Já regressaram a Atenas os três mármores do Pártenon que estavam no Vaticano há dois séculos
Grécia celebra acto de “importância histórica” — e volta a sublinhar vontade de reaver as esculturas que estão na posse do Museu Britânico.
Três fragmentos do Pártenon que estavam na posse do Vaticano desde o século XIX foram na sexta-feira oficialmente devolvidos à Grécia. As três cabeças de mármore — representando um cavalo, uma criança e uma figura masculina com barba — regressam assim ao seu país de origem. “Este acto do Papa Francisco é de importância histórica e tem um impacto positivo a múltiplos níveis. O meu desejo é que outros o imitem”, declarou, numa cerimónia oficial, o líder da Igreja Ortodoxa Grega, Jerónimo II, reafirmando o que já dissera no início deste mês, quando o Vaticano oficializou a devolução destes três fragmentos.
Citada pelo jornal britânico The Guardian, a ministra da Cultura e do Desporto da Grécia, Lina Mendoni, descreveu a decisão do Papa de restituir estes mármores como heróica. Gestos como este, acrescentou, “mostram como as peças do Pártenon podem ser reunidas, curando as feridas causadas por mãos bárbaras há tantos anos”. As peças foram colocadas na Galeria do Pártenon do Museu da Acrópole de Atenas.
Este acto do Vaticano, que no início deste mês o Papa Francisco descreveu como uma “doação” a Jerónimo II e um “sinal concreto” do seu “desejo sincero de continuar no caminho ecuménico”, surge numa altura em que a restituição de património espoliado aos respectivos países de origem vem sendo muito discutida. Lina Mendoni sublinhou esta sexta-feira que a “exigência justa e moral de todo o povo grego, e deste Governo e do seu primeiro-ministro”, Kyriákos Mitsotákis, é a “devolução definitiva” de todas as restantes esculturas do Pártenon.
O Museu Britânico tem na sua posse, há mais de 200 anos, uma colecção relevante de mármores do Pártenon, removidos do templo ateniense no início do século XIX a mando de Lord Elgin (1766-1841) — embaixador britânico no Império Otomano, que então dominava a Grécia. Atenas anda há já muito tempo a lutar pela restituição deste património.
Em Dezembro, foi noticiado que governantes gregos e o presidente do conselho de administração do Museu Britânico mantinham há mais de um ano negociações sobre o futuro dos mármores. Porém, declarações recentes do primeiro-ministro britânico permitem perceber que as conversas ainda não chegaram a bom porto.
Há alguns dias, Rishi Sunak deixou claro que pretende manter as peças em solo inglês. “O Reino Unido tem cuidado dos mármores de Elgin ao longo de várias gerações. As nossas galerias e museus são financiados pelos contribuintes, pois constituem um grande activo para este país. Nós partilhamos os seus tesouros com o mundo e o mundo vem ao Reino Unido para os ver. A colecção do Museu Britânico encontra-se protegida pela lei e não temos planos para mudar isso”, afirmou.
A Grécia defende que os mármores da colecção do Museu Britânico devem ser restituídos a título definitivo, mas o Governo de Rishi Sunak não terá “intenção de mudar o British Museum Act”, quadro legislativo que “impossibilita o museu de devolver qualquer colecção permanentemente, excepto em circunstâncias muito limitadas”, escreve o Guardian.
O jornal Business Standard refere que o museu “poderia negociar um empréstimo das esculturas”, mas Lisa Mendoni frisa que o seu país não pode aceitar o empréstimo de um património que considera ter-lhe sido roubado. A ministra da Cultura e do Desporto da Grécia diz que, a haver acordo para a devolução dos mármores, a Grécia poderá estar disposta a emprestar ao Museu Britânico artefactos antigos para “preencher os lugares vazios” nos espaços expositivos, mas insiste que o objectivo é que os mármores do Pártenon voltem para Atenas e de lá não saiam mais.
Segundo o site dos Museus do Vaticano, o mármore da cabeça de cavalo representa um dos animais que puxavam a carruagem de Atena, uma das principais divindades do panteão grego — deusa da sabedoria, da luta estratégica e da justiça, por exemplo.
Sobre os mármores das duas cabeças humanas, acredita-se que a criança tenha sido originalmente retratada transportando uma bandeja de bolos votivos no quadro de uma procissão em honra de Atena incluída nas festas Panateneias, indica a mesma fonte. A cabeça do homem com barba figuraria por sua vez numa das métopas da parte sul do templo, integrando um conjunto escultórico onde se representaria uma batalha entre os Lápitas (povo originário da Tessália, segundo a mitologia grega) e os centauros.