Os cães, os velhos e os ladrões
Todos os dias continuo a saber de avós de outros netos a quem as mãos são presas em lares.
Era avô de um grande amigo e, sempre que me encontrava na rua, fazia questão de me cumprimentar com exuberância. Tratava-me por menina e dizia coisas que pareciam saídas directamente do século XVIII. Aliás, todo ele parecia existir no século errado, com os seus coletes, um relógio de bolso preso com uma corrente de prata e uma bengala trabalhada que, tenho a certeza, usava mais por vaidade do que por necessidade. Mas sabem o que me deixava fascinada de verdade? O magnífico par de patilhas brancas que ostentava. Atrevo-me até a dizer que aquelas patilhas, meticulosamente aparadas no barbeiro do centro da vila, deviam ter recebido prémios porque, acreditem, eram uma imponente obra de arte.
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