DeSantis convidado a visitar a Ucrânia “para compreender as ameaças aos EUA”
Governador da Florida e provável candidato à eleição presidencial de 2024 nos Estados Unidos chamou à invasão russa “uma disputa territorial” entre a Ucrânia e a Rússia.
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O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Oleg Nikolenko, convidou o governador do estado norte-americano da Florida, o republicano Ron DeSantis — um provável candidato à Casa Branca em 2024 —, a visitar o país para "compreender com mais profundidade a escala da invasão russa e as ameaças que ela representa para os interesses dos Estados Unidos".
O convite do Governo ucraniano foi feito nesta quarta-feira, através da rede social Twitter, e é uma resposta do país à posição de DeSantis sobre o envolvimento dos EUA na guerra na Ucrânia — um tema que tem dividido os republicanos entre uma ala intervencionista, à imagem daquela que dominava o partido aquando das invasões do Iraque e do Afeganistão, no início do século; e uma ala isolacionista, que tem crescido desde a eleição de Donald Trump, em 2016, e que é herdeira dos republicanos que se opuseram ao envolvimento dos EUA na II Guerra Mundial.
Na noite de segunda-feira, em resposta a um questionário do apresentador Tucker Carlson, do canal Fox News, o governador da Florida referiu-se à invasão da Ucrânia como "uma disputa territorial" entre ucranianos e russos, e afirmou que a continuação do apoio norte-americano ao Exército ucraniano "não faz parte dos interesses vitais dos EUA".
"O 'cheque em branco' que a Administração Biden passou para financiar este conflito, 'pelo tempo que for necessário' e sem nenhum objectivo definido nem nenhum tipo de responsabilização, distrai-nos dos maiores desafios que ameaçam o nosso país", disse DeSantis, dando como exemplos "a insegurança nas fronteiras e o poder económico, cultural e militar do Partido Comunista Chinês".
DeSantis com Trump
Com esta declaração, o governador da Florida aproxima-se da posição isolacionista de Trump, que conquistou o partido, em parte, por ter apresentado ao eleitorado republicano, na campanha eleitoral de 2016, uma alternativa às intervenções militares norte-americanas das década anteriores, sob o slogan "Make America Great Again".
Segundo as sondagens, Trump e DeSantis representam, nesta altura, 75% das intenções de voto no Partido Republicano, com vantagem para o anterior Presidente dos EUA.
Outros candidatos e prováveis candidatos que defendem a continuação do apoio à Ucrânia até à derrota militar da Rússia (como Nikki Haley, antiga governadora da Carolina do Sul; Mike Pence, o anterior vice-presidente dos EUA; e Mike Pompeo, ex-secretário de Estado) não chegaram ainda aos dois dígitos em nenhuma sondagem.
A posição do governador da Florida sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia foi recebida com fortes críticas por senadores republicanos como Lindsey Graham e Marco Rubio, para quem a invasão ordenada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, representa uma séria ameaça à segurança nacional dos EUA.
Graham, em particular, comparou DeSantis — sem nomear o governador da Florida — ao primeiro-ministro britânico que ficou na História por ter tentado apaziguar Adolf Hitler em vésperas da II Guerra Mundial.
"A abordagem Neville Chamberlain nunca acaba bem", disse o senador republicano numa reacção às declarações de DeSantis. "Estamos perante uma tentativa de Putin para redesenhar o mapa da Europa através da força."
A divisão no Partido Republicano sobre o apoio à Ucrânia foi um dos assuntos das eleições intercalares de Novembro de 2022 para o Congresso norte-americano.
Na altura, o então líder da minoria republicana na Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, prometeu "deixar de passar um cheque em branco" ao Governo ucraniano se o seu partido conquistasse a maioria nessas eleições — o que veio a acontecer, apesar de a margem de vitória ter sido muito mais curta do que antecipavam as sondagens.
Declarações como as de McCarthy (o actual líder da Câmara dos Representantes) e de DeSantis (um forte candidato à Casa Branca, se e quando vier a declarar a sua candidatura) lançam a incerteza sobre a capacidade dos EUA para manterem o apoio à Ucrânia "pelo tempo que for necessário", como garante o actual Presidente dos EUA, Joe Biden; e deixam ainda mais claro o divórcio entre uma grande parte da base eleitoral conservadora e o Partido Republicano do período do pós-II Guerra Mundial até aos atentados de 11 de Setembro de 2001.