“Cada geração distingue entre o bom gosto — o meu — e a vulgaridade — a tua. Cada corrente literária esvazia os pedestais para colocar neles os seus favoritos. No final, só o tempo tem a última palavra.” O Infinito Num Junco, Irene Vallejo.
Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, 23 de Abril, data feliz para quem tem a mesa-de-cabeceira pejada de livros, ou dores nas costas, de permanecer horas sentado no devir das palavras que brotam do teclado.
Quem escreve deseja ser lido. Quem tem o hábito da leitura reconhece os seus benefícios. Quem ainda não lê encontrará, mais cedo ou mais tarde, um livro que o prenderá. Cabe às editoras, aos autores e a todos os agentes do universo literário alvitrar esforços para que esse momento aconteça.
Leio com satisfação as recentes notícias que afirmam que o mercado editorial português apresentou o maior crescimento na Europa, no ano passado, quase essencialmente devido ao TikTok e ao Instagram, redes sociais que conseguiram conduzir os jovens para a leitura.
Não receio o que possam estar a ler. Que hábito da leitura se instale. O tempo encarregar-se-á de que, um dia, conheçam Ismael ou a cidade fictícia de West Egg, na costa Norte de Long Island.
Antes de escrever estas linhas, espreitei o perfil de uma booktooker e fiquei deliciada com o despretensiosíssimo entusiasmo com que fala dos livros recebidos, dos lidos. É bom constatar que editoras como a Editorial Presença, a Penguin Random House, a Tinta-da-china e outras mais estão a perceber onde estão os seus leitores, estão a comunicar, a sair do pedestal.
A discussão sobre o que é “boa literatura” ou “má literatura” existirá sempre. “As obras podem passar a ser apreciadas e a deixar de sê-lo, de acordo com a alteração das circunstâncias histórias”, afirma Terry Eagleton, no seu Como Ler Literatura. “Emily Dickinson publicou apenas sete poemas em vida, e os seus editores consideraram necessário corrigir-lhe a sintaxe e a pontuação. André Gide recusou o manuscrito de Proust para a editora Gallimard. Borges publicou na revista Sur uma crítica demolidora de Citizen Kane, da qual mais tarde se retractaria”, escreve Irene Vallejo.
Se o objectivo em Portugal é incentivar hábitos de leitura, não podemos ostracizar leitores porque lêem determinado género, ou os autores que mais vendem, fazendo-os sentir filhos de um deus menor. Acreditemos no renascer da sede da leitura.
Em jeito de lista (como activista literária pragmática que sou), deixo nove benefícios da leitura. Para ler, interiorizar e partilhar.
- Desenvolvimento da imaginação: a leitura convida-nos a criar imagens mentais das personagens, cenários e acções descritas no livro, o que estimula a criatividade e ajuda a expandir a nossa imaginação.
- Melhoria da capacidade cognitiva: ler é um excelente exercício para o cérebro, melhora a nossa capacidade cognitiva. Além disso, estudos demonstram que pessoas que lêem regularmente têm melhor memória e concentração.
- Redução do stress: ler é uma óptima maneira de relaxar e reduzir o stress diário. Um livro transporta-nos para outro mundo e ajuda-nos a esquecer as nossas preocupações.
- Desenvolvimento da empatia: a leitura leva-nos a ver o mundo através dos olhos das personagens, a desenvolver a nossa empatia e compreensão das emoções dos outros, melhorando, assim, os nossos relacionamentos pessoais e profissionais.
- Aprendizagem de novas informações: os livros são uma fonte de informações e conhecimento. Ao ler, aprendemos sobre diferentes assuntos, desde história e ciência até literatura e arte.
- Melhoria da linguagem e vocabulário: a leitura ajuda a melhorar a nossa linguagem e a aumentar o nosso vocabulário. Ao ler livros de diferentes autores e géneros, somos expostos a uma ampla variedade de palavras e formas de expressão.
- Estimulação da criatividade: a leitura estimula a criatividade, não só pelo que lemos, mas também pelo que podemos criar a partir do que lemos. Um livro pode inspirar-nos a escrever, desenhar ou criar algo.
- Entretenimento: ler é uma forma de entretenimento e lazer que pode ser desfrutada em qualquer lugar, a qualquer hora, praticada sem gastar muito dinheiro.
- Expansão da perspectiva: a leitura expõe-nos a diferentes perspectivas, culturas e formas de pensar, o que contribui para expandir a nossa compreensão do mundo e para nos tornar pessoas mais abertas e tolerantes.
Termino como comecei, com uma citação de O Infinito Num Junco, um livro mágico sobre livros: “Sem os livros, as melhores coisas do nosso mundo teriam caído no esquecimento.”