Ministro israelita nega existência do povo palestiniano

Autoridade Palestiniana pede ao Tribunal Penal Internacional que emita “imediatamente” um mandado de detenção para Bezalel Smotrich, que chamou aos palestinianos “uma invenção”.

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Bezalel Smotrich, ministro das Finanças de Israel RONEN ZVULUN/Reuters

O novo ministro das Finanças de Israel negou a existência do povo palestiniano, chamando-lhe “uma invenção com menos de 100 anos”. Bezalel Smotrich, que integra a aliança de extrema-direita Sionismo Religioso, afirmou que “não existem palestinianos porque não existe um povo palestiniano”.

As declarações foram condenadas pela União Europeia e por países como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, enquanto a Autoridade Palestiniana pediu ao Tribunal Penal Internacional que emita um mandado de detenção contra o ministro.

Smotrich pronunciou-se em Paris, numa cerimónia de homenagem póstuma a um membro do Likud, o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Falando num púlpito coberto com um mapa da chamada “Grande Israel”, que inclui o território da actual Jordânia, o governante declarou-se a si próprio como palestiniano, argumentando que a sua avó, nascida há 100 anos junto à fronteira com o Líbano, e o seu avô de Jerusalém eram “palestinianos reais”.

“Existe uma História ou cultura palestinianas? Não. Havia árabes no Médio Oriente que chegaram à terra de Israel ao mesmo tempo que a emigração judaica e o início do sionismo. Depois de 2000 anos de exílio, o povo de Israel estava a regressar a casa e havia árabes em redor que não gostavam”, afirmou Smotrich, citado pelo Al-Monitor. “Então o que é que fazem? Inventam um povo fictício na terra de Israel e reivindicam direitos fictícios apenas para combater o movimento sionista.”

Enquanto era aplaudido pela plateia, Bezalel Smotrich repetiu que “esta é a verdade histórica” e “a verdade bíblica”, insistindo que ela “tem de ser ouvida no Palácio do Eliseu”. Tanto Emmanuel Macron como o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês fizeram saber antecipadamente que não teriam qualquer contacto com o governante israelita durante a sua passagem por Paris, que se resumiu à participação naquela cerimónia.

Ainda assim, a Autoridade Palestiniana criticou “as autoridades francesas [por] permitirem que o terrorista racista Smotrich formulasse declarações racistas e fascistas no seu território”. Em comunicado, citado pela agência Europa Press, o Ministério dos Negócios Estrangeiros palestiniano pede a França que “não deixe que o território francês se converta numa plataforma para o racismo, o fascismo e o terrorismo israelitas”.

Além disso, o ministério pediu ao Tribunal Penal Internacional que emita um mandado de captura para Bezalel Smotrich “imediatamente”, considerando que as suas palavras “criam um clima para o crescimento do extremismo e o terrorismo judio contra o povo palestiniano”.

Josep Borrell, que lidera a diplomacia da União Europeia, disse na segunda-feira que as palavras de Smotrich eram “um comentário inaceitável”, “errado e desrespeitoso”, “perigoso” e “contraproducente” num momento em que “a situação já é bastante tensa”. Reafirmando o compromisso europeu com a solução de dois Estados, afirmou: “Lamento se alguns não gostam de ouvir este tipo de coisas, mas é a posição da União Europeia. (…) Consegue imaginar se um líder palestiniano tivesse dito que ‘o Estado de Israel não existe’? Qual teria sido a reacção?”

As declarações do ministro de Netanyahu foram feitas quase ao mesmo tempo em que decorria, no Egipto, uma reunião entre israelitas e palestinianos, de onde saíram renovadas promessas de pacificação do conflito. “Os dois lados concordaram em estabelecer um mecanismo para reduzir a violência, a instigação e as declarações e acções incendiárias”, diz um dos pontos do comunicado conjunto divulgado no fim do encontro.

O primeiro-ministro da Palestina, Mohammad Shtayyeh, considerou que as palavras de Smotrich são um exemplo da “ideologia racista, extremista e sionista que controla o actual Governo israelita” e considerou o ministro como “falsificador da História”. “Fomos nós que demos à Palestina o seu nome, o seu valor e estatuto. Esta terra é nossa e Israel é um Estado colonial, criado por colonialistas e colonos”, declarou, citado pelo Times of Israel.

Esta não foi a primeira vez no curto mandato do actual Governo que Bezalel Smotrich causou indignação por coisas que disse ou fez. No fim de Fevereiro, quando dois homens de um colonato judaico na Cisjordânia foram mortos por um palestiniano, o ministro fez “gosto” a um tweet de um responsável do conselho dos colonos da Samaria que apelava à destruição de Hawara, uma localidade palestiniana próxima do colonato. Um grupo com cerca de 400 colonos entrou em Hawara, incendiou casas e carros, agrediu habitantes e matou a tiro um deles.

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