Luta social está a forçar o Governo a responder a custo de vida e habitação, diz PCP
Após reunião do comité central, Paulo Raimundo afirma que o partido tem “condições” para crescer a nível “eleitoral”.
O secretário-geral do PCP recusou nesta segunda-feira que as mais recentes sondagens sejam representativas do declínio das intenções de voto dos comunistas. Pelo contrário, para Paulo Raimundo, o partido está “em condições de alargar a sua influência política, social e eleitoral”, notando uma “receptividade muito positiva” nas ruas.
Foi, aliás, na crescente mobilização social que se tem sentido ultimamente, que o líder do PCP centrou grande parte das suas declarações numa conferência de imprensa, em que apresentou as conclusões da reunião de domingo do comité central acerca da situação do país e das tarefas do PCP.
Desde a sede do partido, em Lisboa, juntamente com os membros do comité central Carlos Fernandes e Adelaide Alves, o líder do PCP considerou que a luta social está a crescer, alargando-se a “amplas camadas”, bem como a forçar o Governo a anunciar medidas, seja no combate à inflação ou na habitação.
“Mesmo que limitadas e insuficientes, sublinha-se que foi a luta que obrigou o Governo a admitir necessidades que até há pouco não queria reconhecer”, declarou.
Admitindo que essa mobilização tem tido a “intervenção, a acção e o papel de mobilização” dos comunistas, embora parta das “reivindicações justas” dos portugueses, Raimundo alertou ainda que, “enquanto não houver respostas, as pessoas terão de continuar a sair”.
Especificamente sobre a manifestação pela habitação de sábado, em que esteve presente, o líder do partido lamentou os confrontos entre os manifestantes e a polícia que, diz, “não deveriam ter acontecido” e que os comunistas “não acompanham”, mas salientou que “o que marca a manifestação não foram esses lamentáveis incidentes”.
Raimundo fala em “regressão social”
Na sua intervenção inicial, o secretário-geral traçou um cenário de “profunda regressão social” devido à “perda de poder de compra”, ao “aumento da pobreza” e à “privação do acesso a bens essenciais” da população, tendo acusado o Governo de aplicar uma política de “subfinanciamento e desinvestimento” ao “serviço dos grupos económicos”, 24 dos quais acumularam 7,6 milhões de euros em 2022, sublinhou.
“O que sobra em excedente orçamental e em redução do défice, com os quais o Governo se enfeita, é o que faz falta e foi retirado à resposta aos problemas nacionais e aos serviços públicos”, disse.
Colocando nas costas do executivo a responsabilidade de travar “o aumento dos salários e pensões”, manter “as normas gravosas da legislação laboral”, degradar “os serviços públicos”, liberalizar “os mercados” ou alimentar “a especulação”, o secretário-geral acusou ainda o executivo de “desviar dinheiros públicos, nomeadamente fundos comunitários para o grande capital”.
Mas não deixou de dirigir também críticas ao “grande capital” por promover “projectos e forças reaccionárias e antidemocráticas”. E traçou como objectivo do partido precisamente “romper com a política de direita em curso e travar os projectos de alternância em preparação”.
Salários e não “premiozinhos”
Questionado pelos jornalistas sobre a legislação laboral, depois das declarações do primeiro-ministro de que as empresas devem aumentar salários, o secretário-geral do PCP sublinhou que já se tornou “clara a urgência do aumento dos salários” e defendeu que se “revertam” os lucros das “entidades patronais”, não em “premiozinhos”, mas nos rendimentos.
Realçou ainda que a agenda do trabalho digno, que entra em vigor a 1 de Maio, não se traduz na “dignidade” dos trabalhadores, antes na falta de “respeito dos direitos e no aperto aos salários de cada um”, já que “consagrou o que o patronato mais ambicionava”: manter a caducidade da contratação colectiva e o “fim do tratamento mais favorável ao trabalhador”.