Siemens investiga funcionária que trabalhou em empresa de hacking russa
No ano passado, 400 pessoas foram expulsas de países europeus por suspeitas de espiarem para a Rússia.
A empresa alemã Siemens anunciou que está a levar a cabo uma investigação interna em ligação com a revelação de que era uma das empresas a empregar pessoas com ligações a uma empresa de hackers russos, segundo a revista Der Spiegel.
A revelação foi feita por uma investigação levada a cabo por um consórcio internacional de jornalistas que inclui, entre outros, o diário britânico The Guardian ou o norte-americano The Washington Post com o nome The Vulkan Files.
O nome deve-se à empresa NTC Vulkan, que tem ligações com os três ramos dos serviços secretos da Rússia – FSB, SVR e GRU, as agências de espionagem externa, interna e militar –, e que foi objecto das fugas de dados, entre 2016 e 2021, entregues por uma pessoa dias após a Rússia ter invadido a Ucrânia.
A fonte decidiu entregar os dados por discordar da guerra, afirmando estar “zangada” com a guerra na Ucrânia. “As pessoas deviam conhecer os perigos disto”, disse a fonte que abordou primeiro o jornal Süddeutsche Zeitung, afirmando que a espionagem russa “se esconde atrás da Vulkan”.
A empresa russa produzia, entre outros, programas que poderiam ser usados para ciberataques ou ataques contra infra-estruturas-chave, como parar comboios ou paralisar computadores de aeroportos, segundo a revista Der Spiegel.
A Siemens tem actividade em transporte, medicina, cibersegurança, entre muitos outros. “Levamos estas questões a sério e estamos a investigar” as alegações de uma trabalhadora que terá sido empregada da NTC Vulkan.
Entre antigos trabalhadores da NTC Vulkan está uma pessoa a trabalhar na Amazon Web Services em Dublin, uma empresa que é uma das maiores do mundo no fornecimento de serviços de computação na cloud e tem entre os seus clientes a NASA ou a Marinha dos Estados Unidos.
“A natureza intrusiva e destrutiva das ferramentas que a Vulkan foi contratada para desenvolver levanta questões difíceis para os programadores informáticos que trabalharam nestes projectos”, escreve pelo seu lado o Guardian. “São cibermercenários? Ou espiões russos? Alguns são. Outros podem ser meras peças numa máquina, realizando tarefas importantes para o seu complexo cibermilitar.”
A Alemanha teve, recentemente, um dos casos mais graves de espionagem russa na Europa, com um funcionário dos próprios serviços secretos alemães (BND) a passar informação a Moscovo.
O caso seguiu-se a expulsões nos Países Baixos, Noruega, Suécia, Áustria, Polónia e Eslovénia, o que o diário norte-americano The Washington Post considera serem “ataques de precisão contra agentes russos que ainda estejam na Europa depois da expulsão de mais de 400 funcionários de embaixadas de Moscovo pelo continente no ano passado”.
A Rússia tem tentado compensar a falta destes agentes com novas chegadas, por um lado, e um foco em operações de ciberespionagem, por outro, continua o diário norte-americano. Mas estas pessoas que chegam de novo “não têm a protecção e as vantagens de trabalhar em embaixadas russas”, disseram responsáveis ao Post, “e podem não ter a experiência, fontes e treino dos que foram considerados personae non gratae”.
Talvez por isso, tem havido registo de tentativas de Moscovo enviar espiões detectados e expulsos de uma capital europeia para outra, relata ainda o Post, “tentando explorar vulnerabilidades na coordenação dos serviços secretos do continente”.
Se a Rússia conseguiu, apesar disso, manter capacidades significativas, como avisam responsáveis europeus e americanos, a magnitude da reacção dos países europeus parece ter apanhado Moscovo de surpresa. E a degradação que aconteceu após a invasão da Ucrânia foi notória, disse Antti Pelttari, director do serviço de espionagem externa da Finlândia, também ao diário norte-americano: “O mundo é neste momento bastante diferente para os serviços russos.”