A “França enraivecida” volta a encher as ruas contra a reforma das pensões
Nova jornada de luta com protestos em várias cidades francesas. Em Paris, Bordéus, Nantes, Rennes e Toulouse houve confrontos com a polícia.
As ruas de França voltaram a encher-se esta terça-feira com novos protestos contra a impopular reforma das pensões, com manifestantes a bloquear ferrovias e auto-estradas e a entrar em confrontos com a polícia em Paris e nas cidades de Bordéus, Nantes, Rennes e Toulouse.
Em Nantes, no Oeste do país, a fachada de uma agência bancária do BNP Paribas foi incendiada, bem como vários automóveis, e a polícia foi recebida com cocktails-molotov por parte de alguns manifestantes. Também no Oeste da França, os manifestantes bloquearam o anel rodoviário de Rennes e incendiaram um carro abandonado.
Em Paris, onde dezenas de trabalhadores ferroviários bloquearam logo pela manhã uma das principais estações de comboios da capital, a Gare de Lyon, um manifestante captou o clima de contestação que tem marcado as últimas semanas, brandindo uma faixa que dizia: “A França enraivecida.”
“O projecto de lei das reformas funcionou como um catalisador para a raiva sobre as políticas de Macron”, disse Fanny Charier, de 31 anos, que trabalha para a Pole Emploi, a agência governamental de emprego.
No início do dia, o Governo rejeitou uma nova exigência por parte dos sindicatos para suspender e repensar o projecto de reforma das pensões, que aumenta a idade de reforma dos 62 para os 64 anos, enfurecendo os dirigentes sindicais, para quem deve ser o executivo a encontrar uma saída para a crise. “Propusemos uma saída... e é intolerável que estejamos a ser obstruídos novamente”, disse o líder do sindicato CFDT, Laurent Berger, aos jornalistas, no início de um comício em Paris.
O Governo disse que está mais do que disposto a conversar com os sindicatos, mas sobre outros assuntos, repetindo que se manterá firme na questão das pensões.
Emmanuel Macron, que prometeu levar para a frente a reforma do sistema de pensões em ambas as suas campanhas presidenciais, diz que a mudança é necessária para manter equilibradas as finanças do país. Sindicatos e partidos de oposição dizem que há outras maneiras de o fazer.
Milhões de pessoas têm-se manifestado nas cidades de França desde meados de Janeiro para mostrar a sua oposição ao projecto de lei, mas a frustração pública evoluiu entretanto para um sentimento anti-Macron mais amplo.
Os protestos intensificaram-se e as greves sucederam-se desde que o Governo usou poderes especiais para aprovar o projecto de lei no Parlamento sem votação, utilizando o artigo 49.3 da Constituição francesa.
No último grande dia de protestos, na passada quinta-feira, anarquistas do Black Bloc estilhaçaram vitrinas, destruíram paragens de autocarros e saquearam um restaurante McDonald's em Paris, com actos semelhantes a registarem-se em outras cidades de França.
“Não sou violento, mas compreendo as pessoas que se excedem nos protestos”, disse Noel Cassin, de 69 anos, carteiro reformado de Nantes. “Ir a uma manifestação para cantar e comer salsichas, e voltar para casa depois de perder um dia de trabalho sem obter qualquer resultado, é inútil”, acrescentou.
Na segunda-feira, o ministro do Interior, Gerald Darmanin, dissera que as autoridades previam um “risco muito sério à ordem pública” nas manifestações desta terça-feira, tendo mobilizado 13 mil agentes da polícia.
Darmanin afirmou que mais de 1000 “manifestantes radicais”, alguns do estrangeiro, poderiam aderir às marchas pacíficas planeadas para Paris e outras cidades.
“Vêm para destruir, ferir e matar polícias e gendarmes. Os seus objectivos não têm nada a ver com a reforma da segurança social. Os seus objectivos são desestabilizar as nossas instituições republicanas e trazer sangue e fogo para a França”, declarou o ministro na segunda-feira, ao detalhar as medidas de policiamento.