Dia Internacional da Mulher: é preciso escrever uma nova história
O 8 de março deve servir para falar, expor ideias e ensinar aos mais novos a respeitar e a valorizar homens e mulheres de igual forma, mudando crenças erradas.
Comemorou-se no passado dia 8 de março o Dia Internacional da Mulher, uma data que foi formalmente estabelecida pela ONU em 1975, e que pretende reivindicar melhores condições sociais, de igualdade e de liberdade para as mulheres.
Em vários pontos do mundo foram realizados protestos em que as mulheres pretendiam chamar atenção para a persistente submissão a que são sujeitas em várias esferas, desde a social até a económica e psicológica.
Neste dia, as mulheres não querem receber flores nem um convite para jantar fora, considerando que esta não é uma data para esse tipo de agrado. Procuram, sim, mostrar que são mães, trabalhadoras, cuidadoras e continuam a ter uma sobrecarga maior do que a dos homens.
As flores não têm servido para mudar a realidade das mulheres que inclui discriminação, desigualdade social, dificuldades e injustiças. No dia seguinte a um jantar fora de casa, tudo volta a ser como sempre foi — e até em dose dupla, dado o que se acumula do dia anterior.
Tudo aquilo que já foi conquistado ao longo de muitos anos, como, por exemplo, o direito ao voto e a trabalhar fora de casa, parece frágil, visto que em 2023 continuamos a assistir a raparigas a serem impedidas de ir à escola, a serem julgadas porque são mães solteiras ou a serem obrigadas a permanecer numa relação violenta por falta de meios de subsistência.
Em Portugal, houve evolução em termos de direitos e de igualdade de género, sem dúvida, porém, a igualdade plena está longe de ser alcançada. As mulheres ganham menos, são rejeitadas em cargos de decisão e são maltratadas recorrentemente. Vejamos, estamos em março e, só este ano, já morreram três mulheres fruto de violência doméstica.
As leis podem mudar, mas a prática e os pensamentos não estão a acompanhar a evolução dos tempos, sendo fundamental a sua aplicação efetiva ao nível da fiscalização.
Almejamos por um Dia Internacional da Mulher em que se possa comemorar o fim da violência de género, o respeito diário e a igualdade de oportunidades em diferentes áreas que continuam a ser marcadamente masculinas (por exemplo, a política, o desporto).
Poderemos, sim, comemorar, quando as tarefas e obrigações de casa, que a sociedade continua a insistir que são delas, passem a ser da família; quando as empresas respeitarem e valorizarem todos os trabalhadores, homens e mulheres, de igual forma, igualando o seu salário; quando uma mulher puder sair à rua com a roupa que quiser sem ser assediada, criticada ou correr o risco de ser sexualmente agredida “porque pôs-se a jeito com aquela minissaia ou porque está na rua em horas mais tardias”.
O 8 de março deve servir para falar, expor ideias e ensinar aos mais novos a respeitar e a valorizar homens e mulheres de igual forma, mudando crenças erradas. Este dia pode e deve ser o dia em que, em família, se fale sobre a igualdade de direitos e deveres, mostrando que a desigualdade resulta de uma acumulação de fatores que geram um ciclo vicioso que todos devemos quebrar; o dia em que os pais salientem as experiências e contributos das mulheres nas mais variadas áreas da sociedade; o dia em se repudie a violência de género; o dia em que se comece a formar uma mudança de mentalidades naqueles que irão construir a sociedade do futuro.
Aos homens cabe fazer a diferença, quebrando velhos costumes através do exemplo, procurando ser parceiros que vejam as mulheres como iguais e que dividem verdadeiramente as tarefas e as obrigações da casa e com os filhos, que respeitem a carreira e os direitos das mulheres e que ajam contra as convenções sociais que as diminuem procurando retirá-las do papel secundário que ainda persistem.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990