Redacção do Diário de Notícias alerta para risco de desaparecimento do jornal
Sucessivos despedimentos deixaram a redacção do jornal depauperada. Representantes dos jornalistas entregaram carta aberta a Marcelo Rebelo de Sousa.
O conselho de redacção (CR) e as delegadas sindicais do Diário de Notícias (DN) entregaram nesta terça-feira uma carta aberta ao Presidente da República em que visam “sensibilizar o país para o risco de desaparecimento” do jornal. Na missiva, aprovada pela redacção a 8 de Março, os jornalistas pedem “uma inversão do caminho de desvalorização do DN que tem seguido até hoje”.
Em causa estão sucessivos despedimentos no jornal, fundado em 1864, que deixaram a redacção numa situação frágil.
“Dirigimo-nos a todos os que em Portugal percebem a necessidade de pluralismo na comunicação social para que o princípio democrático se mantenha forte. É a estes que a redacção do DN vem apelar para que connosco se mobilizem na defesa de uma inversão no rumo de degradação do DN enquanto jornal de referência”, lê-se no documento.
Nos últimos 14 anos, registaram-se três despedimentos colectivos no grupo, e “no último efectuado na Global Media, em 2020, já após o anúncio da entrada do Grupo Bel no núcleo accionista da empresa, quase metade dos jornalistas despedidos da empresa pertenciam aos quadros do DN”. A Global Media também detém o Jornal de Notícias e a TSF, entre outros títulos.
Depois desse despedimento colectivo, recordam os jornalistas, a administração decidiu voltar “a imprimir uma edição diária [do DN], sem que tal decisão fosse acompanhada por qualquer esforço da capacidade da redacção”.
Neste momento, o Diário de Notícias tem 28 jornalistas, menos de metade do que tinha há cinco anos. No final de Abril, disseram ao PÚBLICO os promotores da missiva, uma das três grandes repórteres do jornal vai abandonar a redacção no âmbito de um processo de rescisão amigável. Esta e outras saídas não deverão ser colmatadas com novas contratações.
O CR e as delegadas sindicais do DN referiram ao PÚBLICO que, até ao momento, a comissão executiva da Global Media Group, empresa detentora do título, não respondeu aos seus pedidos “para explicar, entre outras coisas, o projecto que tem para o Diário de Notícias e como pretende concretizar a apregoada vontade de valorização da marca, expressa pelo actual accionista maioritário aquando da sua entrada”.
Na carta aberta, os jornalistas afirmam que o que a empresa “poupa em massa salarial é o que o DN perde em memória e experiência”, e perguntam se o actual CEO deseja “ficar para a história como ‘o empresário que fechou o Diário de Notícias’”. Os trabalhadores do jornal exigem “um projecto de reforço da viabilidade do título” e o reforço de “meios técnicos e humanos necessários para assegurar a posição do DN, como “um título de referência imprescindível para a democracia portuguesa”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que recebeu a missiva dos trabalhadores, “mostrou-se sensibilizado pela luta dos jornalistas do Diário de Notícias e reconheceu a importância do título no panorama da imprensa nacional”.