Profissionais da educação levaram a luta pela escola pública a Bruxelas

Um grupo de 140 profissionais viajou de Portugal para dar conta do seu protesto junto do Parlamento Europeu. “Viemos dar a cara. Estamos aqui e estamos a ter voz”, disse o porta-voz da iniciativa.

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A expensas próprias, e sem o suporte de nenhuma estrutura sindical, um grupo constituído por cerca de 140 profissionais da educação rumou de Portugal até Bruxelas, para uma jornada de luta junto do Parlamento Europeu em que deram conta da sua revolta, indignação e preocupação com a situação do ensino e o estado da escola pública — e onde entregaram quatro petições distintas, em nome dos docentes, técnicos especializados, assistentes técnicos e assistentes operacionais, que reivindicam “uma educação de qualidade”.

“Não somos uma classe feliz, estamos cansados, esgotados, deprimidos e assim não conseguimos motivar os nossos alunos”, lamentava Dulce Salgueiro, que esta terça-feira trocou a sala de aula, em Chaves, pela Place Luxembourg, em frente do Parlamento Europeu, de Bruxelas. Ao seu lado, Paula Magalhães, vinda de Mirandela, resumia o propósito da viagem: “Esperamos que as pessoas que nos vêem se perguntem o que leva um grupo tão grande de professores, de Trás-os-Montes ao Algarve, a manifestar-se em Bruxelas”.

E o que os levou foi o sentimento de que as suas reivindicações não estão a ser ouvidas pelo poder político em Portugal. Organizado espontaneamente através de conversas no Facebook, o grupo levou a cabo uma vigília no jardim da Place Luxembourg, que enfeitaram com bandeiras, balões e faixas a exigir “Respeito”: segundo os manifestantes, o protesto em Bruxelas é mais uma forma de “pressionar”, e até de “envergonhar”, o Governo português.

“A nossa luta já começou há meses, mas conhecemo-nos todos ontem”, dizia Suzana Cerqueira, recordando as razões do protesto: “A recuperação do tempo de serviço, a mobilidade por doença, a eliminação das quotas de acesso ao 5.º e 7.º escalão, a precariedade, e a ilegalidade de termos, dentro do mesmo Estado-membro, dois sistemas diferentes para os professores… não pode ser.”

Marisa Pires, que já no avião envergava a T-shirt preta que os manifestantes vestiram em Bruxelas lembrava que “esta não é uma luta da classe docente, ou de interesses individuais, mas em favor de uma educação de qualidade e da escola pública”. E dizia ter percebido, ainda a bordo do voo para Bruxelas, que “a maioria das pessoas percebe a nossa luta, e está do nosso lado”.

Esta terça-feira de manhã, enquanto uma parte dos manifestantes repetia refrões e palavras de ordem na rua, uma delegação mantinha, separadamente, reuniões com eurodeputados portugueses de vários grupos políticos, a quem repetiram a mensagem de defesa da escola pública e apresentaram as reclamações e reivindicações da comunidade educativa.

Apesar de leccionar a disciplina de Educação Física, João Rodrigues, da Figueira da Foz, levou para as reuniões um pêndulo de Newton, um “auxiliar” utilizado no ensino para explicar a distribuição das forças, e com o qual procurou demonstrar um dos muitos argumentos apresentados nas conversas. “O que nós queremos mostrar é que estamos todos unidos e ao mesmo nível, e que, assim que o investimento seja feito, nós garantimos que o retorno será ou na mesma proporção ou até superior”, explicava, ao ritmo dos movimentos do pêndulo.

No final das reuniões, João Afonso, que foi o porta-voz dos manifestantes que vieram de Lisboa, e também do Porto, Coimbra, Fafe, Pombal, Évora, Alcácer do Sal, Olhão, Lagoa, entre muitos outros pontos do país, confessava a sua satisfação com o sucesso da iniciativa. “Viemos dar a cara. Estamos aqui e estamos a ter voz. E saímos daqui com muita esperança e de coração cheio”, confessava aos jornalistas.

“Viemos aqui mostrar os nossos casos pessoais; viemos mostrar o que efectivamente acontece no dia-a-dia das nossas escolas”, relatava João Afonso, que foi o porta-voz dos manifestantes, no final dos encontros. “Quando apresentamos as coisas e contamos os nossos casos, deixando de ser números e passando a ser pessoas, toda a gente reconhece que algo tem que ser feito. Qualquer que seja a cor política, todos reconhecem que há coisas que não podem acontecer nas nossas escolas, e estão a acontecer constantemente”, referiu.

Os manifestantes ouviram palavras de encorajamento em quase todas as conversas com os eurodeputados, que não deixaram de mencionar as suas “limitações” de competências para poderem oferecer uma resposta para os problemas que foram identificados. Mas todos prometeram amplificar os apelos políticos que lhes foram transmitidos — em Bruxelas, mas, principalmente, em Portugal.

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