Benfica e FC Porto no jogo do título que ninguém assume que é

Independentemente do tamanho do fosso classificativo, técnicos colocam gelo no clássico, defendendo que as contas do título não ficam fechadas na Luz.

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Otamendi e Evanilson espreitam o clássico da Luz JOSÉ SENA GOULÃO

Desafiando a lógica que os números retumbantes do líder destacado do campeonato impõem na hora de preparar o sprint final da época 2022/23, os treinadores de Benfica e FC Porto partem circunspectos, ponderados e, curiosamente, sintonizados para o clássico da Luz.

Ambos apostados em manter o discurso mais lúcido e redondo possível, capaz de convencer o mundo de que, quando Artur Soares Dias apitar para o final do jogo desta sexta-feira Santa, nada será ainda definitivo, independentemente do resultado.

Um quadro que nem o estatuto de clássico ou rivalidades exacerbadas, como a existente entre os dois clubes mais titulados do futebol português, parece capaz de desfazer. Especialmente quando a ciência apoia a tese dos dois técnicos: em termos matemáticos o duelo desta tarde (18h, BTV) nada decidirá, para usar uma expressão tão do agrado dos homens do futebol.

Mas será mesmo assim, ou pode o futebol jogado, no seu estado mais puro e irracional, impulsionado pela paixão dos adeptos, desconstruir esta concepção asséptica de um espectáculo que já provou ser capaz de mover montanhas?

De acordo com os dados disponíveis, o cenário mais concludente — que seria a 12.ª vitória das “águias” em 13 partidas disputadas na Luz sob a batuta de Roger Schmidt —, o FC Porto ficaria a 13 pontos da liderança (obrigado a recuperar 14), em sete jornadas (21 pontos).

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A lógica parece não deixar, neste caso, grande margem para dúvidas. Até porque o encontro de contas teria de ser feito com um adversário que deixou escapar meros sete pontos em 26 rondas… e apenas dois em casa, com o eterno rival Sporting.

Schmidt não se vê campeão

Ou seja, se for o FC Porto a vencer, como de resto aconteceu há um ano (e em quatro das últimas sete deslocações à Luz), reduzindo a diferença para sete pontos, ainda seria preciso que as “águias” praticassem uma espécie de haraquiri para justificar os receios de Schmidt.

Ainda assim, confortavelmente instalado no trono, com dez pontos de vantagem para o segundo classificado, Roger Schmidt prefere defender a visão de que nada está nem ficará ganho, evitando indesejável e sempre perigoso aburguesamento.

“Se vencermos, a probabilidade de sermos campeões é maior. Mas enquanto não formos realmente campeões, é-me impossível pensar de outra forma”, declarou o alemão numa abordagem sóbria e atenta à solidez do adversário, sem duvidar do momento do Benfica, que as lesões de Gonçalo Guedes, Draxler e Ristic parecem não afectar.

Sérgio Conceição irredutível

Opinião, de resto, corroborada por Sérgio Conceição, para quem nada está, obviamente, perdido. Mesmo que no íntimo o técnico portista saiba exactamente o tipo de escalada que tem pela frente... de uma dimensão nunca antes superada por nenhuma equipa na história do campeonato português.

Na verdade, tanto o treinador do Benfica quanto o do FC Porto parecem mais interessados em preservar uma narrativa que evite conduzir os respectivos jogadores a caírem na armadilha do excesso de confiança ou, na oposta, de mergulhar numa vaga de cepticismo.

Isto, quando o FC Porto arrisca, simultaneamente, perder a vice-liderança, caso repita o resultado da primeira volta (e o Sp. Braga vença o Estoril), permitindo ainda que o Benfica rompa um longo hiato de 18 anos sem conseguir vencer, consecutivamente, dois jogos aos portistas.

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Há quatro épocas, o Benfica de Bruno Lage, em temporada de recuperação sobrenatural rumo ao 37.º e último título de campeão nacional, bateu o FC Porto de Sérgio Conceição nos dois jogos do campeonato, mas com uma derrota para a Taça da Liga pelo meio.

Agora, apesar de afastado da Champions, mas escorado na conquista da Supertaça e da primeira Taça da Liga — e estando a um pequeno passo do Jamor, para a defesa do troféu —, o FC Porto chega à Luz disposto a vingar o jogo do Dragão e os planos de uma quase proclamada festa benfiquista.

Com Diogo Costa e Pepe recuperados, mas ainda sem certezas quanto a João Mário, Zaidu e Evanilson, Conceição reviu os números e confirmou, em conferência de imprensa, com imprescindível dose de calculismo, as probabilidades de levar a discussão do título ao extremo. Tudo resumido em três panoramas: acabar o clássico a 13, 10 ou 7 pontos do rival.

Admitindo como pouco provável uma recta final catastrófica do Benfica, os campeões nacionais sabem que conseguirão, em caso de triunfo na Luz, talvez adiar a passagem de testemunho por mais umas quantas jornadas. E, mesmo sem querer olhar para Sp. Braga e Sporting, “para evitar tropeçar”, será mais a pensar na Champions que os “dragões” se apresentam na Luz.

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