Recluso japonês está há 57 anos no corredor da morte. Agora, terá direito a novo julgamento

Iwao Hakamada, de 87 anos, foi condenado à morte em 1966, por uma confissão que diz ter sido obrigado a fazer.

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O Japão mantém até hoje a pena de morte por enforcamento REUTERS/TORU HANAI

O japonês Iwao Hakamada está há mais de metade da vida a aguardar a morte atrás das grades. Mas aos 87 anos, o homem há mais tempo no corredor da morte em todo o mundo vai ser de novo julgado.

Hakamada foi condenado à pena capital em 1966, por supostamente ter assassinado, à facada, o patrão e a família deste numa fábrica de processamento de soja em Shizouka. Antigo pugilista, terá confessado o crime após 20 dias de interrogatório – durante os quais foi espancado, denunciou mais tarde, ao retirar a confissão, segundo conta a Amnistia Internacional, que há vários anos tenta que o japonês volte a ter uma oportunidade de se defender em tribunal.

Quando voltou atrás com a confissão, Hakamada disse ter sido coagido pela polícia para assinar a admissão de culpa. Nas três semanas de interrogatórios intensos a que foi sujeito, terá sido espancado, ameaçado e forçado a confessar, disse então. Em Setembro de 1968, voltou a ser apresentado a tribunal, tendo sido apresentadas provas “questionáveis”.

“Dos 45 documentos apresentados pela acusação como confissões assinadas por Hakamada, apenas um foi aceite pelos juízes como sendo legitimamente assinado de livre vontade: os outros 44 foram desconsiderados. Apesar disso, foi considerado culpado dos quatro homicídios e condenado à morte”, lê-se num texto de 2015 da Amnistia Internacional, um ano depois de Hakamada ter sido temporariamente libertado da prisão com base em novas provas de ADN que abriram a porta para um novo julgamento.

As novas provas podiam indicar que quem investigou os quatro homicídios poderia ter plantado provas que incriminassem Hakamada. No entanto, a decisão de reabrir o caso acabou por ser revertida por um tribunal. Agora, um novo recurso levou o Supremo Tribunal do Japão a pedir uma reapreciação da decisão, desbloqueando o novo julgamento de Iwao Hakamada, quase 60 anos depois de ter sido condenado à morte.

“Estou há 57 anos à espera deste dia, e chegou”, disse a irmã de Hakamada, Hideko, de 90 anos, citada pela BBC, dizendo ser um “peso finalmente retirado dos ombros”.

A Amnistia Internacional diz que a decisão “apresenta uma oportunidade há muito esperada de fazer justiça a Iwao Hakamada, que passou mais de meio século sob pena de morte, apesar da injustiça gritante do julgamento que o viu condenado”.

"A condenação de Hakamada foi baseada numa ‘confissão’ forçada, e existem sérias dúvidas sobre as outras provas utilizadas contra ele. No entanto, aos 87 anos de idade, ainda não lhe foi dada a oportunidade de contestar o veredicto que o manteve sob a ameaça constante da forca durante a maior parte da sua vida”, relembra a Amnistia.

O Japão mantém até hoje a pena de morte por enforcamento. Há cerca de 100 reclusos no "corredor da morte", onde podem aguardar várias décadas pela execução, que surge sem aviso prévio.

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