Preços dos cereais e óleos levam índice alimentar da FAO a recuar 20,5% em Março
É um alívio, mas tem como base de comparação o primeiro mês após a invasão da Ucrânia, que elevou as matérias-primas agrícolas a um recorde de três décadas.
O preço das matérias-primas agrícolas para alimentação – cereais, óleos vegetais, carne, lacticínios e açúcar – transaccionadas internacionalmente sofreu uma nova quebra em Março passado. O indicador que a Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO na sigla inglesa) realiza há 33 anos recuou 2,1%, em cadeia, face a Fevereiro último. Está agora nos 126,9 pontos.
Com o desempenho de Março, o índice alimentar da FAO completa 12 meses de queda. “É o 12.º declínio mensal consecutivo desde que [o índice] atingiu o seu pico há um ano”, explica esta sexta-feira a FAO na comunicação que acompanha a divulgação dos dados mensais.
Com a média de 126,9 pontos, a comparação do desempenho do indicador no passado mês resulta, por outro lado, numa queda de 20,5% face a Março de 2022 (ou menos 32,8 pontos), que foi o primeiro mês completo após a guerra na Ucrânia provocada pela Rússia ter tido início (a invasão do país começou a 24 de Fevereiro). Entre esses dois meses do ano passado, o índice de preços dera “um salto gigantesco” – 12,6% em cadeia e 33,6% face a Março de 2021 –, afirmou há um ano a instituição da ONU para a agricultura e alimentação mundiais.
Logo de início, os preços dos cereais e dos óleos vegetais – em que a Ucrânia é um abastecedor mundial fundamental – e os da carne, por relação indirecta via alimentação animal, foram os que maiores subidas registaram nas trocas internacionais.
Cereais com descida generalizada
Um ano depois, os cereais e os óleos vegetais voltaram a ser essenciais para a evolução mensal do indicador que acompanha cinco matérias-primas agrícolas e bens alimentares (carne, lacticínios, cereais, óleos vegetais e açúcar) ponderados pelas quotas de exportação mundial de cada um dos grupos no período de 2014-2016.
Foi nos cereais que se verificou o maior decréscimo mensal (de 5,6%) e homólogo, face a Março de 2022 (menos 18,6%), o que espelha “uma queda nos preços internacionais de todos os principais cereais”, afirma a organização.
Os preços pagos pelo trigo e milho de exportação recuaram no último mês de Março 7,1% e 4,6%, respectivamente, face ao mês de Fevereiro, um recuo “impulsionado por oferta global ampla e forte concorrência entre exportadores”, diz a FAO. O acordo para o escoamento de cereais pelo mar Negro, estabelecido entre a Ucrânia, Rússia e Turquia – que foi renovado pela segunda vez em meados de Março último – também contribui fortemente para o alívio dos preços mundiais dos cereais granosos.
Preço dos óleos quebra quase 50%
Nos óleos vegetais – em que a Ucrânia também é um protagonista crucial como fornecedora mundial, sobretudo de girassol –, a queda mensal, em cadeia, foi de 4,1%. Bastante mais significativa é a escala da descida face a Março de 2022: 47,7% é o recuo do subíndice que acompanha os preços médios transaccionados a nível internacional.
Neste indicador agregado, apenas o óleo de palma teve um comportamento positivo em Março, contrariado pela soja, colza e girassol, cujo peso no indicador é mais elevado. Diz a FAO que os preços mundiais do óleo de soja continuaram a baixar, seguindo a tendência de cotações internacionais”, e que “os preços do óleo de colza e girassol também continuaram a descer”, entre “uma oferta mundial ampla” e uma “procura global de importações moderada”.
Nos lacticínios, a descida foi de 0,8% face a Fevereiro. “O recuo em Março”, explica a organização, “foi impulsionado por cotações mais baixas dos preços do queijo e do leite em pó, enquanto os preços da manteiga aumentaram” nos mercados internacionais.
Na carne, por contraste, a evolução foi no sentido ascendente, com o subíndice a subir 0,8% face ao mês imediatamente antecedente, com aumentos nos preços médios de carne de vaca e porco e descidas na carne de aves e ovinos (associando a FAO o crescimento em Fevereiro a um ajustamento sazonal da procura por causa da Páscoa).
Também no açúcar se verificou em Março um crescimento, de 1,5%. É o segundo mês a subir em cadeia, mas é sobretudo, enfatiza a FAO, o valor mais elevado que o subíndice regista desde Outubro de 2016. A organização recorda, contudo, que as perspectivas de produção de cana sacarina no Brasil, perto da colheita, poderão contrariar em breve a quebra da oferta com origem na Índia, China e Tailândia.