Como são as armas nucleares tácticas que a Rússia vai colocar na Bielorrússia?

Putin anunciou que a Rússia iria colocar armas nucleares tácticas no território da Bielorrússia, mais destrutivas do que uma ogiva convencional.

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As armas nucleares tácticas têm mais do triplo do peso e maior capacidade destrutiva do que a bomba lançada sobre Hiroxima em 1945 Reuters/STRINGER

O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou no último sábado que vai colocar armas nucleares tácticas na Bielorrússia, em resposta ao anúncio da entrega de munições com urânio empobrecido ao exército ucraniano pelo Reino Unido.

Na última segunda-feira, o Ministério da Defesa britânico confirmou que iria fornecer à Ucrânia munições perfurantes contendo urânio empobrecido. No dia seguinte, Putin alertou que Moscovo “responderia da mesma forma, afirmando que o Ocidente estava a começar a “usar armas com ‘componentes nucleares’”, o que Washington negou.

No sábado, Putin anunciou que a Rússia iria colocar armas nucleares tácticas no território da Bielorrússia, país aliado e que tem servido de porta de entrada para a invasão na Ucrânia. Vários países ocidentais já alertaram para os riscos desta escalada.

O que são armas nucleares tácticas?

As armas nucleares tácticas têm uso militar real contra uma força hostil, e a definição académica mais difundida é a de que são bombas de um a 50 quilotoneladas montadas em projécteis com alcance até 500 quilómetros.

Para se ter uma ideia da magnitude, a bomba lançada pelos Estados Unidos da América (EUA) sobre Hiroxima em 1945 tinha 15 quilotoneladas e foi lançada de um bombardeiro.

As armas nucleares tácticas, no entanto, podem ser lançadas, no caso da Rússia, a partir de navios, aviões e até por forças terrestres.

Este armamento é mais destrutivo do que uma ogiva convencional, embora tenha a mesma energia explosiva, e cause contaminação por radiação que afecta o ar, o solo, a água e a cadeia alimentar.

Esses tipos de armas nucleares tácticas não foram incluídos em nenhum acordo de controlo. As armas nucleares de médio alcance constam apenas no tratado de Forças Nucleares de Médio Alcance, em vigor de 1987 a 2018.

Qual é a capacidade de dissuasão deste tipo de armamento?

As armas nucleares estratégicas, usadas como forma de dissuasão através da ameaça de destruição mutuamente assegurada, dominaram o período da Guerra Fria. Os EUA e a Rússia reduziram o arsenal destas armas de 19.000 e 35.000, respectivamente, para 3700 e 4480 até Janeiro de 2022.

“Ataques nucleares em larga escala são considerados impraticáveis. As armas nucleares estratégicas estão a perder valor dissuasivo numa guerra entre potências nucleares. As armas nucleares tácticas são mais prováveis de serem usadas, em teoria, como forma de dissuasão de um país, disse à agência Europa Press a professora de Relações Internacionais Nina Srinivasan Rathbun, da University of Southern California, nos EUA.

Apesar do maior poder, a utilidade militar das armas nucleares tácticas é questionável, pois as bombas com explosivos convencionais estão a tornar-se mais poderosas, a ponto de os Estados Unidos reduzirem o número armazenado. A maior parte do arsenal norte-americano, de 150 bombas nucleares B61, está na Europa.

A França e o Reino Unido eliminaram completamente os arsenais tácticos, embora Paquistão, China, Índia, Coreia do Norte e Israel os mantenham.

Qual a utilidade militar das armas nucleares tácticas?

Estudos militares norte-americanos concluíram que uma bomba nuclear táctica de uma quilotonelada precisaria de ser detonada a 90 metros de um tanque de batalha para causar danos sérios. Estudos sobre o uso desta bomba num conflito nuclear entre a Índia e o Paquistão sugerem que uma bomba nuclear táctica paquistanesa de cinco quilotoneladas usada contra um regimento de tanques de batalha indianos poderia destruir cerca de 13 tanques.

A Rússia, por sua vez, possui cerca de 2000 bombas nucleares tácticas que desempenham um papel muito importante na respectiva estratégia nuclear, principalmente pela menor capacidade e pelos avanços tecnológicos em armas convencionais.

Este armamento é principalmente preparado para uso em mísseis ar-superfície, mísseis balísticos de curto alcance, bombas de gravidade e cargas de profundidade transportadas por bombardeiros tácticos de médio alcance ou por torpedos antinavios ou anti-submarino.

Nos últimos anos, a Rússia desenvolveu mísseis convencionais e nucleares de uso duplo, o que causou preocupação em Washington, já que não se sabe que tipo de ogiva explosiva transporta.

Em particular, foi ampliada a fabricação dos mísseis Iskander-M, que já foram utilizados para atacar alvos específicos na Ucrânia, sempre com explosivos não nucleares.

No entanto, o uso de armas nucleares russas na Ucrânia não parece muito lógico para Nina Srinivasan Rathbun.

Acho que não atingiria nenhum objectivo militar. Iria contaminar o território que a Rússia considera parte do seu império histórico e provavelmente afectaria a própria Rússia. Aumentaria as chances de uma intervenção directa da NATO e destruiria a imagem da Rússia no mundo”, afirmou a especialista.

Por esse motivo, comparou a implantação de armas nucleares russas na Bielorrússia com o efeito da bomba Tsar, o maior explosivo nuclear já detonado, desenvolvido pela União Soviética e detonada no mar de Barents em 1961. Tinha mais de 50 megatoneladas de potência, o tamanho tornava-a pouco útil num conflito, mas cumpria a função de propaganda.