Habitantes do bairro do Talude em Loures travam demolição das barracas
Há famílias com crianças que construíram barracas no bairro de Catujal. A autarquia do Loures avisou que iria demolir estas habitações nesta segunda-feira.
Sete famílias no bairro do Talude, no Catujal, concelho de Loures, travaram nesta segunda-feira as máquinas que iam demolir as barracas e aguardam uma solução de habitação definitiva.
Em declarações à agência Lusa, o missionário da paróquia de Camarate José Manuel explicou que sete famílias foram notificadas de que as suas casas iam ser demolidas nesta segunda-feira, avançando que "ao certo há mais 20 ou 30 barracas, só que sete famílias é que receberam a ordem de demolição".
De acordo com o missionário, representantes do trabalho social da autarquia explicaram aos habitantes que "ainda não tinham uma solução [de realojamento] definitiva, mas só provisória", pelo que "as pessoas ficaram assustadas e mandaram chamar um representante da câmara".
Apesar de no local estarem as máquinas, a polícia e representantes da autarquia, as demolições ainda não tiveram lugar, dado que, de acordo com José Manuel, as pessoas "puseram-se à frente das máquinas e não as deixaram avançar".
"Agora [cerca das 11h40] estão todos reunidos", acrescentou.
A associação Habita denunciou nesta segunda-feira em comunicado divulgado cerca das 11h00 que sete famílias iam ser despejadas no bairro do Talude, Catujal, porque a Câmara Municipal de Loures ia demolir as suas casas.
Segundo a associação, a autarquia não tinha apresentado "qualquer alternativa de habitação adequada" e vai mandar "para a rua várias famílias com crianças".
De acordo com a Habita, em causa estão cinco agregados familiares, "com mulheres chefes de família que cuidam sozinhas dos filhos", incluindo-se no grupo "uma mulher grávida doente" que aguarda vaga para uma operação cardíaca, além de "um senhor idoso e muito doente, e também cinco menores de idade e dois recém-nascidos".
"A maioria são pessoas desempregadas em situação de procura de emprego. Mas há também mulheres empregadas formalmente cujo rendimento não é suficiente para aceder a uma habitação", refere a nota da associação.
Segundo a Habita, várias organizações estão presentes no local e opõe-se "à barbárie do sistema que apenas defende a propriedade e o lucro e atira as pessoas para situações cada vez mais insustentáveis de pobreza e para a rua".
A associação refere ainda que estas famílias, ao não terem conseguido encontrar uma opção de habitação "não tiveram outra alternativa que não fosse construir uma barraca".
"Este é o país que voltou a atirar as pessoas para situações em que não lhes resta outra opção que não a construção de barracas", pode ler-se na nota, que acrescenta que as famílias do bairro do Talude, "como todas as pessoas, têm de ter acesso a uma habitação adequada, não são elas as responsáveis de viverem numa barraca, mas as políticas que incentivam à inacessibilidade da habitação".
"Enquanto o governo nos entretém com o lançamento caótico e atabalhoado de medidas para habitação que falham redondamente por não abordarem os problemas fundamentais e as causas da crise de habitação, nem criarem medidas imediatas de estancamento da crise, os despejos e a emergência habitacional continuam a fazer-se sentir, e as pessoas são atiradas para a rua pelo próprio Estado", denuncia a Habita.
A Lusa tentou obter uma resposta da Câmara Municipal de Loures sobre o assunto, mas até ao momento não teve sucesso, tendo a autarquia remetido uma explicação para mais tarde.