Resultado líquido da Modelo Continente caiu 17,8% e margem desceu para 2,7%

Volume de negócios aumentou 11,5%, abaixo dos 13% da inflação alimentar em 2022. Grupo Sonae com prejuízo de 10 milhões no quarto trimestre.

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Cláudia Azevedo completa quatro anos na liderança do grupo Sonae Jose Sergio / PUBLICO

A Modelo Continente (MC), o negócio do grupo Sonae (proprietário do PÚBLICO) que agrega o retalho alimentar, “registou uma redução da rentabilidade em 2022”. De acordo com a informação divulgada esta quinta-feira ao mercado, o grupo liderado por Cláudia Azevedo explica que “ao absorver parte dos aumentos de custos dos produtos e dos impactos da inflação, o resultado líquido da unidade de retalho alimentar da Sonae diminuiu 17,8% em 2022, para 179 milhões de euros”, valor que traduz “uma margem de lucro de 3,0%, sendo que nos formatos alimentares a margem foi de 2,7%”.

Numa altura em que o sector da distribuição tem sido acusado de praticar margens elevadas, agravando a inflação dos bens alimentares, o grupo liderado por Cláudia Azevedo, destaca que "o esforço da MC em suportar parcialmente o aumento dos vários custos para proteger os seus clientes, e o efeito de mix e movimentos de trading down juntamente com a pressão dos custos da energia mais elevados, contribuíram para uma erosão da margem de rentabilidade de 59 pontos base, para 9,4% em 2022 (9,7% no quarto trimestre)". Neste contexto, o EBITDA (resultados antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) subjacente foi de 563 milhões de euros, "registando uma evolução inferior às vendas".

Ao longo do último ano, a MC garante ter estado "ao lado das famílias, ajustando a sua proposta de valor para ir de encontro às necessidades dos seus clientes e investindo na expansão do seu parque de lojas de forma a levar os seus benefícios a um número crescente de pessoas", factores que conduziram "a ganhos de quota de mercado e ao reforço da sua posição de liderança em Portugal", contribuindo para que "o volume de negócios tenha atingido cerca de seis mil milhões de euros, um crescimento de 11,5% face ao período homólogo e de 9,6% em termos de LfL [do inglês like for like, ou universo comparável]".

Salienta, contudo, que "o crescimento do volume de negócios da MC ficou significativamente abaixo do aumento da inflação alimentar em Portugal, que no ano de 2022 foi de 13% (19,5% no último trimestre), demonstrando o compromisso assumido de apoiar as famílias na actual conjuntura".

No último ano, o investimento (capex) da MC ascendeu a 218 milhões de euros, incluindo 43 milhões de euros relativos a aberturas de lojas próprias, mais 65 novos espaços, e na remodelação de 33 lojas.

Prejuízo de 10 milhões no quarto trimestre

O volume de negócios consolidado da Sonae atingiu 7,7 mil milhões de euros, mais 10,9% em termos homólogos, “sustentado pelos sólidos ganhos de quota de mercado dos negócios devido ao reconhecimento do esforço para estar ao lado dos clientes e ao investimento na expansão dos negócios para levar os benefícios da sua oferta a um número crescente de pessoas, nomeadamente através do aumento do parque de lojas dos negócios de retalho”, lê-se na informação enviada à CMVM. Ainda de acordo com a fonte, as vendas online agregadas cresceram 17%, superando 700 milhões de euros, “demonstrando o sucesso da aposta no digital”.

Já a margem consolidada diminui em 41 pontos base, para 8,2%, com absorção de parte do aumento dos custos”, e “o EBITDA subjacente registou um desempenho inferior às vendas ao crescer apenas 6%, para 635 milhões de euros”.

O resultado líquido atribuível aos accionistas ascendeu a 342 milhões de euros, mais 27,7% que no exercício anterior. Excluindo itens não recorrentes, como a alienação de activos, o lucro caiu 17% em 2022, para 179 milhões de euros - com um prejuízo de 10 milhões de euros no quarto trimestre -, “penalizado pelo esforço em estar ao lado das famílias absorvendo parte da inflação", pelo aumento significativo dos resultado indirecto de -43 milhões de euros, na sequência das imparidades no negócio de retalho de moda, pela desvalorização dos activos da Sierra e pelo impacto cambial no valor dos activos da Bright Pixel.

Apesar da queda do resultado líquido, a proposta de remuneração aos accionistas melhora ligeiramente, com o Conselho de Administração a propor à Assembleia Geral Anual de Accionistas o pagamento de um dividendo de 0,0537 euros por acção (0,0511 euros no exercício anterior), o que corresponde a um dividend yield de 5,7%, com base na cotação de fecho de 31 de Dezembro de 2022 (que se situou em 0,935 euros).

A queda de margens também se verificou noutros negócios do grupo, como na Worten, cujas vendas aumentaram 7,9%, para 1,2 mil milhões de euros. “O investimento na transformação digital em curso e o aumento dos custos (sobretudo os custos de energia) durante o ano, conduziram a um EBITDA subjacente de 76,2 milhões de euros, o que representa uma ligeira redução face ao ano passado, com uma margem de 6,2%”. O mesmo se verificou ainda no sector da moda, com a Zeitreel a registar um crescimento de vendas de 12% em termos homólogos, para um total 387 milhões de euros (ainda abaixo de 2019),​ mas com uma redução de 0,9 pontos percentuais na margem, para 7%.

Investimento sobe e dívida desce

De acordo com a informação divulgada ao mercado, o investimento agregado do grupo ascendeu a mil milhões de euros em 2022, com o investimento consolidado a crescer 34%, para 634 milhões de euros, e o investimento operacional (capex) a crescer 28%, para 357 milhões de euros. “O desempenho operacional dos negócios, juntamente com a actividade de gestão de portefólio e os dividendos recebidos das participadas, conduziram a um Free Cash Flow (FCF) antes de dividendos pagos de 187 milhões de euros no final do ano. Desta forma, a dívida líquida consolidada diminuiu para 540 milhões de euros, o valor mais baixo deste século”, diz a Sonae. O grupo refere ainda que tem 1,3 mil milhões de euros de liquidez disponível.

No conjunto dos negócios do grupo, foram criados mais de 1200 postos de trabalho, com destaque para os negócios de retalho, elevando a mais de 48 mil o total de colaboradores nas empresas consolidadas integralmente.

O apoio à comunidade subiu 47%, para 31,3 milhões de euros, doados através de meios financeiros e géneros, a um universo de 1497 instituições.

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