Abusos sexuais: dioceses afastaram até agora cinco padres preventivamente
Braga recebeu lista com oito nomes, um padre foi afastado. Três dos clérigos referenciados já morreram, um outro foi alvo de um processo civil e foi absolvido.
Dois padres, um em Braga e outro na Guarda, foram afastados preventivamente do exercício de funções, informaram as arquidiocese e diocese, respectivamente, nesta sexta-feira em comunicado. O número de sacerdotes afastados até ao momento sobe, assim, para cinco — a juntar aos dois clérigos em Angra e um em Évora, que viram aplicada a mesma medida cautelar.
Em comunicado, a Arquidiocese de Braga dá conta de que a lista entregue ao arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, continha oito nomes. "Um último nome diz respeito a um sacerdote que, depois de um diálogo com o senhor arcebispo, foi afastado preventivamente do exercício público do ministério sacerdotal", lê-se no comunicado.
Segundo aquela entidade, a decisão "não prejudica o princípio da presunção de inocência". Antes, explica-se, pretendem cumprir-se as "linhas orientadoras de acção da Igreja em matéria de abusos sexuais de menores".
Quanto à Diocese da Guarda, é feita a mesma ressalva e deu-se início a uma investigação. Segundo a diocese, o padre já tinha sido alvo de denúncia anónima, o que terá sido comunicado ao Ministério Público pelo bispo da Guarda, Manuel Felício, adianta a Ecclesia.
Já a Diocese de Lisboa, que se reuniu nesta quinta-feira, deverá anunciar nesta sexta-feira uma decisão sobre as denúncias de abusos sexuais na igreja identificadas pela comissão independente, disse o bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar.
Em Viseu, o bispo António Luciano Costa fez saber nesta quinta-feira que já tinha conhecimento dos nomes dos cinco sacerdotes da diocese indicados pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica. "Todos estes já eram do meu conhecimento e já tinham sido tratados segundo as normas aplicáveis, quer a nível canónico, quer a nível civil, tendo também sido entregues ao Ministério Público", referiu o bispo, em comunicado.
Contudo, não é claro se os cinco sacerdotes foram afastados das suas funções. O PÚBLICO já questionou a diocese em causa sobre o assunto e aguarda resposta.
"Investigação será aprofundada"
Da lista entregue ao arcebispo de Braga constam ainda três nomes de padres que já morreram. Foi ainda referenciado um sacerdote que não pertence à Arquidiocese de Braga, "nem se encontra nos arquivos" qualquer referência a seu respeito. "A investigação será aprofundada, tendo sido pedida mais informação à comissão independente", garante aquele organismo.
Outro sacerdote da lista "foi alvo de um processo civil, tendo sido absolvido". Há ainda um outro que foi alvo de um processo canónico por abuso sexual de menores já concluído e "que resultou na aplicação de medidas disciplinares em vigor", explica a diocese, sem referir que medidas são essas. "Se se verificar que os testemunhos recolhidos pela comissão independente configuram novos factos, será iniciado um novo procedimento canónico."
Há ainda o caso de um nome que "corresponde a um agente pastoral, que por falta de elementos de identificação não foi ainda possível identificar, estando em curso diligências nesse sentido".
A iniciativa das cinco dioceses surge na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
O grupo de trabalho validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.
Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, divulgado em Fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais "devem ser entendidos como a ponta do icebergue" deste fenómeno.
A comissão entregou aos bispos diocesanos listas de alegados abusadores, alguns ainda no activo.
Na quarta-feira, a Diocese de Angra, nos Açores, e a Arquidiocese de Évora, anunciaram a suspensão cautelar de três sacerdotes, enquanto decorrem investigações sobre alegados casos de abuso por eles praticados. com Lusa