atingiu, em Março, o segundo maior banco da Suíça já pode ser medida: 61,2 mil milhões de francos suíços (ou cerca de 62 mil milhões de euros ao câmbio actual) foi quanto os clientes do Credit Suisse retiraram da instituição até o Governo e o regulador suíços terem cozinhado a sua fusão com a UBS, travando perdas históricas em bolsa e o colapso de um banco com impacto sistémico.

“O Credit Suisse registou saídas significativas de activos, em particular na segunda metade de Março”. Esta fuga de activos, dos quais 57% eram depósitos, “moderou-se, mas não se inverteu” até hoje, assumiu o banco nos resultados do primeiro trimestre, divulgados esta segunda-feira.

O banco registou no trimestre um resultado líquido de 12,8 mil milhões de francos suíços (cerca de 13 mil milhões de euros), que “reflecte essencialmente a liquidação total de obrigações” no valor de 15 mil milhões de euros, ordenada pelo supervisor suíço, a Finma, como forma de salvaguardar a situação de capital do banco, mas que já começou a fazer chegar queixas dos credores a tribunal.

Em termos ajustados, o banco registou um prejuízo antes de impostos de 1,3 mil milhões de euros no trimestre.

O Credit Suisse admite que este êxodo de activos “deverá conduzir a uma redução do resultado líquido e das comissões e taxas”. “Em particular”, refere o banco, “é provável que haja uma perda substancial na área de gestão de fortunas, no segundo trimestre”, mas também “perdas substanciais” na banca de investimento e ao nível do grupo.

Segundo o Financial Times (FT), a dimensão da corrida aos depósitos (numa instituição que tinha a gestão de fortunas entre os seus principais negócios e que nesta unidade perdeu 9% dos activos) demonstra bem a dificuldade da tarefa que a UBS tem pela frente, depois de ter negociado o controlo do seu rival por três mil milhões de francos suíços (cerca de 3030 milhões de euros).

A maior operação bancária de sempre desde a crise financeira de 2008, cozinhada de urgência para travar o pânico nos mercados financeiros, beneficia ainda de 110 mil milhões de euros em garantias do Governo suíço (9,1 mil milhões em garantias directas e 101 mil milhões em liquidez com garantia pública).

Juntar UBS e Credit Suisse cria muitas redundâncias e obrigará a uma reestruturação significativa e, segundo os analistas ouvidos pelo FT, comporta “grandes riscos de integração para a UBS”.

Os dois bancos podem vir a perder clientes, especialmente os muito ricos que têm fortunas sob gestão nas duas instituições e que poderão optar por entregá-las a outros bancos.

“A magnitude das perdas e da saída de fundos é alarmante”, disse ao FT Thomas Hallett, analista da casa de investimento Keefe, Bruyette & Woods. “Ainda não acabou. Resumidamente, mesmo que a UBS seja capaz de reduzir custos em oito mil milhões de euros em 2027, a trajectória das receitas está tão danificada que esta fusão poderá vir a afundar os resultados operacionais do banco, a não ser que seja anunciado um plano de reestruturação ainda mais profundo”, afirmou.

Juntos, os grupos UBS e Credit Suisse têm 120 mil trabalhadores (70 mil e 50 mil respectivamente) e até agora tem sido dito que a integração dos dois bancos poderá levar a um corte de cerca de um terço dos trabalhadores. Entre eles, acredita-se que os 17 mil trabalhadores que trabalham no banco de investimento do Credit Suisse podem vir a ser os mais afectados.

Feito para travar o descalabro reputacional da banca suíça e eliminar qualquer possibilidade de contágio a outros mercados que desencadeasse uma nova crise financeira num contexto já conturbado internacionalmente, as circunstâncias que envolveram o casamento forçado entre o Credit Suisse e a UBS não estão isentas de suspeitas.

A Procuradoria-Geral Suíça anunciou este mês que está a recolher informação sobre os eventos que culminaram neste negócio milionário e a procurar indícios criminais. “Tendo em conta a relevância dos eventos”, as autoridades tencionam “pró-activamente cumprir o seu mandato e responsabilidade” na garantia de que a Suíça se mantém como um “centro financeiro limpo”, disse o procurador-geral, em comunicado citado pela Bloomberg.

Foi criado um “sistema de monitorização que permitirá tomar acções imediatas, caso haja circunstâncias que caiam sob a jurisdição” da Procuradoria-Geral Suíça, garantiu o comunicado.

De acordo com a Bloomberg, na imprensa suíça refere-se que o alvo destas declarações poderá ser quem passou informação confidencial antes de a fusão ter ficado fechada.

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