Ramalho Eanes “desgostoso” com o caso que envolve militares do navio Mondego
Antigo Presidente da República não quis fazer comentários sobre a polémica na Marinha e disse acreditar que a ministra e o chefe de Estado saberão resolver o assunto.
O antigo chefe de Estado português Ramalho Eanes afirmou nesta segunda-feira que o caso dos 13 militares que se recusaram a embarcar no navio Mondego, deixou-o "desgostoso" enquanto militar e cidadão, recusando tecer mais comentários.
"Obviamente que tenho uma opinião e devo dizer que tudo isto me desgostou profundamente, enquanto militar e enquanto cidadão. Mas não vou substituir-me a quem, no Estado, tem a responsabilidade de comentar esta questão e, inclusivamente, esclarecer os portugueses sobre aquilo que se passa", afirmou o general Ramalho Eanes em Castelo Branco.
O NRP (Navio da República Portuguesa) Mondego não cumpriu, na noite do passado dia 11, uma missão de acompanhamento de um navio russo a norte da ilha do Porto Santo, na Madeira, porque 13 dos militares da guarnição (quatro sargentos e nove praças) se recusaram embarcar por razões de segurança.
O chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, em declarações, na quinta-feira, no Porto do Funchal, criticou os militares do navio Mondego que desobedeceram às ordens, considerando que o caso é de "uma gravidade muito grande" e que a "Marinha não pode esquecer, ignorar ou perdoar actos de indisciplina".
O antigo Presidente da República falava aos jornalistas no final de uma cerimónia de homenagem que a Câmara de Castelo Branco lhe prestou, hoje, no âmbito das comemorações do 252º aniversário da cidade, com a atribuição do seu nome a uma avenida da cidade.
"Eu disse que quando recusei a promoção a marechal foi porque entendia que não devia ser um elemento de perturbação das Forças Armadas. Não vou, naturalmente, ultrapassar isso, para não dizer nada sobre aquela questão. Entendo que a instituição militar, a ministra da Defesa e o Presidente da República deverão saber resolver [o problema] de uma forma capaz", salientou.
Ramalho Eanes sublinhou ainda que ficou sensibilizado com a homenagem que lhe foi feita pela Câmara de Castelo Branco. "Sensibiliza-me muito esta ideia da avenida com o meu nome. Eu sinto-me tão alcainense como albicastrense, por razões que se prendem com a minha infância e da minha vida adulta", referiu.
Questionado sobre o estado do país, 50 anos após o 25 de Abril de 1974, o antigo chefe de Estado disse que Portugal "melhorou de uma maneira extremamente interessante". "O país hoje não tem nada a ver com o Portugal que era antes do 25 de Abril. Os fundos europeus permitiram que nós realizássemos milagres. Um dos milagres é termos um Estado social igual aos Estados sociais europeus", sustentou.
Contudo, Ramalho Eanes entende que, posteriormente, "não fizemos aquilo que era indispensável: definir um projecto de vida em comum, que fizesse com que todos se sentissem unidos no trabalho para chegar a um objectivo".
No âmbito das comemorações do 252.º aniversário da elevação de Castelo Branco a cidade, o antigo chefe de Estado foi homenageado numa sessão na câmara municipal. Seguiu-se a inauguração da Avenida General António Ramalho Eanes, em Castelo Branco.
António Ramalho Eanes nasceu em Alcains (vila do concelho de Castelo Branco) e mudou-se, com menos de três anos, com os pais, para Castelo Branco. Foi na cidade albicastrense que viveu e estudou até ir para Lisboa, para frequentar a antiga Academia do Exército. António Ramalho Eanes foi eleito Presidente da República em Junho de 1976 e em Dezembro de 1980.
Afastado da vida política activa, Ramalho Eanes continua, enquanto elemento da sociedade civil, a intervir em assuntos que considera de relevância, especialmente cívica e cultural, nomeadamente através da sua participação em congressos e conferências sobre diversos temas (culturais, políticos, sociais e sociológicos, geopolíticos e geoestratégicos), em fóruns especializados, autarquias e universidades, entre outros, em Portugal e no estrangeiro.
Em 2000, rejeitou a promoção a marechal. Actualmente é, por inerência (como todos os Presidentes, que tenham já cumprido os seus mandatos e tenham sido eleitos na vigência da actual Constituição), conselheiro de Estado vitalício.