À medida que a concorrência para atrair condutores aquece no maior mercado automóvel do mundo, os fabricantes de automóveis interessados em criar um espectáculo no Salão do Automóvel de Xangai exibiram veículos com características que prenderam as atenções, como bolas de cristal, sistemas de karaoke ou painéis de instrumentos 3D.
Na primeira exposição deste tipo na China desde o fim das restrições impostas por causa da pandemia de covid-19 no país, a Zeekr, uma marca de veículos eléctricos propriedade do Zhejiang Geely Holding Group, destacou-se como o seu recém-lançado SUV X, com assentos que providenciam massagens aos passageiros.
Muitas outras marcas chinesas destacaram ecrãs tácteis que permitem aos utilizadores cantar karaoke ou jogar em movimento, em linha com os gostos dos consumidores num mercado onde fabricantes de automóveis domésticos ágeis roubaram o protagonismo às marcas ocidentais tradicionais que em tempos dominaram.
A Polestar, a marca de carros eléctricos premium fundada pela Volvo e Geely, apresentou o seu Polestar 4, um SUV coupé, preparado para entrar em produção no final deste ano, que se destaca por enormes superfícies em vidro, com o objectivo de maximizar a visibilidade.
Já a popular companhia de jogos de vídeo Unity mostrou como está a ajudar empresas como a Li Auto a transformar a exibição do seu painel de instrumentos num interface semelhante ao um jogo 3D, bem como a exibir a sua versão do cockpit do futuro na exposição automóvel.
Muitas inovações, demasiado depressa
Os fabricantes de automóveis chineses têm vindo a conquistar quota de mercado a rivais estrangeiros nos últimos anos, em parte através do cortejo de condutores com serviços de estilo de vida à medida e do lançamento mais rápido de novos modelos. Têm também sido extremamente agressivos na apresentação de inovações.
E enquanto os fabricantes europeus de automóveis colocam muitos dos melhores equipamentos entre os opcionais, os fabricantes chineses tendem a propor o mesmo de série, acrescentando valor aos seus já mais baixos preços.
“Tantos veículos novos, tantos veículos novos chineses com muito bom aspecto”, disse Patrick Koller, chefe executivo do fornecedor francês de componentes automóveis Faurecia. Koller também notou que, no interior de muitos modelos chineses novos, tinham sido eliminados completamente os botões a favor da activação por voz e pelo movimento.
“A electrónica na China é uma electrónica mais orientada para o consumidor, isto significa que está à procura de um efeito ‘Uau!’.”
Os fabricantes de automóveis estrangeiros também não deixaram de levar o que de melhor têm a Xangai.
A Genesis, da gigante sul-coreana Hyundai e recém-chegada ao mercado chinês, virou cabeças ao colocar uma bola de cristal na consola central do seu modelo EV GV60, segundo Markus Henne, o CEO da marca na China.
As bolas de cristal da Genesis
A “esfera”, como a Genesis lhe chama, acende-se quando o carro arranca, dando aos condutores uma deixa visual em vez do tradicional ruído do motor ausente num EV, e pode também ser utilizada para mudar de velocidade.
“Tem sido realmente um sucesso entre os consumidores chineses”, disse Henne.
Mas enquanto a velocidade a que os fabricantes de automóveis estavam a introduzir novas características e modelos era emocionante, Koller, da Faurecia, fez uma nota de cautela, citando os custos envolvidos.
“Para ser honesto, estou um pouco preocupado com esta velocidade e com a renovação dos veículos num ciclo muito curto. Isto custa uma fortuna e não lhe dá tempo para inovações e tecnologia realmente amadurecidas”, apontou Koller.