Beja recebeu lista com cinco suspeitos de abuso sexual, mas todos já morreram
Casos remontam às décadas de 60, 70 e 80 e suspeitos já morreram. Há outros quatro casos, denunciados entre 2001 e 2020 e referidos nos arquivos, que “mereceram o devido e obrigatório encaminhamento”.
A diocese de Beja recebeu uma lista com cinco nomes, quatro sacerdotes e um leigo, suspeitos de terem cometido abusos sexuais contra crianças e jovens. Estes nomes foram apurados na sequência do estudo realizado pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica e referem-se a pessoas que já morreram, informou a diocese liderada pelo bispo D. João Marcos.
De acordo com o comunicado da diocese de Beja, das situações reportadas nenhuma “consta dos arquivos da diocese ou foi de alguma forma denunciada junto da mesma” e não foi possível “apurar os factos e contornos das denúncias” pelos elementos disponíveis. “É assim, de todo, impossível e ineficaz fazer quaisquer diligências de investigação. Todavia, manifestamos o nosso compromisso, zelo e empenho em prestar o apoio necessário a qualquer vítima que pudermos identificar”, acrescenta o documento, citado pela Agência Ecclesia.
Um dos casos identificados remonta a 1963 e envolveu um "sacerdote que viveu na cidade de Beja e, na sequência do ocorrido, deixou a diocese”. O outro terá ocorrido na segunda metade da década de 60 e está relacionado “com um sacerdote que tinha responsabilidades na educação de crianças”. Há ainda outro nome que aparece "numa situação bastante vaga" e que será um leigo que exercia funções de sacristão em Moura.
O outro caso “situa-se no ano de 1978 e está relacionado com um sacerdote de Serpa ou de uma freguesia do mesmo concelho”, e o último “diz respeito a uma situação ocorrida nos inícios da década de 80, em Mértola e trata-se de um sacerdote que ali se encontrava, mas não era o pároco da vila”.
Além destes casos, a diocese de Beja esclareceu ainda que nos seus arquivos constam quatro casos “denunciados entre os anos 2001 e 2020" e que estes "mereceram o devido e obrigatório encaminhamento, tanto civil como canónico". Num dos casos a sentença foi a “demissão do estado clerical” de um sacerdote, noutro o sacerdote em causa foi absolvido, o terceiro foi “investigado internamente e entregue à Polícia Judiciária e posteriormente arquivado por falta de provas” e o quarto resultou na expulsão do seminário de um leigo em formação para o sacerdócio, e “o assunto foi entregue às autoridades civis e julgado no Tribunal da Comarca de Beja, aguardando-se a sentença”, detalha o comunicado.
Sem denúncias que "aguardem acção"
A diocese de Beja reforça, assim, que "não existe qualquer denúncia, tenha ela sido comunicada ou esteja em arquivo na Diocese de Beja, que não tenha merecido o devido seguimento, nem tampouco existe qualquer caso actual que aguarde acção" da diocese.
O bispo de Beja, D. João Marcos, reafirma ainda o compromisso “em colaborar com as autoridades civis e eclesiásticas” com transparência e rigor, “tratando com imparcialidade e firmeza eventuais situações de abuso, sexuais ou quaisquer outros, e a trabalhar em conjunto com todos os que servem o bem comum nas nossas comunidades, sobretudo junto dos mais novos”.
Esta posição surge depois de D. João Marcos ter admitido que os padres suspeitos de abusos sexuais que demonstrem arrependimento e reparem os actos cometidos poderiam ser perdoados pela Igreja. “Todos somos pecadores, todos somos limitados, todos temos falhas. Esta maneira de abordar não é muito católica. Na Igreja Católica, existe o perdão", disse o clérigo numa entrevista à SIC. No entanto, estas declarações mereceram-lhe duras críticas, que o levaram a fazer um pedido de desculpa e a defender que a investigação dos casos deve ser rápida e resultar na aplicação "da lei civil e penal".
As listas entregues pela comissão independente às 21 dioceses portuguesas (20 diocesanas a que se soma a das Forças Armadas e de Segurança) somaram 108 nomes de clérigos e leigos suspeitos de terem cometido abusos sexuais contra crianças e jovens no seio da Igreja.
Entre estes casos, mais de 40 são referentes a padres ou leigos já falecidos. Ainda assim, cinco padres e um leigo foram afastados preventivamente de funções, enquanto decorre a respectiva investigação prévia destinada a avaliar a veracidade das acusações e, se for caso disso, a iniciar o processo canónico.