Cancro do fígado: até quando será “tarde demais”?

É costume dizer-se que “o saber não ocupa lugar”. Essa é também a nossa abordagem em relação ao cancro do fígado: compreendê-lo ao máximo detalhe para que, um dia, possa ser mais fácil combatê-lo.

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Células do fígado vistas ao microscópio: a branco, células de gordura CC BY-SA

Falarmos de cancro não será estranho para ninguém. Seja numa notícia, num livro de ciências ou na nossa vida pessoal, já todos tivemos contacto com o tema. No entanto, quantos de nós sabem realmente o que é um cancro? Mais especificamente, quanto sabemos sobre o cancro do fígado, que é já a terceira principal causa de morte por doença oncológica?

Se perguntássemos aos médicos e aos cientistas como descreveriam o cancro do fígado, a maioria iria começar com “é uma doença silenciosa...”. De facto, a maioria dos casos de cancro do fígado vão passando despercebidos até que o seu diagnóstico seja feito já demasiado tarde, numa fase mais avançada da doença. Este tipo de cancro está, no entanto, associado à progressão de outras doenças do fígado como infeções virais hepatite B e hepatite C, doença alcoólica do fígado, ou doença do fígado gordo.

Na verdade, esta última afeta cerca de 25% da população mundial e é já expectável que se possa tornar a principal causa de desenvolvimento do cancro do fígado na próxima década, pela sua associação direta com a obesidade e a diabetes.

Um cancro nada mais é do que a multiplicação anormal das células, muitas vezes por erros que ocorrem no nosso material genético, o conhecido ADN. Torna-se assim óbvio que dois fatores são essenciais para prevenir eficazmente o cancro do fígado; por um lado, detetar antecipadamente que doentes estão em risco de desenvolver doença e, por outro, compreender que processos contribuem para a acumulação de erros genéticos.

Para responder a estas necessidades clínicas, o meu projeto de doutoramento visa compreender o papel de uma proteína humana (a RIPK3)​ no desenvolvimento do cancro do fígado. Para responder a esta pergunta, recorremos no laboratório a modelos experimentais que se assemelhem à doença e às suas diferentes causas, com especial foco na doença do fígado gordo. Temos vindo a desenvolver projetos que comprovam o envolvimento desta proteína na progressão das doenças crónicas do fígado.

Agora, com este novo estudo, tentamos pôr na balança quais os benefícios e os riscos da inibição da proteína RIPK3 no desenvolvimento do cancro e assim perceber se, um dia, deverá ser considerada como um novo alvo terapêutico contra o cancro do fígado.

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O investigador André Cardador DR

Nos primeiros resultados foi possível comprovar uma redução do desenvolvimento tumoral nos modelos experimentais, o que evidencia as possíveis vantagens da inibição desta proteína em contextos de doença crónica do fígado.

Atualmente, o cancro do fígado representa uma despesa anual de 4000 milhões de euros a nível europeu. Com este impacto social e económico, a sua prevenção e tratamento são essenciais em saúde. De forma complementar à adoção de estilos de vida saudáveis, esperamos que esta nova linha de investigação que estamos a desenvolver possa contribuir, a prazo, para a prevenção e controlo do cancro do fígado.

Estudante de doutoramento do Instituto de Investigação do Medicamento da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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