China escolhe general alvo de sanções dos EUA para ministro da Defesa
Xi Jinping rompeu com a tradição e manteve os mesmos nos principais cargos económicos, mas entregou a Defesa ao general Li Shangfu, para continuar a modernizar o Exército chinês.
A China reconduziu o ministro das Finanças e o governador do banco central nos cargos na sessão deste domingo da reunião anual do Parlamento, priorizando a continuidade face aos desafios económicos internos e externos. Ao mesmo tempo, a Assembleia Nacional Popular aprovou a nomeação para a Defesa do general Li Shangfu, a que Washington aplicou sanções em 2018 por comprar armas à Rússia.
O Presidente Xi Jinping, que tem vindo a nomear aliados para os principais cargos na remodelação governamental para o seu terceiro mandato de cinco anos, rompeu com a tradição do limite de idade e manteve Liu Kun, de 66 anos, como ministro das Finanças, e Yi Gang, de 65 anos, como governador do Banco Popular da China. Tal como Xi, de 69 anos, os dois homens já superaram a idade oficial de reforma, que é de 65 anos.
Tal como Li Shangfu, que com 65 anos também deveria aposentar-se agora, mas foi nomeado para liderar um ministério que recebeu um reforço orçamental de 7,2% para 2023, depois de já ter sido aumentado em 7,1% em 2022, numa altura em que crescem as disputas na zona do Indo-Pacífico e em que Pequim vai tentar dar mais alguns passos em direcção ao objectivo de Xi Jinping de integrar Taiwan na China.
Engenheiro aeroespacial que trabalhou no programa de satélites chinês, Li foi vice-comandante da Força de Apoio Estratégico, quando esta foi criada em 2016 para desenvolver as capacidades do país para a guerra informática e espacial, e depois chefe do Departamento de Desenvolvimento de Equipamento da Comissão Militar Central, que é dirigida pelo próprio Xi.
“A experiência operacional e tecnológica do próximo ministro da Defesa é especialmente pertinente tendo em conta o objectivo do Exército de Libertação do Povo de se tornar uma força militar de classe mundial em 2049”, disse à Reuters James Char, director da Escola de Estudos Internacionais Rajaratnam, em Singapura.
“Penso que foi promovido a esta posição porque cumpriu aquilo que foi pedido por Xi Jinping em áreas-chave de modernização”, afirmou, por seu lado, Alexander Neill, do think tank Pacific Forum, do Hawai, citado pela mesma agência.
Em 2018, quando os Estados Unidos impuseram sanções ao Departamento de Desenvolvimento de Equipamento, por adquirir armas à Rússia, incluindo caças Su-35 e sistemas de mísseis terra-ar S-400, incluíram Li Shangfu na lista.
Continuidade na economia
A sessão deste domingo do Parlamento trouxe menos mudanças do que as antecipadas, com a maioria dos ministros a manter os seus cargos. No entanto, esperam-se novos anúncios nas próximas semanas, à medida que o país for implementando a reorganização da estrutura regulatória financeira, bem como de outras áreas do Governo.
A maior das surpresas talvez tenha sido a continuação do governador do banco central. Formado nos Estados Unidos, era esperado que Yi Gang se reformasse agora, depois de ter sido deixado de fora do Comité Central do Partido Comunista Chinês, no congresso do partido realizado em Outubro.
“Optar pela continuidade nestes cargos económicos fundamentais sugere uma ênfase na credibilidade e na estabilidade”, disse à Reuters Mattie Bekink, directora para a China da Economist Intelligence Corporate Network.
“É também, provavelmente, um reconhecimento tácito dos desafios que Pequim enfrenta nesta altura”, acrescenta. “O verdadeiro desafio para o terceiro mandato da Administração Xi é o de saber se vai resolver os desequilíbrios estruturais da economia chinesa e realizar as reformas necessárias para garantir a competitividade da China a longo prazo.”
O Governo estabeleceu para 2023 uma meta de crescimento económico de 5%, uma subida em relação aos 3% do ano passado, o mais fraco desempenho em décadas.
O director do instituto de estatísticas chinês, Kang Yi, disse este domingo na sessão parlamentar, citado pela imprensa oficial, que a economia chinesa ainda mantém “contradições” e “problemas” estruturais profundos.
Os governantes chineses enfrentam o desafio de voltar a pôr nos eixos a economia depois de três anos de restrições por causa da pandemia de covid-19, um fraco ambiente empresarial e de consumo e as relações cada vez mais hostis com o Ocidente, com muitas multinacionais à procura de proteger a sua exposição na China.