Marielle Franco e Anderson — cinco anos depois

Cinco anos depois do homicídio da activista e vereadora brasileira Marielle Franco, e do motorista Anderson Gomes, há muitas questões sem resposta. Persiste a dúvida: quem mandou matar Marielle?

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Marielle Franco foi assassinada há cinco anos Reuters

Marielle Franco destacava-se no plenário pela forma como abordava uma série de questões relacionadas com a violência no Brasil, em que não só mencionava dados específicos, sobretudo de violência nas favelas, como muitas vezes os nomes das próprias vítimas.

A sua defesa dos mais vulneráveis e respeito pelas individualidades trazia-lhe admiradores, por um lado, e, por outro, contestadores da sua voz. Exemplo disso foi no Dia da Mulher de 2018.

Marielle discursava sobre a luta das mulheres contra toda e qualquer forma de opressão e mencionava, mais uma vez, dados sobre a violência contra as mulheres, no Brasil. No entanto, no meio do discurso, ouviu-se um barulho/comentário feito por outro vereador, que justificou a posição de Marielle ao elevar a sua voz para dizer: “Não serei interrompida!”, frase que se tornou num símbolo daqueles que lutam para imortalizar o seu legado.

Facto é que, apenas seis dias depois, no dia 14 de Março de 2018, depois de uma reunião de mulheres designada de Jovens Negras Movendo Estruturas, Marielle e o seu motorista Anderson foram brutalmente assassinados com vários tiros, a caminho de casa.

A revolta e indignação da família e população brasileira, com repercussões em todo o mundo, transformaram o “luto em luta”, no sentido em que procuraram pressionar as autoridades por respostas e perpetuar o legado de Marielle.

Falar de Marielle Franco é, portanto, falar acima de tudo de uma voz e posição política humana e forte, de luta e defesa dos mais desfavorecidos e negligenciados na sociedade brasileira. Talvez por isso, ou também por isso, o actual Presidente do Brasil Lula da Silva instituiu, no passado dia 8 de Março, o Dia Nacional Marielle Franco de Combate à Violência Política de Género e Raça.

Nos últimos cinco anos, e através do Instituto Marielle Franco, foi criada a Casa Marielle, uma exposição permanente com o intuito de homenagear e manter viva a sua memória. Neste espaço, que conta com um acervo que mostra a trajectória política de Marielle Franco, a sua luta e conquistas, são também promovidas diversas actividades, como rodas de conversas em torno da negritude, feminismo e outros temas que eram caros à activista ou oficinas para jovens negras, LGBTQs e periféricas, entre outras.

Também no Rio de Janeiro, no dia 27 de Julho de 2022 (ano em que a activista completaria os 43 anos de idade), foi elevada uma estátua de Marielle, com um dos braços erguidos num punho cerrado, símbolo da luta por causas sociais.

Ainda com o incentivo deste instituto destaca-se lei aprovada em Agosto de 2021, no Brasil, contra a violência política, em particular, na defesa das mulheres negras, pois esta mesma violência dificulta ou impede que estas acedam e se mantenham em espaços de poder, afectando por sua vez a democracia.

No contributo de continuar a lutar pelos ideais que Marielle defendia há que assinalar, de forma muito destacada, a sua irmã, Anielle Franco, actual ministra da Igualdade Racial do Brasil. A existência deste ministério e a escolha da sua irmã para o cargo demonstra a intenção clara, ao mais alto nível, não só de não se esquecer o legado de Marielle, como, acima de tudo, de perpetuar, amplificar e consolidar o mesmo.

Há um conhecido provérbio que diz: “Tentaram-nos enterrar, não sabiam que éramos sementes”. Assim é com Marielle Franco. Esta semente continua presente e multiplica-se nos corações e nas acções daqueles que acreditam num mundo mais justo, igualitário e protector dos mais vulneráveis.

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