My Year of Dicks, a curta nos Óscares que segue uma rapariga a tentar fazer sexo pela primeira vez
A curta-metragem My Year of Dicks, que vai ser transformada em série, acompanha uma rapariga que tenta perder a virgindade, mas só encontra idiotas.
My Year of Dicks, curta-metragem nomeada para o Óscar de animação, pode ser traduzida para português como "O Meu Ano de Pilas" ou "O Meu Ano de Idiotas" — uma opção mais apropriada para as aventuras de uma jovem de 15 anos.
De facto, ela está determinada a perder a virgindade, mas a verdade é que só encontra idiotas pelo caminho.
O filme de 24 minutos é baseado num livro de memórias sobre a adolescência da escritora norte-americana Pamela Ribon, hoje com 47 anos. "O título faz as pessoas darem uma risadinha, sem dúvida", conta à Folha, depois de Riz Ahmed se ter rido ao anunciar os nomeados para os Óscares.
My Year of Dicks passa-se no Texas, em 1991. O primeiro dick é um skater que se acha vampiro, faz-se de convidado para a casa da protagonista e, no fim, tem pavor de sangue. Depois, vem um francês charmoso e apressado que trabalha num cinema. Há ainda um rapaz obcecado pela pureza que se revela muito mais do que um simples idiota.
"Toda a gente já teve um ano de dicks, não?", pergunta Ribon, que está a trabalhar na adaptação da curta para o formato de série. "Acontece quando és ingénua, esperas por algo e acabas atropelada pela realidade de um bando de idiotas que não te deixam ter aquilo que sabes no fundo do coração que realmente queres", acrescenta.
Por ser animação, temas nem sempre fáceis, como o consentimento e a rejeição, são abordados com leveza e bom humor. Ribon escreveu o guião, realizado pela islandesa Sara Gunnarsdóttir e animado por oito artistas com estilos distintos. "Animação demora e é difícil de fazer, mas podemos elevar a história e manter o público num lugar seguro quando há coisas difíceis de ver. Também torna as coisas engraçadas."
Ribon tinha experiência com animação e trabalhou nos guiões de Moana, de 2016, e WiFi Ralph: Quebrando a Internet, de 2018. Mas fazer uma curta independente e pessoal foi diferente. "Pude trazer uma vulnerabilidade ao trabalho que, às vezes, obriga a um tempo que não existe em grandes produções", diz a autora. "Trabalhamos de casa, pelo Zoom, e tínhamos intimidade e liberdade, ao invés de fazer reuniões e mais reuniões."
A produção ficou a cargo de Jeanette Jeanenne, co-fundadora da Glas Animation, uma comunidade de animação independente. Ela explica que a curta é baseada em cenas com actores, filmadas com o telemóvel ou por Zoom, que foram transformadas em desenhos, uma técnica chamada rotoscopia, popularizada por Waking Life, de 2001.
"Fazemos referência à rotoscopia e juntamos outras combinações. Dá uma sensação de realidade e dá liberdade de movimento. É mais fluido", diz Jeanenne. "A maioria dos animadores, como eu, fez o curso de animação experimental da CalArts."
Um das histórias de My Year of Dicks mostra o pai de Ribon, talvez numa das cenas mais constrangedoras da história do cinema, quando ele resolve ter uma conversa franca sobre sexo, completamente sem noção do corpo feminino, com a filha adolescente. A animação vira basicamente um filme de terror.
"Poder transformar essa conversa em animação foi fenomenal, porque sei que foi a pior conversa sobre sexo do mundo", diz. "Com a animação, pude reviver todas as reacções que queria ter tido naquele momento, como vomitar, derreter, desaparecer."
Ribon tem uma filha de dez anos que fez uma cena do filme, como irmã da protagonista, embora ainda não tenha sido autorizada a assistir.
"Disse-lhe: ‘há coisas no filme que serão importantes para eu e tu assistirmos juntas’. Ela precisa de estar pronta para aquela conversa", afirma Ribon. "Neste momento, preocupo-me mais com o dia em que vão azucriná-la na escola por causa do nome do filme."
Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo
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